Minha Menopausa Precoce
Não se preocupe, a frase escolhida para o resumo do meu artigo não é um caça-clique. É uma história real narrada em 1ª pessoa. Tive meu diagnóstico aos 36 anos. Parei de tomar anticoncepcional porque finalmente tinha decidido ser mãe. Eis que meus ciclos não tinham ovulação, meus períodos menstruais eram muito intensos, eu tinha episódios de calor e suor intensos, que iam e vinham em poucos segundos.
Para ser mais correta, meu diagnóstico é de Insuficiência Ovariana Precoce, que afeta 1 em 100 mulheres abaixo dos 40 anos. A menopausa “natural” acontece por volta dos 51 anos e a menopausa precoce abaixo dos 45. São muitas classificações e termos que variam um pouco dependendo da fonte, mas isso não é o foco desse texto. Caso queira saber mais sobre a minha história, você pode ouvir esse episódio do podcast VOZ SEGURA. Para se informar mais sobre menopausa e climatério, confira o artigo ABC do Climatério – Um Guia necessário, no site da SOU SEGURA.
O convite foi feito para que eu falasse sobre o impacto da menopausa na vida profissional. Foi um período muito conturbado: diagnóstico, tratamento para engravidar, pandemia, gestação, puerpério, fim de um ciclo de 9 anos trabalhando na empresa familiar, mudança para São Paulo.
Fico tentando imaginar as milhões de mulheres que começaram a sentir os sintomas do climatério em plena pandemia: falhas de memória, ansiedade, queda na libido, palpitações. Esses são apenas alguns dos mais de 30 sintomas conhecidos. Como essas mulheres lidaram com mais essa camada de desafios enquanto seguiam trabalhando e desempenhando em seus diversos papéis?
O que mais chama atenção é que mesmo passado esse período surreal de pandemia global, e em pleno 2023, a maioria das mulheres seguem passando pelo climatério sem ou com informações de baixa qualidade. Basta ver a quantidade de produtos e tratamentos sem comprovação científica que começaram a pipocar no mercado.
Durante o tempo que colaborei com a organização No Pausa, vi o quanto o Brasil está atrasado no tema, mesmo se comparada aos países vizinhos. Numa sociedade em que a juventude é o ideal a ser mantido, falar aberta e seriamente sobre um tema muito ligado ao envelhecimento feminino não é nada atraente.
Importante ressaltar que estamos falando de uma questão hormonal, não de algo exclusivamente ligado à idade. E mais, é uma fase da vida que compreende muitos anos – os que antecedem e que se seguem após o fim dos ciclos menstruais.
Portanto, fica meu pedido de que VOCÊ tome a iniciativa. Afinal, todas as mulheres e pessoas com útero terão sua menopausa. Lance o assunto na roda de conversa com as amigas, provoque o tema na sua empresa. Existem organizações sérias e especializadas, como a No Pausa, que sabem fazer esse trabalho com propriedade e cuidado.
Precisamos parar de achar que o único grande evento que impacta na vida e na permanência das mulheres no meio corporativo é a maternidade. A menopausa pode trazer muitos desafios e parece que optamos – conscientemente ou não – por varrer o tema para debaixo do tapete. Algumas pesquisas dão conta de dados alarmantes. Segundo pesquisa da britânica CIPD, “cerca de uma em cada seis mulheres (17%) já pensou em deixar o trabalho por falta de apoio em relação aos sintomas da menopausa e outras 6% deixaram o trabalho.”
Tive a oportunidade de falar sobre o impacto do climatério no trabalho no SOU SEGURA SUMMIT 2022. Se você tem acesso aos vídeos do evento, recomendo fortemente que você (re)veja e pense em como pode ajudar a levar esse assunto tão importante para dentro da sua organização. Sem isso, nunca teremos empresas verdadeiramente diversas, com mulheres ocupando cargos de liderança, podendo manter e investir em suas carreiras.
Para mim, a menopausa tem um legado agridoce. Foi difícil lidar com a infertilidade, foi complexo passar por um tratamento com óvulos doados, lidar precocemente com sintomas tão estressantes como fogachos e névoas mentais. Por outro lado, tive um filho lindo e saudável, fruto de um procedimento do qual tenho orgulho. Conheci muitas pessoas legais, tive trocas riquíssimas ao viver e depois trabalhar com esse tema. Porque menopausa é isso: mais uma etapa da vida, cheia de desafios e potência. Para reduzir os “efeitos colaterais” intrínsecos torne-se urgente falar sobre o tema.