Estudo questiona melhores práticas no Novo Mercado
São Paulo, 11 de Outubro de 2006 – Não há evidência de que empresas sejam mais transparentes do que no Nível 1, afirma o documento. Aderir a um dos níveis de governança corporativa da Bovespa não aumenta a transparência. A opinião polêmica é do indiano Kuldeep Shastri, professor de Finanças da Universidade de Pittsburg.
A avaliação é resultado de um estudo sobre governança no País, com dados de 173 companhias com maior liquidez na Bolsa. O documento diz que, para a maioria das empresas que já participava do mercado, o período pós-listagem nos níveis de governança foi seguido de menor volatilidade, maior liquidez e valorização das ações, além de menor custo de capital na captação de recursos, em linha com a conclusão da maioria dos estudos sobre o tema. Em contrapartida, conclui que, em matéria de transparência, não há diferença entre fazer parte do nível 1 (o mais baixo) e o Novo Mercado (o mais rigoroso). Essa porém não é a conclusão mais incisiva. “Não há nenhuma evidência que suporte o argumento de que a transparência é maior entre empresas listadas”, garante o professor.
Segundo ele, a postura mais amistosa com o mercado na divulgação de informações já é realidade em grande parte das companhias não listadas, especialmente as grandes. “Gigantes como Petrobras e AmBev, que tem ADRs negociados em Nova York, têm transparência semelhante às das listadas no Novo Mercado”, diz Shastri.
Segundo ele, o fato de todas as companhias que abriram o capital nos últimos anos terem entrado nos níveis superiores de governança tem a ver com a necessidade de conquistar a confiança do investidor estrangeiro, já que não dispunham de um histórico de bom relacionamento com o mercado.
A Bovespa admite que o nível de governança entre listadas ou não possa ser parecido nos casos de empresas grandes. Mas sustenta que há uma diferença entre adotar boas práticas e se comprometer com elas. “É importante ter uma garantia de que não haverá retrocesso”, diz o superintendente de relações com empresas da Bovespa, João Batista Fraga. O executivo também refuta a afirmação do estudo de que os custos financeiros da obediência as regras do segmento podem desmotivar a listagem.
A posição da Bolsa parece estar mais próxima do que pensam as próprias companhias. Neste ano, as geradoras de energia elétrica Cesp e Eletrobrás reforçaram o time do nível 1. A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) já avisou que vai aderir ao segmento no mês que vem.
Ganhar prestígio entre os investidores pelo aumento da transparência tem sido um dos principais alvos das empresas que aderem aos diferentes níveis de governança da Bovespa. Criado em 2001, o segmento começou a florescer em 2004, com a retomada do mercado de capitais. Atualmente, 84 das 387 com ações na Bolsa fazem parte de algum dos três degraus do setor, mas respondem por 57% do valor de capitalização de mercado.
Fonte: Gazeta Mercantil