Hora de encarar o TSUNAMI
Nos últimos seis meses, o dinheiro ganhou mais valor. Fazer contas, cortar gastos, eleger prioridades e manter uma reserva financeira – atitudes que deveriam ser praticadas sempre – se tornaram mais urgentes na vida de muitas famílias e, por que não, na realidade de diversos pequenos negócios. E o motivo para isso tem um nome, que infelizmente voltou à tona desde setembro de 2008: a crise econômica global. Notícias sobre empresas fechando suas portas, demissões em massa e o vai e vem das Bolsas de Valores trouxeram medo. Mas será que este momento é todo negativo? E se a crise lançou a oportunidade para rever uma série de conceitos sobre orçamento familiar e planejamento financeiro? Essa é a hora para os micros e pequenos empresários implementarem mudanças de gestão em seus negócios? A resposta de especialistas é unânime. Sim, esse é o momento de levantar a poeira e encarar de frente as perspectivas e os cenários negativos. Agir agora trará mais benefícios do que se imagina. Afinal, quem cresce na crise tem chances maiores de crescer ainda mais nas épocas de calmaria e de pujança econômica.
Uma primeira mudança significativa trazida pela crise foi um novo perfil de consumidor. Mais amadurecido e seletivo, ele não quer apenas preço. Quer qualidade, boa relação entre custo e benefício, além de excelência no atendimento. Em suma, quer ter a certeza de que os gastos que está assumindo valham a pena. Não foi por acaso que os brasileiros compraram menos no último trimestre de 2008, como constatou a última pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o Produto Interno Bruto (PIB) do País. O consumo das famílias caiu 2% em relação ao trimestre anterior. Cortes nos supérfluos e um controle maior do dinheiro fazem parte desse cenário – assim como desemprego e escassez de crédito, é verdade. “O brasileiro tem esse costume de ter receio em épocas de turbulência, de gastar menos com bobagens”, atesta o consultor da IGF Consultoria Alexandre Lignos. E o primeiro impacto para os empresários é a necessidade de se adequarem a esse novo comprador. Para isso, não há outra saída. É preciso investir.
Na casa dos Andrade, família que poderia ser classificada como típica classe média recifense, o planejamento financeiro sempre esteve presente. Agora, então, mais do que nunca. Primeiro na prioridade dos gastos. Alimentação, saúde e educação encabeçam a lista. Pode faltar tudo, mas esses itens devem ser honrados, como gosta de frisar Francisco das Chagas Andrade. E quando se fala em planos, não existe espaço para despesas que não cabem no orçamento. “Quando não tem saída vou lá e corto. Aqui sempre foi na ponta do lápis. Às vezes a emoção fala mais alto que a razão. É preciso analisar tudo muito bem, para saber se vale a pena. Aqui não pode se endividar”, resume Francisco.
O controle minucioso das contas do lar permitiram à sua família realizar o sonho da casa própria, manter atualmente duas das três filhas em instituições particulares de ensino e ter um plano de previdência privada. “São ações básicas. O brasileiro está mais bem informado e atento em busca do equilíbrio. O segredo é manter um orçamento condizente aos rendimentos da família. Não se pode mais conduzir as finanças como nos momentos de euforia dos últimos anos. Mas a ideia não é cortar gastos deliberadamente. Isso conduz a problemas tão negativos quanto a falta de dinheiro, como depressão e conflitos internos na família. Basta dosar o consumo, mantendo a qualidade de vida”, ratifica o consultor financeiro e autor de livros como Casais inteligentes enriquecem juntos, Gustavo Cerbasi.
“São mais pessoas se informando e tomando melhores decisões”, acrescenta a vice-presidente de Relações Corporativas da Visa Inc. América Latina e Caribe e idealizadora do Portal Finanças Práticas, Jennifer McGowan. “É preciso ver o lado bom do medo. Essa não é hora para pânico. E sim de sentar com a família, discutir com os filhos a situação da casa. Não é para sair cortando tudo, não se trata de uma guerra”, reforça a consultora do portal, Waldeli Azevedo.
Já para os empresários, além de um maior controle da empresa, o momento exige audácia e visão gerencial para investir em pontos que venham a trazer retorno. “Cuidar dos estoques, implantar uma política de crescimento sólida, melhorar a relação com funcionários e investir em treinamentos. Em momentos de crise, a qualidade se torna mais presente. O elemento de diferenciação traz grandes resultados nessas épocas”, comenta o presidente da consultoria Terco Grand Thornton, Mauro Terepins.
“As micros e pequenas empresas têm uma flexibilidade maior para implantar mudanças do que os negócios de maior porte. Isso deve ser encarado como uma vantagem durante esse período”, pontua o superintendente do Sebrae em Pernambuco, Nilo Simões.
Fonte: Jornal do Commercio