A economia brasileira e seus reflexos no mercado
Enquanto o governo tem uma visão positiva e otimista da economia do Brasil, os agentes de mercados e economistas vêem um cenário bem mais pessimista, afirmou Monica Baumgarten de Bolle em sua palestra A economia brasileira e seus reflexos no mercado no 3º Encontro Nacional de Atuários Novos Desafios Atuariais Em busca de Serviços e Soluções, que começou ontem e termina nesta quarta-feira, em São Paulo.Para Monica, entretanto, não vivemos em um mar de rosas, nem no fim do mundo, como disse aos mais de 400 atuários. Prefiro o meio de caminho, com perspectivas não muito animadoras, acrescentou.O fato é que o Brasil não está sozinho neste imbroglio. Os Estados Unidos declararam nesta semana o shutdown, ou seja, a paralisação de serviços públicos até que o impasse político em torno do orçamento seja resolvido e votado pelo congresso americano. Isso pode ter repercussão da elevação do teto da dívida, o que trará consequências em todos os mercados com volatilidade dos investidores.Um alento para o Brasil foi ter uma surpresa positiva no segundo trimestre, com o PIB crescendo um pouco acima do previsto, ainda impulsionado pela construção civil. Cito esse período pois ele dá uma lição de que há um equilíbrio nas versões pessimistas e otimistas, ao sinalizar que o Brasil pode registrar uma alta de 2% no PIB no fechamento de 2013, comentou.Apesar da boa surpresa, há coisas no Brasil que assustam, ressaltou. Uma delas é o nível de produtividade brasileira, em queda acentuada. Algo que torna difícil enxergar como isso será revertido. A aposta do governo era de otimizar a produtividade com os investimentos em infraestrutura. No entanto, nas últimas semanas tivemos notícias ruins, com uma incerteza regulatória muito grande, afastando os investidores dos leilões de concessões, citou.Outro ponto negativo é que o arcabouço institucional do Brasil está muito desgastado, com as agências reguladoras de serviços públicos funcionando com diretores interinos. Isso é um dos sinais dados aos investidores estrangeiros de que falta seriedade na condução dos projetos por parte do governo e por isso os investimentos privados em contratos de longo prazo não vão ser a apoteose que o setor estava esperando.O quadro de desaceleração do consumo também pesa negativamente nas perspectivas para os próximos anos. O consumo continua crescendo, mas cresce numa taxa bem mais baixa do que se verificou nos últimos anos. Em 2012, avançou 3,5%. Em 2013, a aposta é de que não chegue a 2%, segundo a economista.A inflação é um dos piores vilões da queda do consumo, por corroer a renda da população. Ela já vinha alta, mas passou a ser mais percebida quando apertou a conta no item alimentos. Quando a inflação vira comida e transporte, bate no bolso do consumidor, gerando boa parte da insatisfação que levou a população para as manifestações, explicou.Além de ter uma parte da renda mensal consumida pela inflação, as famílias comprometeram o orçamento com a compra da casa própria. Comparado com países latinos, o Brasil ainda está longe de ter um crédito habitacional adequado. No Chile, por exemplo, ultrapassa 50% do PIB. No Brasil, não chega a 10%. O problema aqui é que o endividamento com a compra da casa própria reduziu o consumo de outros bens, como automóvel. Um dos pontos positivos é a taxa de desemprego, que deverá permanecer em níveis historicamente baixos. No entanto, co a fragilidade de alguns setores da economia que estão demitindo, o trabalhador fica inseguro e segura ainda mais o consumo.Mais um problema. A credibilidade com a condução da política econômica do Brasil. Ela afirma que há questionamentos da política monetária como da política fiscal. A credibilidade do Banco Central está afetada, como mostra o Boletim Focus, divulgado toda segunda-feira. Quando o BC perguntava aos agentes financeiros quais as perspectivas da inflação doze meses a frente, mais de 90% acreditavam que ficaria dentro da meta. Hoje a resposta é praticamente zero. Ou seja, ninguém acredita que a inflação ficará dentro da meta. Isso é muito sério. Quando se destrói credibilidade dessa forma vai ter muito trabalho para reconstruir, observa Monica.A segunda área questionada é a política fiscal. O Brasil passou anos fazendo grande esforço grande no sentido de ir além, com política fiscal austera. O que se vê agora é que não há mais esforço fiscal. O governo diz que a política fiscal esta sob controle, mas ela está expansionista, o que mantém o patamar inflacionário. Temos também um desgaste institucional com o governo contabilizando certas despesas e receitas de forma diferente, analisou.Diante de tudo isso, o cenário para 2014 não é pessimista, pois será um ano eleitoral, com mais gastos do governo e incentivo do crédito público. Já 2015 vai depender da bagunça que o governo fizer em 2014, ponderou. Resumindo, no curto prazo há algum arrefecimento no consumo das famílias, mas a perspectiva de crescimento do país é moderada. E terá efeitos sobre os seguros de automóvel, segundo a economista.
Fonte: CNSEG