Inflação mensal deve entrar na trajetória da meta apenas em abril
A inflação ficou abaixo do esperado no fim de 2016, mas o primeiro trimestre deste ano deverá ser menos favorável, se não houver novas surpresas positivas. Apenas em abril o índice de preços mensal deverá voltar a cair abaixo da trajetória para cumprir a meta de inflação.
O Banco Central apresentou, no Relatório de Inflação de dezembro, dados que mostram quanto a inflação deveria ser, mês a mês, para o índice de preços ao consumidor acumulado no ano ficar nos 4,5% estabelecidos como objetivo pelo Conselho Monetária Nacional (CMN).
Por essa métrica, a variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de dezembro, que foi medida em 0,3% pelo IBGE, corresponde a menos da metade do percentual de 0,64% que seria consistente com o cumprimento da meta de inflação. Nos três meses anteriores, setembro, outubro e novembro, também ficou abaixo do percentual “correto” para chegar a 4,5%.
O começo deste ano, porém, tende a ser menos favorável, caso se confirmem as previsões do Banco Central e do mercado financeiro. Para janeiro, o BC prevê que o IPCA fique em 0,61%, enquanto que o percentual consistente com a meta anual é 0,46%.
Para fevereiro, o BC projeta 0,55%, enquanto o percentual correto é de 0,5%. Para os meses seguintes, o BC não fez projeções mensais da inflação. Mas a mediana das projeções dos analistas do mercado financeiro, compilada pelo BC no boletim Focus, aponta 0,4%, enquanto que o percentual de referência para o mês é 0,3%.
Em abril, porém, a inflação deve ficar em 0,45%, na previsão dos economistas, ligeiramente abaixo do 0,47% consistente com o cumprimento da meta. A partir desse mês, a inflação mensal deverá oscilar em percentuais em torno da meta. Ficará abaixo dos valores de referência em quatro meses e acima deles em cinco meses.
Para que a inflação chegue a 4,5% ao longo de um ano, o percentual mensal médio deve ser um pouquinho inferior a 0,37%. Isso porque, matematicamente, uma inflação mensal de 0,37% chega perto de 4,5% no ano.
Mas a inflação não tem um comportamento uniforme ao longo do ano. Em alguns meses, como no começo do ano, sobe com um pouco mais de força, devido a fatores como a alta de mensalidades escolares e reajustes de ônibus. Em outros meses, como em meados do ano, costuma recuar bastante, devido sobretudo ao comportamento favorável de preços de alimentos.
Isso é o que os economistas chamam de sazonalidade, ou seja, como eventos de cada época do ano afetam as estatísticas. Para ajustar a inflação mensal aos fatores sazonais, o BC calculou a mediana dos índices de preços apurados em cada mês no período 2007 a 2015. Em seguida, fez um corte nos percentuais para chegar aos valores mensais consistentes com a meta anual.
Esse é apenas mais um instrumento analítico desenvolvido pelo BC para avaliar o comportamento da evolução da inflação. Esse indicador tem limitações e, sozinho, não permite uma análise suficientemente abrangente da inflação e afirmar categoricamente se a meta anual será ou não cumprida.
Os índices mensais de preços são muito voláteis. Em dezembro, por exemplo, a inflação ficou muito baixa devido a um evento passageiro, o recuo de preços de alimentos. Por isso, os analistas econômicos costumam avaliar um conjunto de indicadores de inflação. Existem vários outros, como os núcleos de inflação, os índices de difusão e a avaliação segmentada dos índices de preços, com aberturas em segmentos como serviços e preços administrados.
Fonte: Valor