Resseguro

Resseguro global: agências de rating soam o alarme

O setor de resseguro entra em setembro com dois encontros anuais decisivos: o Rendez-Vous de Monte Carlo (até quarta-feira, 09 de setembro) e a Reunião de Baden-Baden (19 a 23 de outubro). Mais do que fóruns de networking, os eventos definem as narrativas que guiarão as negociações de renovação de contratos em janeiro de 2026 — e este ano o pano de fundo é marcado por abundância de capital, preços em queda moderada e crescente pressão competitiva.

Na véspera do encontro em Monte Carlo, as principais agências de rating ajustaram suas perspectivas para o setor:

AM Best mantém visão positiva, mas alerta para desafios persistentes: inflação social, mudanças climáticas, tensões geopolíticas e cadeias de suprimento pressionando custos e volatilidade.

Moody’s reduziu sua perspectiva para estável, citando queda de preços e excesso de capacidade, inclusive com influxo de capital em ILS e cat bonds, embora reconheça que os retornos ajustados ao risco seguem atrativos.

S&P Global Ratings mantém outlook estável, prevendo queda de até 5% em linhas de curto prazo no próximo ciclo, mas projeta que resseguradores tentarão preservar termos e condições.

Fitch foi a mais dura: rebaixou o setor para deteriorando, prevendo margens pressionadas por preços mais baixos e custos crescentes de sinistros.

Apesar das diferenças de linguagem, todas convergem em um ponto: o mercado saiu do pico de precificação observado em 2023–24 e vive agora um ciclo de acomodação, em que a disciplina dos players será testada. No Fairmont Monte Carlo, os painéis já dão o tom do que será discutido globalmente:

Soluções de legado e capital: o mercado de “legacy” deixa de ser apenas mecanismo de saída de carteiras antigas e passa a atuar como fonte de liquidez, gestão de volatilidade e apoio ao crescimento de seguradoras e resseguradoras.

Geopolítica e investimentos: especialistas debatem como conflitos e rupturas comerciais afetam os portfólios de risco e a alocação de capital.

Dados como ativo estratégico: sem governança de dados robusta, investimentos em IA podem se perder. Consultorias defendem que analytics, automação e precificação dependem de bases sólidas para entregar resultados.

Riscos cibernéticos: novos modelos de catástrofe buscam capturar riscos sistêmicos até agora negligenciados, permitindo decisões mais informadas em nível de conselho.

Tecnologia satelital: o uso de radares SAR promete acelerar a resposta a catástrofes (furacões, enchentes, incêndios) com dados de alta resolução em até 24 horas, reduzindo perdas e melhorando a experiência do segurado.

IA em mercados emergentes: sessões exploram tanto o potencial de transformação em regiões como Ásia Central (com destaque ao Uzbequistão), quanto casos práticos de como a tecnologia já vem acelerando cotações e melhorando a rentabilidade em underwriting.

Se Monte Carlo é tradicionalmente mais voltado a tendências e posicionamento de mercado, Baden-Baden concentra as negociações de renovação de contratos de resseguro para o ciclo seguinte. Na edição de 2025, a programação, com simpósio organizado pela Guy Carpenter, deve ampliar discussões sobre:

condições de mercado em meio a perdas elevadas de catástrofes,

modelos de capital alternativo,

papel dos resseguradores frente ao risco climático e cibernético,

estratégias de crescimento em mercados da América Latina, África e Ásia

Os encontros acontecem no momento em que o capital global de resseguro atinge níveis recordes — US$ 805 bilhões no 1º semestre de 2025, segundo a Gallagher Re —, mas a rentabilidade ainda é pressionada pela volatilidade climática, disputas geopolíticas e necessidade de investimentos massivos em tecnologia.

Fonte: Sonho Seguro – Denise Bueno

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