Dúvida agora é tamanho do ciclo de baixa do juro
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu intensificar mais fortemente o ritmo de corte na taxa básica de juros, que pelo que tudo indica agora será feito em passos de 0,75 ponto percentual a cada reunião. Mas ainda há dúvidas se essa distensão monetária mais forte vai representar, de fato, um ciclo total de afrouxamento monetário significativamente mais substancial do que o já previsto pelo mercado.
Uma questão relevante é que, antes de decidir pelos cortes de juros, os membros do Copom se deparavam com uma projeção de inflação em torno de 4,4% para 2017 e de 4,5% para 2018.
São projeções muito apertadas em torno da meta, de 4,5%, o que significa que o espaço para um corte muito além do ciclo que já estava precificado pelo mercado é um tanto restrita. As projeções do mercado indicavam uma taxa de 10,25% ao ano em outubro próximo.
Para ir além no orçamento de corte de juros, as projeções de inflação precisam melhorar, já que o Copom avisa que esse é um dos componentes centrais nas suas próximas decisões.
“A extensão do ciclo e possíveis revisões no ritmo de flexibilização continuarão dependendo das projeções e expectativas de inflação e da evolução dos fatores de risco mencionados acima”, disse o Copom. Um aspecto relevante é que, na reunião, os membros do Copom chegaram a avaliar um corte de apenas 0,5 ponto percentual, com a sinalização de uma intensidade maior no próximo encontro, de fevereiro.
A ata do Copom, que será divulgada na próxima terça, deverá trazer mais detalhes sobre os debates internos dessa reunião, mas é possível imaginar que a ala mais conservadora do comitê tenha apresentado algum tipo de argumento para defender a postura mais cautelosa.
Nos próximos dias, o mercado certamente estará debatendo o que o Copom quis dizer exatamente quando afirma, no comunicado, que “um processo de desinflação mais disseminado e atividade econômica aquém do esperado já torna apropriada a antecipação do ciclo de distensão da política monetária, permitindo o estabelecimento do novo ritmo de flexibilização”.
O destaque é a expressão “antecipação do ciclo de distensão”. Uma leitura possível é que o Copom apenas se sentiu confortável para antecipar para janeiro a intensificação dos cortes de 0,75 ponto que só ocorreria em fevereiro. Mas a sinalização pode ser mais abrangente, indicando que o Copom está antecipando um ciclo de baixas – linguagem que se aproxima mais de um orçamento – que já estava anteriormente planejado.
Se o Banco Central estiver apenas antecipando o ciclo, a taxa básica terá chegado aos 10,25% ao ano consistente com a projeção no cenário de mercado depois de mais três cortes de juros de 0,75 ponto percentual (em fevereiro, abril e junho) e mais um corte de 0,5 ponto em julho.
Até lá, muita coisa no cenário inflacionário poderá ter mudado, e o orçamento de corte da taxa de juros poderá ser revisto, para baixo ou para cima. Vai depender fundamentalmente de como cada analista econômico pesa os fatores de risco no cenário econômico.
Fonte: Valor