No Brasil, LOréal entra no varejo com a Kiehls
LOréal Brasil começa o ano com movimentos inéditos na trajetória da subsidiária. Um deles será a entrada no varejo. Vai abrir sete lojas até dezembro e a previsão é de chegar a 50, em quatro anos. As lojas irão vender apenas a linha de luxo Kiehl s, importada dos Estados Unidos.
Com fábricas no país há mais de 50 anos, o grupo francês atua com 23 famílias de produtos no mercado brasileiro, dos quais 95% são produzidos localmente.
Outra novidade é o foco na pesquisa científica da biodiversidade brasileira, com o objetivo de produzir matéria-prima para cosméticos e perfumes. Os estudos serão desenvolvidos no novo centro de pesquisas da LOréal, no Rio, anunciado em dezembro.
“Destinamos R$ 150 milhões apenas para infraestrutura nos próximos dois anos. E [desse total] R$ 70 milhões serão só para o novo centro de pesquisas”, diz ao Valoro francês Didier Tisserand, que assumiu a presidência da subsidiária brasileira em setembro. O plano de R$ 150 milhões também considera R$ 40 milhões para ampliar a capacidade de produção das duas fábricas (em São Paulo e no Rio).
O engenheiro, que está há 21 anos na LOréal, é casado com uma ex-colega de trabalho, alemã. O casal tem duas gêmeas inglesas e uma caçula, nascida no Japão. Ele veio do comando da empresa na Espanha. E diz que a transferência ao Brasil foi um misto de definição da matriz e da vontade que alimentava de trabalhar em um dos países que formam os Brics.
No Brasil, a empresa cresceu “mais de 10%” e fechou o ano passado com faturamento de R$ 1,8 bilhão. Com a crise na Europa e retração do mercado americano, o Brasil ganhou mais peso no grupo.
Tisserand não aceita provocação quando o tema é concorrência, mas, ao que tudo indica, o grupo francês, com faturamento no ano passado de 20,3 bilhões, quer crescer em todos os segmentos de produtos de beleza no Brasil. Vai entrar em nichos onde a também francesa LOccitane atua com lojas bonitas e cheirosas. E também vai disputar com as nacionais Natura e O Boticário.
“Queremos ampliar os produtos para o país e para as brasileiras. Impressionante como a mulher brasileira vive a beleza. Elas fazem um movimento com os cabelos, com sensualidade. O cabelo é a principal preocupação da mulher brasileira”, diz em bom português, ora com uma ou outra palavras em espanhol e italiano, herança dos idiomas dos países onde trabalhou.
Tisserand já esteve em Porto Alegre e agora vai visitar Recife. “Queremos ver como as mulheres se tratam. Vamos a muitas partes do país pois aqui as mulheres, dependendo da região, têm gostos diferentes, usam perfumes diferentes”, observa.
Ele visitou favelas cariocas e fala, impressionado: “No Complexo do Alemão há 350 salões de beleza, oferecem produtos e técnicas de qualidade”, diz, referindo-se ao conjunto de favelas situado na zona norte da capital.
Embora a proposta seja também exportar o que for criado aqui, o centro de pesquisas – sexto no mundo do grupo – vai fundamentalmente desenvolver fórmulas para o mercado local. A previsão é que o centro possa entrar em operação em 2014. Cinquenta especialistas já estão sendo treinados nos laboratórios na sede do grupo, nas fábricas e também em Paris. Quando pronto, vai ter de 150 a 200 pesquisadores, segundo Tisserand.
A fábrica do Rio já tem um laboratório, que desde 2008 cria produtos voltados para o país na área capilar e de desodorantes. Mas o centro de pesquisas vai mais adiante e tem o objetivo de permitir pesquisas avançadas, junto com universidades, em laboratório mais completo com linha capilar e beleza.
A fábrica do Rio tem 30 mil m² de terreno e 24 mil m² de área construída. Vai crescer com a compra de um terreno ao lado da atual, ganhando mais 43% de espaço. A unidade paulista conta com 143 mil m² de área total e 45,9 mil m² de área construída.
Fonte: Valor