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Entrevista realizada com Larissa Li

AMMS – O cenário em que vivemos alterou significativamente o modelo de trabalho. Em tempos de isolamento social, como saber se estamos sendo produtivos?

A pandemia acelerou com velocidade avassaladora o processo de transformação digital que já estava em curso. Repentinamente, empresas e seus colaboradores foram obrigados a se adaptar ou sucumbiriam. A boa notícia é que a tecnologia está a nosso favor e mostrou que está preparada para suportar o modelo de trabalho remoto. Por outro lado, como disse Adam Grant, não estamos trabalhando de casa, estamos em casa, tentando trabalhar, em meio a uma crise mundial sem precedentes.

Essa situação também acentua outra mudança de conceito: valor não é mais a informação em si, mas sua curadoria, assim como não mais a execução de uma tarefa e sim a capacidade de solucionar problemas. Isso muda significativamente o papel das lideranças e o estilo de cobrança que imprimem. O cenário de alta complexidade que vivemos, pede mais confiança, mais empatia e menos controle.

AMMS – Como fica a saúde mental durante o isolamento? E quais medidas podem reduzir o estresse dos funcionários?

Esse é um assunto muito delicado. Em primeiro, porque ainda existe um estigma muito grande ao redor da saúde (ou doença) mental e vivemos um aumento imenso nos casos de depressão, estresse, burnout, ansiedade, entre outros, mesmo antes do distanciamento social. Esse estigma faz com que tenhamos dificuldade de falar sobre o assunto e a tendência a procurar ajuda tardiamente.

O isolamento social imposto pela pandemia contribui imensamente para o aumento de casos, afinal, somos seres sociais. Mas não só o isolamento, o excesso de informações desencontradas e a insegurança gerada por uma situação completamente desconhecida, diretamente relacionada à nossa sobrevivência, nunca vivida e nem imaginada por nenhum de nós, trazem impactos emocionais muito significativos.

Criar canais de apoio que garantam a confidencialidade, assim como programas de suporte aos gestores, manter contato constante e transparente com todos e o compromisso com a transmissão de informação de qualidade, são medidas que ajudam a dar mais suporte nessa situação. Além disso, muitos planos de saúde estão oferecendo assistência psicológica aos seus segurados, de forma bem mais prática e confidencial através da telemedicina.

Todos nós estamos aprendendo juntos a criar ambientes que sejam mais saudáveis, colaborativos e inclusivos nesse momento e que, certamente, deixarão um legado importante.

AMMS – Como você enxerga a importância da mulher no contexto familiar neste momento?

É um momento que demanda tanta reinvenção e adaptação, que enxergo oportunidades imensas para a construção de um ambiente familiar saudável, tanto pela mulher, quanto pelo homem. Por isso, prefiro falar do aspecto humano. Não por desconsiderar a sobrecarga da mulher nesse momento, mas para não reforçar que essa é uma atribuição que só cabe a nós. A mulher não é, nem deve ser a única responsável pelo contexto familiar e as circunstâncias atuais nos mostram isso de forma muito concreta: a conta, simplesmente, não fecha. Isso ainda não é uma realidade, certamente, por isso mesmo é que temos que falar mais sobre importância da mulher nos contextos da ciência, da economia, da política, da tecnologia e tantos outros.

Estamos todos reconstruindo conceitos, a forma como atuamos no mundo e os impactos positivos ou negativos que cada um de nós pode gerar no núcleo familiar, na sociedade e no mundo.

AMMS – Você atua como Diretora de RH. Este é um momento que os RH’s estão lidando com muitos desafios. Quais dicas você daria para profissionais de RH no mercado de seguros?

Sim, é um momento muito desafiador. Digo que estamos atravessando uma ponte. Já não somos mais o que éramos, mas ainda não somos o que seremos e nem o sabemos. Esse cenário desconhecido é extremamente complexo, portanto, acredito que essa seja a hora da empatia, da conexão com o outro, da tolerância consigo e com os outros. Temos todos os desafios relacionados ao suporte à estratégia da companhia, às decisões de maior ou menor complexidade, mas a maior preocupação, nesse momento, deve ser com as pessoas. Devemos ser, mais do que tudo e mais do que nunca, humanos.

Larissa Li

Diretora de Gente e Gestão da THB Group Brasil. É formada em Psicologia, pela PUC-SP e possui cursos de Liderança Estratégica para Recursos Humanos pela Columbia Business School e Coaching pelo CTI Co-Active Coaching. Foi mentora de Recursos Humanos da Endeavor, área pela qual se apaixonou há mais de 15 anos, com sólidas atuações em empresas como Cia de Talentos e Credit Suisse Hedging-Griffo, de onde foi sócia responsável pela área de Recursos Humanos.

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