Analistas já veem chance de IPCA na meta
A inflação mais controlada neste início de ano, depois de surpresas favoráveis com os dados do fim de 2016, continua levando a revisões para baixo nas expectativas para 2017. A depender da trajetória principalmente dos alimentos, economistas avaliam que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) tem chances de chegar a dezembro abaixo de 4,5%, embora este ainda não seja considerado o cenário mais provável.
Divulgado ontem pelo Banco Central, o boletim Focus mostrou que a mediana de estimativas para a alta do IPCA diminuiu pela terceira semana consecutiva, de 4,8% para 4,71%. O piso das projeções também tem ficado cada vez menor. No início de dezembro, a previsão mínima no Focus estava em 4,28% e, depois, caiu para 4,14%. Na primeira semana de janeiro, era 4,10% e, na última semana, ficou em 4%. Entre os participantes do grupo Top 5 (grupo que mais acerta as projeções) de médio prazo a expectativa agora é de que a inflação deste ano fique abaixo da meta de 4,5%. Da semana anterior para a última, a mediana das estimativas desse grupo para o IPCA de 2017 caiu de 4,54% para 4,45%.
Na quinta-feira, após a divulgação do IPCA-15 de janeiro (0,31%, o menor para o mês desde 1994), circularam informações no mercado financeiro de que grandes casas começaram a prever IPCA abaixo do centro da meta neste ano, o que daria mais espaço para o BC cortar a Selic. Informações também davam conta que a mesa de tesouraria do Santander Brasil teria revisado a projeção do IPCA de 2017 a 3,9%.
Rafael Cardoso, economista da Daycoval Investimentos, trabalha com alta de 4,7% para o índice no período, mas afirma que um número abaixo de 4,5% é uma “probabilidade relevante”. O que vai determinar se a inflação ficará menor do que o alvo central ou não é a trajetória dos alimentos, avalia Cardoso.
Se o padrão dos alimentos observado nos últimos meses, com alta mais fraca do que a sazonalidade, se mantiver ao longo do ano, é bastante possível que o índice do IBGE suba menos do que 4,5% em 2017, diz o economista. “Todos os outros componentes da inflação estão comportados”, comentou. “A demanda está reprimida, o governo está fazendo o ajuste fiscal e famílias e empresas preferem pagar dívidas do que consumir e investir, cenário propício à desinflação.”
A descompressão do IPCA acumulado em 12 meses será rápida, e o índice deve atingir o centro da meta em maio, prevê Flávio Serrano, economista-sênior do banco Haitong. A desaceleração vai continuar até agosto, estima ele, quando o indicador oficial de inflação vai chegar a seu piso em 2017, de 3,9%. Depois, o movimento de desinflação vai perder força, diz, e o IPCA deve fechar o ano com alta de 4,8%.
“Existe a possibilidade de que o IPCA fique abaixo da meta no fim do ano, mas não é tão alta”, afirma Serrano, devido aos números bastante fora do padrão sazonal registrados nos meses finais de 2016, ajudados pela inflação comportada de alimentos. De setembro a dezembro, o IPCA subiu 0,20% ao mês, em média, observa ele, taxa que deve ser substituída por números maiores em igual período deste ano no acumulado em 12 meses. Assim, o índice voltaria a subir no último trimestre do ano.
Se, somada à perda de fôlego dos alimentos no domicílio – que devem subir entre 3% e 4% este ano, ante 9,36% em 2016 – os serviços também surpreenderem favoravelmente, é possível que o IPCA fique abaixo de 4,5% em 2017, na avaliação de Daniel Silva, economista da Modal Asset. A gestora prevê alta entre 4,6% e 4,7% para o indicador neste ano, com aumento de 5,5% para o grupo que reúne despesas como aluguel, empregada doméstica e costureira.
“Quatro por cento está longe de ser um número irrealista. A trajetória de alimentação será relevante para o número final, mas acho que seria melhor uma surpresa pelo lado dos serviços”, disse. Para Silva, o comportamento atual dos preços é propício para que a meta de inflação seja reduzida para 2019, tendo em vista que a recessão dura bastante tempo e a retomada será lenta.
Recentemente, Alexandre Teixeira, economista-chefe da Beta Capital Consultoria, cortou para 4,8% sua projeção para o aumento do IPCA em 2017, em função da fraqueza da atividade econômica. O câmbio também tem mostrado trajetória mais tranquila do que o esperado, o que pode representar outra ajuda à inflação e novo motivo de revisões para baixo mais à frente, observa Teixeira.
Segundo o economista, a chance de o indicador atingir o centro da meta no ano é elevada, mas um número abaixo em 2017 de 4,5% é difícil, considerando, ainda, a redução da Selic em ritmo mais intenso. “Seria necessário uma queda muito forte da inflação corrente para um número como esse.”
Fonte: Valor