Economia do cuidado e os desafios das mulheres em 2025
Por Vera Lorenzo
Você já parou para pensar quem mantém a vida girando nos bastidores?
Pense na sua rotina, em um único dia, talvez você tenha aprovado um orçamento, revisado um relatório estratégico, conduzido uma reunião desafiadora… e, entre uma entrega e outra, ainda encaixou uma ligação para o médico, resolveu o imprevisto com a diarista e pensou no que vai preparar para o jantar.
No Brasil, as mulheres ainda são responsáveis por mais de 75% do trabalho doméstico não remunerado, segundo dados da Oxfam. A economia do cuidado é o nome dado a esse conjunto de tarefas: preparar refeições, acompanhar tarefas escolares, gerenciar a rotina familiar, acompanhar consultas médicas, acolher. É um trabalho que exige tempo, atenção, energia e habilidade. Ainda que sustente o funcionamento da sociedade, não é valorizado como deveria.
Segundo o IBGE, as brasileiras dedicam cerca de 21,3 horas semanais às tarefas de cuidado, quase o dobro do tempo investido pelos homens. Isso se reflete no mercado de trabalho: quantas mulheres deixaram de crescer profissionalmente porque precisam cuidar? E você, quanto tempo do seu dia é dedicado a cuidar de alguém?
Impactos da economia do cuidado
- Interrupções profissionais
O cuidado com os filhos, a casa e a família ainda recai, em grande parte, sobre as mulheres, o que impacta diretamente a disponibilidade para investir na carreira, fazer networking ou abraçar novos desafios profissionais. Segundo o IBGE, mais de 2,5 milhões de mulheres deixaram de trabalhar para se dedicar ao cuidado de parentes ou às tarefas domésticas.
Quantas vezes você abriu mão de um curso, de uma grande oportunidade… para dar conta de tudo? Deixou de fazer um curso, recusou uma promoção, evitou viagens de trabalho?
Esse desequilíbrio do trabalho doméstico impacta diretamente a equidade de gênero. Em média, os homens têm muito mais horas livres por semana do que as mulheres, e as usam para lazer, descanso, estudo ou esporte. Entre casais heterossexuais com filhos, a desigualdade é ainda maior, enquanto eles acumulam mais horas de descanso, muitas mulheres enfrentam jornadas duplas ou até triplas.
Menor acesso a cargos de liderança
Apesar de representarem mais da metade da população economicamente ativa, as mulheres ocupam apenas 39% dos cargos de liderança no Brasil, segundo o IBGE. A ausência de mulheres em cargos de liderança também pesa. Quando são poucas nas posições de decisão, outras encontram mais obstáculos para se visualizar nesses espaços.
Para virar esse jogo, é essencial que as empresas apostem em ações concretas: programas de lideranças femininas, mentorias e políticas que promovam mais igualdade no dia a dia.
- Adoecimento emocional
Você conhece o sentimento de culpa por se dedicar demais ao trabalho? Ou, ao contrário, já recusou uma promoção para não perder momentos importantes com seus filhos?
Esse dilema, infelizmente, ainda é uma realidade para muitas mulheres. Quando priorizam a carreira, são vistas como ausentes na vida familiar. Mas, se saem mais cedo para cuidar dos filhos, logo surgem olhares tortos e julgamentos silenciosos.
A pressão para dar conta de tudo, ser excelente profissional, mãe presente, parceira, amiga, tudo ao mesmo tempo, acaba gerando uma sobrecarga invisível, com ela vêm o estresse constante, a ansiedade, o burnout.
Diante de um cenário tão desafiador, é natural se sentir sobrecarregada ou sem saída. Mas algumas estratégias podem ajudar a transformar pouco a pouco essa realidade, tanto individualmente quanto em rede:
1. Reconhecer o valor do cuidado (inclusive o próprio):
O primeiro passo é entender que esse trabalho tem valor. Validar suas próprias entregas, mesmo que não remuneradas, é essencial para fortalecer sua autoestima e consciência de impacto.
2. Dividir, delegar, dialogar:
Sozinha, ninguém dá conta de tudo. Conversas francas com parceiros, familiares ou pessoas próximas são fundamentais para construir uma divisão mais justa das responsabilidades.
3. Construir e fortalecer redes de apoio:
Buscar apoio em outras mulheres, grupos comunitários, redes profissionais ou espaços de escuta pode oferecer tanto acolhimento quanto caminhos práticos para lidar com a sobrecarga.
4. Investir em desenvolvimento pessoal e profissional:
Mesmo que em ritmo mais lento, aprender algo novo, fazer uma mentoria, participar de uma roda de conversa ou se conectar com outras profissionais abre portas, fortalece habilidades e gera novas oportunidades.
No fim das contas, não precisamos de heroínas sobrecarregadas. O que precisamos são ambientes mais humanos, onde o cuidado seja compartilhado, reconhecido e respeitado como parte essencial da vida e do trabalho.
