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Núcleos e serviços do IPCA despencam

O comportamento do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) tem sido extremamente benigno nos últimos meses, mostrando inflação em forte queda, num movimento que não se restringe a alimentos. Medidas que buscam retratar a tendência de curto prazo exibem números surpreendentes, na casa de 3%, como o da média anualizada de três meses dos núcleos e dos serviços do IPCA, feito o ajuste sazonal. O recuo da inflação tem sido bastante disseminado, abrindo espaço para o Banco Central promover quedas expressivas dos juros, num ambiente em que o mercado de trabalho continua em deterioração.
Nas contas do Bradesco, em fevereiro, a média de três meses de cinco núcleos do indicador ficou em 2,98% na taxa anualizada e dessazonalizada. Um ano antes, essa mesma medida exibia uma alta de 8,02%. Os núcleos buscam reduzir a influência dos itens mais voláteis. O chamado núcleo por exclusão, por exemplo, elimina preços administrados e alimentos, enquanto o de médias aparadas sem suavização exclui as 20% maiores altas e as 20% maiores quedas. No acumulado em 12 meses, a média dos cinco núcleos está em 5,36%.

O desempenho dos preços de serviços também tem sido favorável, como destaca o economista Leandro Negrão, do Bradesco. A média de três meses encerrados em fevereiro desse grupo atingiu 3,3%, em termos anualizados e descontados os fatores sazonais. Um ano antes, essa média tinha ficado em 6,8%. Já no acumulado em 12 meses, a alta é de 6,1%.

Segundo Negrão, as médias dos últimos meses buscam extrair a tendência de curto prazo dos índices de preços. “O dado mensal tem um comportamento muito volátil”, diz ele, ao justificar por que o cálculo é feito com base na média de três ou de seis meses. O ajuste sazonal visa eliminar o efeito localizado do comportamento dos preços de alguns bens ou serviços que ocorre em determinados períodos, afirma Negrão.

“Utiliza-se a média de três meses para ter uma ideia mais clara da tendência da inflação na ponta [a trajetória mais recente], mas sem a volatilidade do último dado”, diz o economista Caio Napoleão, da MCM Consultores. Ele ressalta também o desempenho favorável da inflação subjacente de serviços, medida apresentada há alguns meses pelo Banco Central, que exclui os grupos de turismo, serviços domésticos, cursos e comunicação.

Com isso, o indicador busca oferecer um retrato mais preciso da trajetória dos serviços, ao eliminar itens menos sujeitos à variação da atividade econômica. Nos cálculos da MCM, a média dos três meses até fevereiro da inflação subjacente de serviços ficou em 2,6% em termos anualizados e dessazonalizados, bem abaixo dos 6,8% registrados um ano antes, na mesma base de comparação.

Negrão diz que o recuo da inflação tem sido ajudado pelo comportamento favorável dos preços de alimentos, mas a análise dos núcleos e dos serviços deixa claro que se trata de um fenômeno mais “espalhado”. A média dos últimos três meses dos cinco núcleos acompanhados pelo Bradesco não ficava abaixo de 3% desde 2006, observa ele.

Com uma queda mais disseminada da inflação, o banco fica mais confiante em sua projeção de que o IPCA ficará neste ano em 3,9%, bastante abaixo da meta de 4,5%. Para a Selic, a projeção é de que os juros terminarão 2017 em 8,5% ao ano – hoje, a taxa está em 12,25%.

Negrão mudou neste mês sua projeção para o IPCA de 2017, de 4,2% para 3,9%, devido à revisão das estimativas para preços de alimentação no domicílio, serviços e preços administrados (como tarifas públicas). O economista espera que a alimentação no domicílio tenha alta de apenas 1,5% no ano – antes, a projeção era de 2,5%. Para o grupo de serviços, Negrão reduziu a variação esperada de 5,2% para 4,9%. No caso dos preços administrados, a estimativa caiu de 5% para 4,8%. A MCM reduziu a sua previsão para o IPCA cheio neste mês de 4,8% para 4,5%, vendo a Selic em 9,5% no fim do atual ciclo de afrouxamento monetário.

A perspectiva positiva para a safra explica o comportamento benigno dos preços de alimentos, diz o economista do Bradesco. O panorama complicado para o mercado de trabalho, com a expectativa de que o desemprego ainda deva piorar, aponta uma pressão baixista sobre os preços de serviços e os núcleos, segundo Negrão. Para completar, as expectativas de inflação ancoradas para este ano e para os próximos contribuem para os indicadores ficarem sob controle.

O presidente do Banco Ribeirão Preto (BRP), Nelson Rocha Augusto, também vê um cenário bastante favorável para a inflação em 2017, estimando que o IPCA vai terminar o ano em 4,2%. Ele aponta diversos fatores que explicam as perspectivas mais benignas para os índices de preços, como a forte queda do nível de atividade e do nível de emprego, o impacto positivo da safra agrícola, o controle de gastos pelas três esferas de governo e o fato de não haver mais desalinhamento de preços relativos, como o câmbio e os preços administrados. “É um cenário muito camarada para as perspectivas inflacionárias”, diz ele.

 

Fonte: Valor

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