Resseguros aguardam benefícios com disciplina
abertura do resseguro tem gerado muito debate, principalmente no que diz respeito aos modelos de transferência de riscos, regras para o mercado aberto e novos participantes que virão ao mercado.
Em contrapartida, os benefícios com o fim do monopólio de resseguros vão muito além da mudança dos processos. Tão importante quanto permitir que a seguradora distribua os riscos de forma mais equilibrada na sua carteira, a abertura promoverá a transferência de conhecimento, a inovação e a possibilidade de adequação às novas regras de solvência, recém-estabelecidas pela Superintendência de Seguros Privados (Susep), que entram em vigor em de janeiro de 2008.
A transferência de conhecimento será fundamental para o desenvolvimento do mercado segurador brasileiro. Um exemplo disso seria o seguro para uma termelétrica. As resseguradoras enviam para as seguradoras uma relação de riscos, com as turbinas termelétricas aprovadas e reprovadas pelo seu corpo técnico.
Essa avaliação compreende todas as especificações das turbinas, o estágio do avanço tecnológico, se são protótipos, a fabricante, enfim, os aspectos mais importantes relacionados ao risco.
Ou seja, as companhias resseguradoras transferem o conhecimento para que as seguradoras trabalhem em cima dessa base de dados.
Essa relação tende a se acentuar com a abertura do mercado, já que as resseguradoras têm interesse em ter técnicos bem preparados nas seguradoras, para analisar o risco de acordo com os melhores critérios técnicos internacionais e, conseqüentemente, diminuir os riscos da sua própria operação.
Outro pilar é a inovação que a abertura de resseguro promoverá. As grandes resseguradoras possuem equipes de pesquisa e desenvolvimento para fazer o levantamento de novos mercados de atuação, a fim de que as seguradoras possam distribuir produtos no novo mercado e, futuramente, transfiram os riscos da operação.
No Brasil, uma grande resseguradora avaliou os riscos do cultivo de uva e maçã no Sul do País para a criação do seguro rural ou agrícola. Outra atualmente estuda as oportunidades em microsseguros, que são coberturas destinadas aos consumidores de baixa renda, mercado que tende a crescer muito no Brasil nos próximos anos.
Essas melhorias serão gradualmente percebidas pelos clientes, visto que o seguro vai aos poucos se tornar mais eficiente. Se seguirmos a lógica de mercado, poderemos colocar em prática produtos amplamente difundidos nos outros países, como os pacotes compreensivos em riscos de engenharia que integram desde o início do transporte dos equipamentos até a operação, incluindo construção, equipamentos e responsabilidade civil.
Por fim, mas não menos importante, a abertura do resseguro também poderá facilitar a adequação às novas regras de solvência, principalmente no que diz respeito às pequenas e médias seguradoras.
Para se adequar à solvência, algumas seguradoras abriram capital – fizeram Initial Public Offering (IPO), sigla em inglês, ou oferta inicial de ações -, enquanto outras obtiveram aporte estrangeiro da matriz.
Poucas têm levantado a possibilidade de alavancar seu capital por meio das resseguradoras, transferindo o risco e liberando das regras de solvência o capital mínimo exigido pela Superintendência de Seguros Privados (Susep).
É uma alternativa aos custos de captação via bancos à medida que passam a fazer negócio com um player do próprio mercado.
Esses são apenas alguns dos benefícios que a abertura trará ao mercado brasileiro. De qualquer forma, é de grande importância que nos miremos nos exemplos de outros países que passaram por processos similares de abertura – como a China e a vizinha Argentina -, para entendermos que esse processo tem de ser conduzido com disciplina.
Guardadas as respectivas particularidades, a abertura na Argentina desencadeou uma corrida desenfreada por crescimento em prêmios por parte das resseguradoras, deteriorando as condições técnicas e atuariais, tão importantes para a estabilidade mercadológica.
A seriedade imprimida pela Susep à condução do processo certamente vai gerar as condições necessárias a uma abertura bem-sucedida, com benefícios a todos os participantes do mercado.
kicker: Exemplos de abertura por outros países aconselha prudência
Fonte: Gazeta Mercantil