Deputados mudam voto e dão aval ao pacote financeiro
A Câmara dos Representantes deu sua aprovação final na sexta-feira ao plano de US$ 850 bilhões – sendo US$ 700 bilhões em ajuda ao sistema financeiro propostos pelo secretário do Tesouro, Henry Paulson. O pacote deve ser a mais cara intervenção do governo na história. No início da tarde, aplausos e gritos de aprovação ecoavam na Câmara, quando os votos favoráveis ao projeto atingiram número suficiente para garantir sua aprovação. Isto aconteceu apenas alguns segundos antes do término do período oficial de votação de 15 minutos, quando foram computados 263 votos contra 171. Em um esforço para demonstrar a urgência que envolve o plano de socorro financeiro, funcionários do Congresso apressaram-se para imprimir a nova lei e levá-la a uma coletiva de imprensa – onde estavam reunidos líderes democratas após a votação – quando Nancy Pelosi, democrata presidente da Câmara, assinou a proposta.
Um pouco mais cedo, a deputada Pelosi já havia defendido que a medida era essencial para “começar a dar à estabilidade financeira de nosso país e segurança econômica para o nosso povo”. John A. Boehner, deputado do estado de Ohio e líder da minoria republicana, também encorajou seus colegas a passar o projeto argumentando que “se nós não fizermos nada, a crise tende a piorar, podendo transformar-se na pior depressão econômica que nós já testemunhamos”.
A maior parte dos democratas votou a favor do projeto de lei (172 contra 63), ao passo que uma modesta maioria de republicanos votou contra (108 disseram “não” enquanto 91 votaram “sim”). Todos os membros da Câmara compareceram e votaram. Embora um número significativo de republicanos tenha mudado seu voto em relação à votação de segunda-feira, quando apenas 65 votaram a favor do projeto, o resultado de sexta-feira ainda reflete como a influência do presidente Bush sobre o seu partido tem minguado. O pacote foi prontamente sancionado por Bush na própria sexta.
Apesar de todo o empenho da Casa Branca, a repercussão do pacote não foi a que muitos esperavam. Os mercados financeiros, já afetados por uma nova onda de cifras desfavoráveis, incluindo um relatório que aponta o fechamento de 159 mil postos de trabalho no mês de setembro, reagiram com desconfiança em relação ao plano aprovado. O índice Dow Jones fechou em baixa de 1,5%, o S&P 500 caiu 1,35% e o Nasdaq recuou 1,48%. O Ibovespa, que chegou a subir com força, voltou a perder valor com queda de 3,53%, a 44.517 pontos.
Após a derrota na primeira votação do projeto de lei na Câmara, na segunda-feira passada, líderes do Congresso não quiseram arriscar-se na segunda tentativa de aprovar a proposta. Os democratas afirmaram que não trariam o plano de volta à votação se não estivessem certos da sua aprovação. Os deputados que votaram contra na primeira tentativa de passar o plano foram vencidos desta vez pelo medo de um colapso da economia mundial e pela persuasão política exercida pelo Senado. Para se sentirem seguros, os líderes já haviam pensado em um plano alternativo que proporia o aumento dos benefícios aos desempregados, o que ajudaria a atrair votos adicionais. Entretanto, não foi necessário lançar mão da estratégia.
Muitos parlamentares que mudaram de lado, afirmaram que sofreram muito para tomar a decisão em meio a uma enxurrada de telefones e e-mails de eleitores e citaram as alterações ao projeto feitas no Senado para justificar a mudança no voto. A principal destas mudanças foi o aumento da garantia do governo federal para os depósitos à vista de US$ 100 mil para US$ 250 mil. Diversos democratas reconheceram que foram persuadidos pelo apoio de Barack Obama ao projeto, candidato do partido à presidência. Todavia, muitos parlamentares foram motivados pelo medo de uma calamidade na economia.
“Ninguém no East Tennesse odeia mais do que eu o fato de ter votado sim, depois de votado não na primeira votação, discursou na Câmara o deputado republicano Zach Wamp. “Na segunda-feira, eu votei no que acreditava ser o melhor para o povo americano”, ele afirmou. “Hoje voto com as cores da bandeira americana e com minha mão no coração pelo meu país porque a situação está realmente ruim e nós não temos outra escolha. Nós estamos pressionados contra a parede, não há alternativas.”
Fonte: Gazeta Mercantil