IRB se arma para enfrentar a concorrência
O IRB Brasil Re quer manter a liderança na venda de resseguro no País, segmento que deve superar os R$ 3,8 bilhões neste ano segundo projeções do setor. Não será uma tarefa fácil. O mercado de resseguros foi aberto em 17 de abril deste ano e quase 20 resseguradoras já organizam seus escritórios no eixo Rio São Paulo. Há três tipos de modalidade de empresas, sendo o IRB considerado local, categoria que tem a preferência de 60% de todos os contratos até 2010 e 40% a partir dos anos seguintes.
Depois de quase 70 anos de monopólio e com as conseqüências de ainda ser uma empresa controlada pelo governo, detentor de 100% das ações ordinárias, o IRB concorre com pesos pesados do mundo que chegam com produtos inovadores e custos administrativos reduzidos. Munich Re, XL, J.Malucelli, ACE estão entre os grupos estrangeiros que pretendem disputar como ressegurador local.
Mas o IRB conta com muitas vantagens, como ter como principais sócios privados Bradesco e Unibanco, as maiores na compra de resseguro no Brasil; funcionários que conhecem o assunto resseguro; e já estar com a operação montada. Veja a seguir os principais trechos da entrevista concedida à Gazeta Mercantil por Eduardo Nakao, presidente do IRB, sobre a estratégia para manter o ressegurador na preferência dos clientes brasileiros.
Gazeta Mercantil – Quais as principais mudanças que o senhor vê no mercado aberto de resseguro?
O novo mercado ainda está na sua fase preliminar de instalação. As mudanças mais notáveis referem-se à ocorrência de coleta, por parte das sociedades seguradoras, de cotações e condições de diferentes resseguradores locais, admitidos e eventuais para fins de negociação do resseguro. Conseqüentemente, o IRB-Brasil Re, segundo diretrizes operacionais traçadas, está adaptando as suas linhas de atuação, sem necessariamente assumir os riscos de crédito e liquidez das retrocessões. Não tenho dúvida de que nos próximos meses haverá ainda novas transformações na relação dos participantes dos mercados de seguro, resseguro e retrocessão. A segunda mudança está relacionada ao comportamento dos subscritores que devem, a cada momento, acompanhar as posições adotadas pelos resseguradores concorrentes para finalizar as suas operações.
Gazeta Mercantil – Acredita que ter grau de investimento, dado por duas agências internacionais, trará benefícios para o setor? Quais?
Sem dúvida, o grau de investimento traz uma série de aspectos positivos para o País. No mercado de seguro e resseguro não é diferente. Com o ingresso adicional de capitais estrangeiros, alguns setores da economia tendem a apresentar evolução rápida e, assim, demandam por mais seguro e transferência de riscos para o mercado financeiro e de resseguro.
Gazeta Mercantil – As concorrentes mantêm um quadro de funcionários muito enxuto em relação ao IRB-Brasil Re. O que a empresa tem feito para equilibrar seus custos e se manter competitivo diante da acirrada concorrência?
Os novos resseguradores, no início de suas operações, assumirão elevados custos de instalação, tais como a constituição do quadro de pessoal, ainda que em quantitativo reduzido, tecnologia, consultoria jurídica e amortização do capital investido. O IRB-Brasil Re, nessa fase, dará continuidade ao seu programa de racionalização das atividades internas, baseado em investimentos tecnológicos e gestão de negócios.
Gazeta Mercantil – Em termos de serviços, o que o IRB tem feito para manter sua clientela diante do assédio da concorrência?
A preparação para a abertura do mercado de resseguro vem sendo feita ao longo dos últimos anos. Com respaldo na experiência de atuação no mercado brasileiro e conhecimento das necessidades das sociedades seguradoras, já foram iniciados a execução de acordos para obtenção de reciprocidades, como participação em contratos, transferência de tecnologia, treinamento de pessoal, desenvolvimento de novos produtos etc., com o objetivo de oferecer parâmetros competitivos no resseguro. Ao assédio dos resseguradores concorrentes, o IRB responderá portanto com o estreitamento de relações com as sociedades seguradoras e retrocessionários, acompanhado por um processo de racionalização das tarefas internas.
Gazeta Mercantil – O IRB está preparando dados para obter rating de agências internacionais? Precisará mudar rotinas ou procedimentos para obter a classificação?
O IRB, além da implementação de medidas de governança corporativa, está estruturando suas subunidades para facilitar a integração das atividades de seu objeto social, saneando seus ativos considerados inadequados para atender os passivos, e cuidando do run-off, para minimizar a exigência de capital para suas operações de resseguro. Assim, a contratação de uma ou duas agências de classificação de renome para a avaliação da empresa e posterior concessão de rating está próxima, subsidiada pela grau de investimento atribuído ao Brasil.
Gazeta Mercantil – Qual a sua expectativa sobre o final deste ano para o IRB-Brasil Re em razão da concorrência?
Com a entrada de resseguradores concorrentes no País, a parcela de riscos por eles assumida, mantido o tamanho do mercado de resseguro, deve corresponder principalmente ao volume que já era repassado para o exterior, na forma de retrocessão do IRB-Brasil Re. Nesse contexto, a receita esperada de prêmios retidos para este ano não deve ser inferior àquela registrada no exercício de 2007, podendo ser majorada na hipótese de se admitir um crescimento do mercado de resseguro.
Gazeta Mercantil – Houve mudança em termos de exigências de informações que as companhias de seguros têm de apresentar para obter uma cotação de preço mais justa?
Os preços competitivos para bens e serviços, em qualquer mercado, sempre dependem da disponibilidade de um conjunto de dados sobre o comportamento da carteira de risco em análise. O histórico de relacionamento que cada sociedade seguradora tem com o IRB-Brasil Re permite, para a aceitação de resseguro, a apresentação de dados estatísticos que podem ser mais simplificados ou não, mas sempre suficientes para avaliação e aplicação das melhores técnicas de subscrição.
Gazeta Mercantil – O IRB-Brasil Re tem recusado muitos negócios?
As operações de resseguro que já não eram aceitas, independentemente da edição da lei continuam sendo recusadas. Com a abertura do mercado, as solicitações de resseguro com requerimentos elevados de risco, seja pela ausência de variedade, seja por tratar-se de operações em desacordo com os interesses comerciais do momento, também entram no rol das recusadas.
Gazeta Mercantil – Qual o principal fator de recusa?
Na realidade são dois os principais fatores: resultado positivo esperado reduzido com a operação e falta de interesse comercial.
Gazeta Mercantil – Quais os nichos de negócios que são prioritários para o IRB?
O IRB sempre atuou em segmentos vinculados a grandes volumes de negócios e também atendendo a demanda de sociedades seguradoras e clientes por apoio técnico e capacidade financeira. Assim, riscos de propriedade, transportes, aeronáuticos, responsabilidade civil, garantia e riscos de governo são áreas onde o IRB-Brasil Re desempenha funções fundamentais para seus clientes diretos e segurados finais. Nesta fase, o IRB-Brasil Re analisa as perspectivas do mercado para selecionar os focos de sua atuação, sem desconsiderar as oportunidades nos segmentos de vida por sobrevivência, previdência complementar, riscos habitacionais, riscos agrícolas e riscos ambientais, por representarem expectativas de crescimento.
Gazeta Mercantil – E em quais não há interesse?
Nos segmentos classificados como pouco interessantes, o IRB-Brasil Re não tem a postura de abandoná-los por completo, uma vez que os diversos riscos de um segurado podem ser complementares e, conseqüentemente, devem ser aceitos no conjunto das negociações. Os subscritores sempre poderão estudar opções de continuidade de forma diferenciada ou facultativa.
Gazeta Mercantil – Quais produtos o senhor acha que predominarão no mercado brasileiro?
Os seguros de riscos de propriedades, transportes, crédito, garantia e ambiental são influenciados por um cenário econômico favorável. Os ramos de pessoas, especialmente vida e previdência, também têm grande potencial de desenvolvimento, inclusive com a implementação de novos produtos.
Gazeta Mercantil – Quais contratos automáticos o IRB-Brasil Re tem atualmente?
O IRB-Brasil Re mantém contratos automáticos de normas com todas as sociedades seguradoras atuantes no mercado brasileiro e contratos automáticos diferenciados com aquelas que historicamente têm encaminhado riscos com resultados considerados satisfatórios. Simultaneamente mantém contratos de retrocessão com resseguradores internacionais, detentores de rating superior àquele aceito como grau de investimento.
Gazeta Mercantil – Em razão de muitos parceiros dos contratos automáticos, como Munich Re, Swiss Re entre outros, serem concorrentes do IRB, como fica a negociação destes contratos?
Sim. Todos os resseguradores têm políticas de retenção e de retrocessão e atuam, com maior ou menor profundidade, em determinados ramos. Nessas condições, os contratos de proteção da carteira de riscos do IRB-Brasil Re sempre foram realizados com diferentes resseguradores retrocessionários
Gazeta Mercantil – Vários resseguradores ainda não têm condições de operar. O IRB tem atuado na retrocessão. Quais as implicações deste tipo de operação?
O IRB mantém a sua política de retrocessão anterior à abertura do mercado de resseguro não pela inexistência de resseguradores com condições regulamentares para retroceder os riscos, mas pela sua experiência acumulada em assumir o risco de crédito. Os resseguradores já cadastrados e, portanto, atualmente com faculdade para realizar retrocessões, sem qualquer limitação hoje frente à receita do resseguro, deixam de fazê-las por aversão aos riscos de crédito e outros. A implicação positiva mais importante é a demonstração de que o IRB-Brasil Re sempre foi e será um parceiro de negócio consciente de suas responsabilidades diante das cedentes, mesmo que limitadas a determinados ramos.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados – Pág. 4)(Denise Bueno)
Fonte: Gazeta Mercantil