Canais divulgam mensagens de ódio contra as mulheres
Pesquisa inédita realizada pelo Observatório da Indústria da Desinformação e Violência de Gênero nas Plataformas Digitais (parceria do NetLab-UFRJ com o Ministério das Mulheres) mapeou e analisou canais com discursos misóginos no YouTube no Brasil.
Foram analisados 76 mil vídeos de 7.812 canais, com mais de 4,1 bilhões de visualizações e 23 milhões de comentários. O número de vídeos da machosfera no YouTube aumentou significativamente desde 2022, com 88% publicados nos últimos três anos.
A análise computacional dos títulos identificou “Desprezo às mulheres e insurgência masculina” como o tema mais recorrente, presente em 42% dos títulos dos vídeos.
A pesquisa identificou ainda 137 canais com conteúdo misógino. Juntos, eles somam 3,9 bilhões de visualizações, 105 mil vídeos publicados e, em média, 152 mil inscritos. 80% dos canais misóginos utilizam estratégias de monetização, como anúncios, Super Chat, doações e vendas de produtos.
Em seus conteúdos, os influenciadores propagam ódio, aversão, controle e desprezo às mulheres. As mais atacadas são feministas, mães solteiras e mulheres com mais de 30 anos.
A análise dos vídeos considerados misóginos lança luz a discursos nocivos que contribuem para naturalizar comportamentos como o ódio, o desprezo, a aversão e o controle das mulheres.
O objetivo da pesquisa é traçar um panorama do ecossistema misógino na plataforma, de modo a contribuir com as políticas públicas de combate ao ódio e à violência de gênero na internet e fora dela. “A meta de feminicídio zero, que é nossa prioridade, somente será alcançada se pudermos compreender e conscientizar a população sobre o que é a misoginia e as suas consequências, e não há como alcançar isso, atualmente, sem olhar para a internet. Por isso, esta iniciativa é fundamental, já que nos ajuda a mapear a violência contra as mulheres e conhecer os discursos que incentivam comportamentos violentos online”, destaca a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves.
O estudo ainda observou de maneira qualitativa os vídeos de 137 canais com conteúdos explicitamente misóginos. Juntos, eles publicaram, nos últimos seis anos, mais de 105 mil vídeos.
Em média, têm 152 mil inscritos e somam 3,9 bilhões de visualizações em seus conteúdos, evidenciando a relevância desse ecossistema tóxico no ambiente digital. Os conteúdos analisados perpetuam perspectivas discriminatórias e, muitas vezes, incentivam técnicas de tratamento às mulheres baseadas na violência psicológica e na manipulação emocional.
Além disso, também reforçam estereótipos prejudiciais às mulheres, como desumanização baseada na aparência e no intelecto e ataques a feministas. Muitas dessas mensagens são disfarçadas de “desenvolvimento pessoal masculino”, o que dificulta sua identificação pelos sistemas de moderação das plataformas digitais, como o próprio YouTube.
Acesse o Relatório Completo e o Sumário Executivo da pesquisa, disponível também em https://netlab.eco.ufrj.br.
Fonte: Gov.br