EconomiaNotícias

Estratégia para defender a carteira de renda variável

A alta do dólar causada pela crise política levou muita gente a apostar nas ações de empresas exportadoras ou que tenham parte da receita vinculada à moeda americana. Mas essa não é a única opção para quem quer proteger sua carteira de renda variável. Gestores afirmam ser possível adotar uma postura defensiva e garantir a valorização do patrimônio mesmo apostando em empresas de outros setores – desde que elas ofereçam algo raro no cenário político atual: previsibilidade.

As ações que atualmente têm características defensivas são as de empresas resilientes, ou seja, aquelas que, mesmo em um cenário adverso, conseguem manter as receitas e ao menos parte do crescimento. Fazem parte desse grupo algumas exportadoras, companhias privadas do setor de energia, um pequeno grupo de instituições financeiras e poucas empresas do setor de serviços ou da indústria.

O estrategista-chefe da corretora do Santander, Daniel Gewehr, lembra que o cenário para a aprovação das reformas econômicas ficou mais difícil após a delação dos executivos da JBS e que isso mexe com a percepção de preços em relação ao Brasil. Mas ele ressalta haver outros fatores que pesam na valorização das ações. Um deles é a redução da taxa básica de juros. Durante quase todo o ano passado, a Selic esteve em 14,25% ao ano, o que prejudicou as empresas com dívidas elevadas. Com a redução da Selic, essas companhias têm uma sobra no caixa, abrindo a possibilidade de ganhos maiores, o que tende a levar à valorização desses papéis.

– As empresas, na média, ainda vão ter um crescimento do lucro na casa dos dois dígitos este ano, em especial devido ao gasto menor com juros. Quando comparamos com outros emergentes, os lucros no Brasil crescem mais rápido por conta desse processo de desalavancagem – explica Gewehr.

Isso não significa que a crise não atrapalhou a perspectiva de valorização de ações. A projeção do Santander para o Ibovespa, principal índice da B3 (exBM&FBovespa e Cetip), no fim de 2017 passou de 81 mil para 67 mil pontos – atualmente, o indicador está em torno de 62 mil pontos. Mas algumas empresas devem ter um desempenho acima da média e podem perfeitamente compor a carteira do investidor que quer se proteger. A maior parte das ações citadas por gestores registra uma evolução superior à do Ibovespa no ano, bem como desde o agravamento da crise política.

Algumas empresas do setor elétrico, por exemplo, podem ser consideradas defensivas. Uma das mais citadas é a Equatorial, que controla, entre outras, as distribuidoras do Maranhão (Cemar) e do Pará (Celpa), que vão se beneficiar da queda dos juros. Isso também ocorre no setor de shopping centers, e o estrategista do Santander cita o grupo Iguatemi.

– Mas também há empresas de qualidade ligadas ao ciclo da economia doméstica, que está em recuperação. É importante olhar papéis de companhias que já apresentam um bom retorno sobre o capital – diz Gewehr, dando como exemplos a Localiza, de aluguel de carros, e a CVC, de turismo.

Ele ainda aponta como empresas defensivas, devido à estrutura de capital, os bancos privados, em especial Itaú, e aquelas que são boas pagadoras de dividendos, como a BB Seguridade. Com relação a companhias com exposição ao dólar, Gewehr considera adequado limitá-las a 20% da carteira. Nesse segmento, as favoritas são Suzano, de papel e celulose, e Iochpe Maxion, do setor industrial. “ATIVOS DE QUALIDADE” Juan Carlos Resende Morales, gestor de renda variável da Daycoval Asset Management, considera que não é o momento para mudar a carteira, mas é a favor de aumentar a exposição em ações que aliem perspectiva de crescimento a uma boa gestão, com baixo endividamento: – Olhamos ações que estão sendo negociadas abaixo da média de preços histórica, mas que também tenham bons modelos de negócios, tentando identificar quais são as mais defensivas.

Entre as exportadoras, Morales vê na Embraer uma boa opção. Segundo ele, o papel está barato em relação à média histórica. Já a Klabin, diz está em processo de melhora do seu perfil de dívida. Para o gestor, é importante atrelar a característica defensiva com o potencial de valorização.

Luis Gustavo Pereira, estrategista-chefe da Guide Investimentos, também afirma que, no atual cenário político, o ideal é optar por empresas de boa gestão e que tenham um bom fluxo de caixa, ou seja, receitas garantidas: – Neste momento, o que se sobressai são os ativos de qualidade. Ultrapar, Cielo e BB Seguridade, além de alguns papéis vinculados à variação cambial, são alguns desses exemplos para um cenário de incerteza que não sabemos quanto tempo vai durar.

Fonte: O Globo

Falar agora
Olá 👋
Como podemos ajudá-la(o)?