Seguros de vida e previdência são essenciais para o futuro do país
O Brasil encontra-se diante de uma encruzilhada: de um lado, um setor segurador cada vez mais moderno, com avanços regulatórios reconhecidos globalmente; de outro, uma realidade que insiste em permanecer atrasada — poupança doméstica insuficiente, baixa penetração de seguros de vida e uma dependência crescente do gasto previdenciário público, que já consome mais de 51% das despesas federais. Essa combinação, para o especialista Nuno David, não é apenas um problema econômico: é uma barreira estrutural ao desenvolvimento do país.
Em uma série de cinco artigos inéditos, lançada com exclusividade para o mercado brasileiro, Nuno propõe uma reflexão urgente: transformar seguros de vida e previdência complementar em pilares de uma estratégia nacional de proteção financeira e investimento de longo prazo. No primeiro texto, “Previdência e Seguros de Vida como estratégia de desenvolvimento nacional: um caminho inadiável para o Brasil”, ele demonstra que o país já possui os alicerces técnicos— como o PDMS, a inscrição automática e a modernização regulatória — mas ainda não converteu esse avanço em Política de Estado, com metas, continuidade e governança interministerial.
A seguir, Nuno aprofunda os principais conceitos do artigo em um bate-papo direto com o Sonho Seguro, detalhando quais medidas podem gerar impacto imediato na poupança previdenciária das famílias, ampliar a inclusão securitária e fortalecer a capacidade de investimento do país.
1) Por que o Brasil ainda não transformou seguros de vida e previdência em uma política de Estado, mesmo já tendo um arcabouço regulatório tão avançado?
Porque ainda falta governança interministerial e metas oficiais. O setor evoluiu tecnicamente — temos o PDMS, o open insurance, a inscrição automática, uma SUSEP muito moderna — mas tudo isso segue fragmentado. Sem objetivos nacionais e accountability, perdemos potência.
2) O Brasil poupa pouco e, por isso, investe pouco. Qual é o impacto direto dessa baixa poupança sobre o crescimento?
Sem poupança de longo prazo, não há capital doméstico suficiente para financiar desenvolvimento. Dependemos mais do Estado e de dívida cara. O resultado é crescimento mais baixo, famílias mais vulneráveis e menos autonomia financeira.
3) Hoje, quase 52% das despesas finalísticas federais vão para previdência pública. Como a poupança privada pode aliviar essa pressão?
Quando o indivíduo acumula poupança previdenciária, ele reduz a dependência do Estado na aposentadoria. Isso libera espaço fiscal para saúde, educação e investimento produtivo. É um pacto intergeracional mais equilibrado.
4) O spread internacional em reservas previdenciárias é gigantesco: de 13,9% do PIB no Brasil contra mais de 190% na Holanda. Onde exatamente perdemos essa corrida?
Perdemos quando não percebemos que previdência e seguro de vida são motores de desenvolvimento, não apenas produtos financeiros. Países que entenderam isso investiram décadas em políticas de poupança com continuidade, acima de governos.
5) O que já funcionou muito bem no Brasil e precisa ser ampliado?
A inscrição automática. Ela elimina a barreira comportamental da decisão individual de poupar. No Brasil, já demonstrou aumento de até 13 pontos percentuais na adesão. Expandir isso para a previdência aberta teria impacto imediato e massivo.
6) Microprevidência e microsseguro com incentivos simples: que resultados você enxerga?
Uma revolução silenciosa. Estamos falando de incluir dezenas de milhões de trabalhadores informais na proteção de longo prazo. Pequenas contribuições — R$ 20, R$ 50 — mudam a trajetória de vida quando acumuladas por 20 ou 30 anos.
7) O crédito imobiliário acopla seguro obrigatoriamente. Que outras linhas deveriam seguir o mesmo caminho?
Crédito estudantil, microcrédito produtivo, financiamentos para MEIs e mobilidade. A proteção de renda nesses casos reduz inadimplência, protege a família e evita que um evento de vida se transforme em endividamento estrutural.
8) O setor está pronto, como você afirma. O que falta para todos caminharem no mesmo ritmo?
Coordenação nacional. Não basta cada instituição fazer seu melhor. Precisamos de uma estratégia formalizada que alinhe governo, reguladores e mercado com metas comuns e continuidade acima do ciclo político.
Fundos previdenciários financiando infraestrutura: onde estão as maiores oportunidades no curto prazo?
Energia, saneamento, mobilidade e crédito estruturado. São áreas com impacto social enorme e retorno de longo prazo compatível com passivos previdenciários. A OCDE mostra isso com clareza.
Se pudesse priorizar apenas uma das “dez medidas de curto prazo”, qual seria e por quê?
A primeira: Instituir a Estratégia Nacional de Proteção Financeira e Previdenciária. Porque ela organiza todas as demais — define metas, cria governança, reporta ao Congresso e dá continuidade às políticas. Sem ela, avançamos, mas sem direção comum.
Fonte: Sonho Seguro – Denise Bueno
