Cade e BRF voltam a negociar acordo
BRASÍLIA e SÃO PAULO O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) já começou a negociar um Termo de Compromisso de Desempenho (TCD) com Sadia e Perdigão para viabilizar a fusão das duas empresas. Segundo fontes do governo, o conselheiro Ricardo Ruiz acredita ser possível viabilizar a operação. Ruiz, que pediu vista do processo no julgamento da semana passada, elogiara o voto do relator Carlos Ragazzo rejeitando a fusão, informa reportagem de Martha Beck, Patrícia Duarte e Ronaldo DErcole.
Para isso, no entanto, os advogados e consultores da BRF-Brasil Foods (empresa resultante da fusão) terão de ser mais ousados na proposta de TCD. A primeira apresentada ao Cade e rejeitada por Ragazzo foi considerada muito tímida.
Eles teriam de fazer uma proposta, pelo menos, 50% mais ousada disse uma fonte do governo.
A BRF já entregou às autoridades do Cade um esboço do acordo que pretende colocar na mesa de negociações. Por isso, provavelmente, o julgamento do processo não deve recomeçar nesta quarta-feira. Ruiz deverá argumentar que precisa de mais tempo para analisar as novas propostas e pedir adiamento do reinício do julgamento. Essa é a expectativa de executivos e advogados da BRF, segundo uma fonte próxima à empresa.
Precisamos de mais tempo. Não dá para discutir uma solução satisfatória para o caso em dois ou três dias disse essa fonte. E o sinal que tivemos (dos conselheiros) é o de que há disposição de negociar, sim.
Ou seja, depois de mais de dois anos desde que a Perdigão firmou o compromisso de compra da Sadia, período em que participou de mais de 40 audiências no órgão, a BRF quer mais tempo para negociar com o Cade. Situação que surpreende os especialistas.
É estranho que depois de todas as manifestações nesse período a empresa não tenha feito uma proposta mais palatável ao Cade afirmou Arthur Barrionuevo, professor de concorrência e regulação da Fundação Getulio Vargas (FGV) e ex-conselheiro do Cade, que vê certo despreparo da empresa. Até agora as propostas apresentadas não pareciam ter possibilidade de aceitação, eram coisas muito simples.
Para Barrionuevo, seria uma surpresa chegar a um acordo razoável sem a venda de uma das marcas principais, Sadia ou Perdigão.
Técnicos do governo têm opinião semelhante. Eles apontam ainda a possibilidade de venda das chamadas marcas de combate, como a margarina Doriana, além de unidades de produção.
Outro motivo para negociar um acordo seria o fato de que ninguém quer que o caso acabe na Justiça na hipótese de não haver uma solução administrativa. Isso poderia causar danos aos negócios da BRF e ser desgastante para o sistema brasileiro de defesa da concorrência. Por exemplo, a fusão entre Nestlé e Garoto, rejeitada pelo Cade em 2004, continua na Justiça até hoje.
Advogados e executivos da BRF entre eles o presidente da empresa José Antonio Fay conversaram com Ruiz na noite de segunda-feira obre o TCD. Depois do encontro, o diretor de Assuntos Corporativos da BRF, Wilson Mello Neto, disse que um diálogo importante está aberto.
Foi um conversa para dizer que a empresa quer negociar. Foi um encontro para mobilizar um pedido de negociação garantiu uma fonte próxima à empresa.
Fonte: O Globo