Pesquisa indica que as mulheres são 56% dos profissionais do mercado
Uma pesquisa da Escola Nacional de Seguros indicou que as mulheres representam 56% dos profissionais da área, contra 44% de homens. Nos cargos executivos, a participação feminina cai para 28% e a dos homens sobe para 72%.
Esses números conversam com todo o mercado de trabalho. Segundo um estudo do IBGE, mulheres com ensino superior completo recebem cerca de 63% do que os homens na mesma situação. Já, de acordo com uma pesquisa do Instituto Ethos, realizada em 2016, pessoas negras ocupam apenas 6,3% de cargos na gerência e 4,7% no quadro executivo, embora representem mais da metade da população brasileira.
O setor de seguros, em especial, é um dos mais conservadores e atrasados no que diz respeito a igualdade, afirma Alexandre Passarello, fundador da Corretora Inclusiva.
Se analisarmos as seguradoras, podemos contar nos dedos quais têm mulheres, LGBTQI+, negros, deficientes, tatuados e/ou anões em seus quadros diretivos e/ou presidência e/ou gerência, continua.
Para ele, não são discutidos temas de inclusão na maioria das companhias do setor. O assunto é um tabu que ainda deve ser colocado em pauta em reuniões, não só com a base, e sim com todos os pilares, começando pelo topo, diz.
O executivo aponta que outra medida que deve ser colocada em prática é a análise de temas delicados, como a disponibilização e autorização do uso do banheiro feminino para transsexuais, além de oportunidades em seleções de igualdade. Deve haver cotas em todas as áreas para que se diminua a desigualdade e, também, palestras sobre o tema, além da distribuição de cartilhas e informativos para alertar sobre os casos de assédio e discriminação, propõe Passarello.
Um estudo com 170 empresas realizado pelo Hay Group no Brasil identificou que apenas 5% das empresas brasileiras procuram saber como seus funcionários percebem o ambiente de diversidade no dia a dia de trabalho.
Na Europa e em países desenvolvidos, o número chega à casa dos 20%. É necessário que as empresas percebam a realidade de hoje, que é a heterogenia. É preciso que elas estejam ligadas às tendências da sociedade e de seus colaboradores. Por isso, precisam realizar a troca de boas práticas para construir um setor mais inclusivo e diverso, salienta Marusia Gomez, CEO da Ikê Assistência Brasil. Companhias que exercitam a diversidade tendem a ter melhor desempenho que as que não o fazem, diz.
O estudo do Hay Group ainda mostrou que aproximadamente 76% dos funcionários das empresas que se preocupam com a diversidade reconhecem que têm espaço para expor suas ideias e inovar no trabalho. Já nas empresas que não têm a diversidade como pauta da agenda, esse número cai para 55%.
Companhias com altos índices de diversidade de gênero e etnia têm 33% mais probabilidade de obterem resultados financeiros acima da média do seu segmento, revela a executiva. Ela ainda reforça que, nas empresas onde a diversidade é reconhecida e praticada, a existência de conflitos chega a ser 50% menor do que em outras organizações. Temos um turn over de apenas 4% na Ikê. Isso é resultado da nossa política de diversidade e inclusão, comemora.
Segundo relatório do Grupo Gay da Bahia (GGB), no 1º quadrimestre de 2017, 117 pessoas foram assassinadas por causa de discriminação sexual no País. O número representou um crescimento de 18% em relação ao mesmo período em 2016. A realidade é que o Brasil é um dos países que mais mata homossexuais no mundo (1 a cada 25 horas), de acordo com o relatório.
Vale lembrar que, em novembro de 2018, foi criado o Instituto para a Diversidade e Inclusão no Setor de Seguros (IDIS). Estamos todos otimistas em relação ao Instituto, pois ele vista promover a troca de ideias e boas iniciativas dentro do nosso mercado, lembra Marusia.
Produtos
O mercado vem, aos poucos, incluindo produtos específicos para minorias em suas carteiras. Hoje, há seguros com coberturas voltadas especificamente para as mulheres e o público LGBTQI+, por exemplo.
Mas, para Passarello, ainda há muito o que se explorar. Foram criados produtos com o objetivo de diminuir a desigualdade e a discriminação, mas que não foram bem divulgados. Ele acrescenta que a métrica usada para o desenvolvimento e adaptação de produtos existentes para esse público deveria ser desenvolvida por pessoas que se incluem e se enquadrem no perfil, ou seja, produtos para mulher, feito por mulheres; para LGBTQI+, profissionais que se reconhecem como tal; para deficientes e negros, idem. Passarello diz também que, como LGBTQI+, entende que as apólices de todos os ramos deveriam ter o campo Nome Social, para que uma transsexual/travesti não se sinta constrangida e desconfortável em relação aos funcionários das seguradoras ou aos próprios corretores.
Entre outras coisas, o executivo sugere também que nos seguros para deficientes haja atendimentos especiais como guincho com acessibilidade, táxis adaptados para esse segurado etc. Já no atendimento às mulheres, deve-se priorizar profissionais também do sexo feminino, inclusive para minimizar o efeito descortês que alguns homens praticam durante a abordagem, explica.
A sociedade está cobrando e iniciando um movimento de mudanças. É possível que o setor de seguros acompanhe essa caminhada, opina Marusia. Na Ikê, por exemplo, 54% do quadro de funcionários é composto por mulheres. Esse percentual sobe para 66% na alta gestão e eu sou uma CEO mulher. Somos uma prova de que é viável e eficiente, finaliza.
Fonte: revista Apólice