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Siderurgia teme China, Trump e eleições

A política protecionista de Donald Trump nos Estados Unidos, o comércio indireto com a China e as eleições na região são os principais pontos de alerta para a siderurgia na América Latina daqui para frente. Segundo executivos e especialistas presentes ao 58º Congresso Latino-Americano do Aço, porém, a perspectiva ainda é de crescimento do consumo.

Segundo a Worldsteel Association, entidade global do setor, os países latino-americanos devem ser os que mais aumentarão a demanda por aço em 2018. A alta, sobre o que se espera de consumo neste ano, seria de 4%, para 69,9 milhões de toneladas. A expectativa é que o Brasil veja expansão de 7%, para 19,7 milhões de toneladas, e o México cresça 3%, para 27,6 milhões de toneladas.

A expectativa é que a entrada dos importados siga em níveis perto de 35% na região, algo que a Associação Latino-Americana do Aço (Alacero, na sigla em espanhol) acredita poder mudar, com ações de defesa comercial, no caso do chamado “comércio desleal”, e com capacidade ociosa da região.

Para Jefferson de Paula, presidente da ArcelorMittal Aços Longos, é necessária atenção do setor à estratégia de transferência das exportações para manufaturados de aço. Entretanto, o executivo, que também preside a Alacero, vê avanço nas ações de redução da capacidade ociosa chinesa.

“Há dez anos que os chineses dizem que vão reduzir essa sobreoferta, mas agora nós finalmente vemos ações concretas nesse sentido”, declarou. “É de suma importância que o governo central continue a tirar do mercado empresas ineficientes, que muitas vezes são estatais e sabemos que a participação delas no comércio exterior não é leal.”

A Alacero vê com bons olhos a criação do fórum de excesso de capacidade do G-20, mas acredita ser necessário tomar alguma atitude a respeito da situação no curto prazo. Atualmente, há quase 730 milhões de toneladas em excesso no mundo.

O executivo, que discursou durante a abertura do evento, disse que apesar da retração dos preços do aço chinês nos últimos meses, a expectativa geral é de estabilidade daqui para frente.

Guillermo Vogel, diretor financeiro da fabricante de tubos Tenaris, do grupo Techint, disse que o potencial fim do Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta, na sigla em inglês) coloca em xeque a siderurgia da região. Ele lembra que não só a exportação aos EUA pode ficar comprometida, como a concorrência em outros países também se acirra.

Para ele, é importante modernizar o acordo, mas especialmente a indústria mexicana quer garantir que alterações não beneficiem demais os EUA.

Durante o evento da Alacero, Marcos Casarin, diretor de pesquisas em macroeconomia e investimentos da consultoria Oxford Economics, disse que a perspectiva econômica na América Latina é de um crescimento mais sustentável, apesar de menos rápido, e sem inflação. No lado político, vê 2018 como um “campo minado eleitoral”.

“Temos eleições a serem realizadas na Colômbia, no Chile, no Peru, no México e no Brasil”, lembrou o economista. “A Argentina referendou o caminho tomado nas eleições anteriores, mas México e Brasil trazem uma ameaça às reformas que foram propostas recentemente.”

Para Casarin, a eleição de 2018 no Brasil é uma “caixa preta”. Ele cita o potencial de retorno de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência como um risco “populista”, mas destaca o primeiro mandato do ex-presidente como amigável ao mercado. No caso de Jair Bolsonaro, Casarin o compara com Trump e diz que há uma possibilidade de vitória ao candidato, principalmente com o centro fragmentado.

Rafael Rúbio, diretor-geral da Alacero, julga ser essencial a manutenção das reformas econômicas que estão em curso na região atualmente, para que a economia siga um caminho de crescimento sustentável – o que impulsiona o consumo de aço. “Passada a turbulência, é possível que o PIB acabe superando as expectativas do FMI”, disse.

Fonte: Valor

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