Fitch dá grau de investimento ao Brasil. Nota pode trazer mais capital, sobretudo da Ásia
Quase um mês depois de o Brasil ser elevado a grau de investimento pela agência de classificação de risco Standard & Poor”s (S&P), ontem foi a vez da Fitch Ratings. Tal como a S&P, a Fitch elevou a nota dos títulos do governo de longo prazo em moeda estrangeira de “BB+” para “BBBrdquo;, o que significa grau de investimento, avaliação dada a países onde é seguro investir. Com a nota anterior, o Brasil era considerado “grau especulativo”, ou seja, com risco de calote. A Fitch também elevou a “BBBrdquo; os títulos em moeda local. A mudança da nota pode ser o passo que faltava para o Brasil receber um fluxo significativo de aplicações.
Isso porque muitos fundos de pensão e seguradoras estrangeiros têm como regra aplicar apenas em países que tenham grau de investimento em pelo menos duas grandes agências.
Pelo comunicado da Fitch, a elevação da nota representa o “dramático aprimoramento do balanço externo e do setor público brasileiros, que reduziram fortemente a vulnerabilidade externa e a choques de câmbio, entrincheiraram a estabilidade macroeconômica e elevaram as perspectivas de crescimento a médio prazo”. A Fitch destacou também a diversificada economia do país e a “relativa estabilidade política e social”.
A Fitch ressaltou a posição atingida pelo país como credor externo líquido, “graças ao hábil gerenciamento da dívida e à acumulação de reservas internacionais, hoje próximas a US$ 200 bilhões”. Ainda assim, a agência destaca que a nota do Brasil continua sendo limitada pela fragilidade estrutural das finanças públicas, com o alto endividamento do governo e o “ritmo glacial” das reformas estruturais.
As reformas tributária, trabalhista e da Previdência, aliás, sempre foram o argumento da Fitch para adiar o grau de investimento do Brasil. Embora as mudanças não tenham vindo, a diretora sênior do grupo de análise de risco soberano da Fitch, Shelly Shetty, explica que a elevação da nota do país está muito relacionada ao fato de o país continuar tendo superávits fiscais nos primeiros meses de 2008, mesmo sem a CPMF, extinta no fim de 2007.
– A qualidade dos gastos do governo é baixa e precisa ser melhorada porque os gastos continuam crescendo – disse Shelly.
Carlos Langoni, ex-presidente do Banco Central e diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas (FGV), acredita que o segundo grau de investimento vai diversificar o fluxo de capitais externos que entram no país, hoje predominantemente americanos e europeus.
Segundo o economista, o Brasil deve atrair novamente o capital asiático, que deixou o país após a moratória da dívida externa na década de 80.
– Com dois selos de qualidade, virão volumes expressivos de capital da Ásia, onde há grande volume de poupança. Só a China tem US$ 1 trilhão em reservas.
Dólar cai a R$ 1,638, nível de 9 anos atrás
Imediatamente após a divulgação da notícia, feita pela Fitch, às 15h27m, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) – cujo principal indicador, o Ibovespa, recuava mais de 1% -, chegou a subir 1,04%, alcançando nova máxima histórica de 73.920 pontos. A bonança durou menos de dez minutos: logo, investidores passaram a vender seus papéis para embolsar os ganhos com as altas das últimas semanas, provocadas justamente pela expectativa da nota da Fitch. A Bolsa fechou em queda de 1,85%, aos 71.797 pontos.
O volume de negociação ficou em R$ 8,453 bilhões, o maior desde 2 de maio, o primeiro dia de funcionamento do mercado após o grau de investimento da S&P. O risco-país caiu 6,34%, para 192 pontos centesimais.
O dólar também sentiu os efeitos e recuou 1,09%, para R$ 1,638 – a menor cotação desde 20 de janeiro de 1999, pouco depois da maxidesvalorização do real. Mas a moeda foi afetada principalmente pela briga entre os que apostam na alta e os que apostam na queda da moeda, já que hoje é dia de formação da Ptax do mês, a taxa média que orienta contratos negociados no mercado futuro.
– Quando o grau de investimento da S&P saiu, pegou todo mundo de surpresa e a Bolsa subiu muito. Mas o da Fitch já era esperado, havia fortes rumores. Tem uma máxima do mercado, com a qual eu não concordo, que diz: compre no boato e venda no fato. Provavelmente, quem comprou está vendendo agora – disse Álvaro Bandeira, diretor da corretora Ágora.
As ações que mais sentiram os efeitos imediatos do grau de investimento da Fitch foram Bovespa Holding e BM&F. Com a expectativa do aumento do volume de negociações, com a atração de mais investidores para as bolsas, as ações chegaram a subir 8,86% e 7%, respectivamente.
Mas fecharam em leves perdas.
– O investidor deve pensar que o benefício virá numa linha de tempo mais longa. O grande potencial de atratividade de volume de investimentos na Bolsa está para acontecer- disse o gerente de análise da Modal Asset, Eduardo Roche.
O CalPERS, maior fundo de pensão dos Estados Unidos, com poder de fogo de US$ 244 bilhões, reafirmou que considera o Brasil um dos mais atraentes entre os emergentes. O grupo tem de US$ 1,5 bilhão a US$ 2 bilhões investidos no país desde 2005.
– Continuaremos aumentando nossos investimentos no país – disse o porta-voz Clark McKinley.
O segundo maior fundo dos EUA – CalSTRS, dos professores do estado da Califórnia, com cerca de US$ 170 bilhões em ativos -, informou que não mudará suas estratégias para o Brasil, já que também tem seu próprio sistema de avaliação de risco. O CalSTRS tem aproximadamente US$ 30 milhões em títulos brasileiro
Fonte: O Globo