O novo ritmo do Resseguro
O INSTITUTO DE RESSEGURO do Brasil, o antigo IRB, foi criado sob o Estado Novo de Getúlio Vargas e, durante 69 anos, reinou sozinho no mercado. Mas a festa do monopólio acabou e o atual IRBBrasil Re, que em 2006 usufruiu de um volume estimado de R$ 3,4 bilhões em prêmios, terá de lutar com pesos pesados mundiais. A partir de abril, o IRB deixa de ser regulador (tarefa passada para a Superintendência de Seguros Privados Susep). E seus principais concorrentes começaram a chegar. A SwissRe e a MunichRe, as duas maiores companhias mundiais, já carimbaram o passaporte e estão com escritórios em São Paulo. O Lloyds de Londres anunciou, há duas semanas, a abertura de uma representação no Rio de Janeiro. O Brasil é uma ótima oportunidade para nós. Todos querem investir aqui, afirmou Lorde Peter Levene, presidente do lendário mercado de seguros britânico.
A lista de resseguradoras prestes a atuar diretamente no País não pára de crescer. ZurichRe, HannoverRe, Royal & SunAllianceRe e Allianz-Re também manifestaram intenções de desembarcar em breve. Nada será como antes quando isso acontecer, prevêem os especialistas. Elas trazem a linguagem e a mesa de negociação para o mercado aberto, explica Acácio Queiroz, presidente da seguradora Chubb. E o que exatamente essas empresas fazem? Dividem riscos entre si.
Quando um grande contrato de seguro é assinado, as seguradoras avaliam se sua capacidade financeira é capaz de cobrir um eventual sinistro.
Em caso negativo, elas procuram as resseguradoras e dividem a responsabilidade. Até agora, o IRB era o único balcão em que elas podiam bater. Caso o negócio fosse maior que a capacidade do IRB, o instituto fazia a retrocessão, ou seja, repassava parte do risco no Exterior. O Lloyds, por exemplo, fez negócios de US$ 107 milhões no Brasil em 2007, por meio do IRB. Agora, vamos disputar diretamente um mercado estimado em R$ 4,2 bilhões, comemora Levene.
No mercado, o IRB era considerado uma espécie de mãezona que dava respaldo a qualquer tipo de contrato sem diferenciar os bons e os maus clientes. Alguns riscos tinham aceitação porque o IRB era protecionista, afirma Fábio Corrias, gerente da Marsh Corretora. Isso tende a mudar. A abertura do mercado deve gerar impacto nos preços, respeitando agora os aspectos competitivos, diz Eduardo Nakao, presidente do IRBBrasil Re (leia ao lado).
A abertura não foi total. A nova legislação garantiu aos resseguradores locais a preferência de receber a oferta mínima de 60% de cada negócio até janeiro de 2010. Essa reserva de mercado poderá ser utilizada pelo IRB e pela J. MalucelliRe, a seguradora do Paraná Banco, e pela MunichRe, a única internacional que se registrou na Susep nessa categoria e atendeu a uma série de obrigações, como manter R$ 60 milhões de patrimônio líquido no País. Só vemos vantagens em ser um ressegurador local, conta Kurt Müller, presidente da MunichRe Brasil. As outras concorrentes preferiram o status de resseguradoras admitidas, que implica em manter escritório e representante legal, possuir patrimônio líquido no Exterior superior a US$ 100 milhões e depositar US$ 5 milhões em uma conta vinculada à Susep. Ninguém queria essa última restrição, mas todos acabaram aceitando. Nós chiamos muito pela abertura do mercado. Agora, vamos ter que cumprir o que prometemos, diz Henrique de Oliveira, diretorpresidente da SwissRe Brasil. Na nova fase do resseguro, quem tiver ginga vai aproveitar mais a festa.
Fonte: CQCS