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Equidade feminina na sustentabilidade corporativa: um olhar necessário

por Roberta Caravieri, diretora de Recursos Humanos e Sustentabilidade da Sompo

Muito mais do que um conjunto de boas práticas, ESG (Environmental, Social and Governance) é um modelo de gestão que integra ética, impacto e regeneração. Não é apenas conformidade. É responsabilidade com valores, propósitos e transformações positivas. Não diz respeito, simplesmente, a não causar danos. Tem a ver com o compromisso de reparar desigualdades e melhorar continuamente.

Nessa jornada, muitos são os deveres das organizações. Partindo das obrigações mais básicas, é inadmissível, por exemplo, não ter uma Política de Governança e Compliance com todos os parâmetros de ética empresarial que deixem claro, entre outros aspectos que corrupção e suborno não são aceitáveis. E existe uma pauta antiga, persistente e urgente, que ainda é pouco praticada: a criação e aplicação de políticas eficientes de diversidade, equidade e inclusão (DE&I).

Arrisco mencionar aqui que a reação da maioria esmagadora das pessoas que leem esse artigo ao primeiro exemplo citado no parágrafo anterior foi pensar “Mas isso é óbvio”. Porém, certamente, não responderam da mesma forma em relação à aplicação de políticas de DE&I. Será que apenas a obrigação legal e implicações jurídicas imprimem mais urgência a outras políticas em detrimento daquelas que observam a diversidade, equidade e inclusão? E quando é necessário observar a gestão pelo prisma da perenidade do negócio e de uma sustentabilidade eficiente e efetiva?

Digo isso por acreditar que, em empresas verdadeiramente comprometidas com ESG, a pluralidade da equipe é uma das bases da sustentabilidade corporativa. Nessas organizações, há esforços estruturados para derrubar as barreiras invisíveis que têm impedido muitas companhias de contratar, desenvolver e promover profissionais de talento.

Nesse artigo, eu gostaria de aprofundar um pouco mais essa reflexão. Como o tema é amplo e complexo, vou focar especificamente sobre a relevância da presença das mulheres no dia a dia corporativo e, consequentemente, da equidade feminina. Não em um tom de competição ou oposição aos demais gêneros. O objetivo é reforçar o valor do complemento de potências. Afinal, como num quebra-cabeças, é pela união das unidades que se consegue formar uma imagem completa e coerente, que só existe quando cada peça encontra seu lugar.

A presença feminina fortalece o capital humano e a marca da empresa, pois a equidade de gênero é um reflexo direto do compromisso com a justiça e a inclusão. Quando mulheres ocupam espaços de liderança, não apenas se promove representatividade, mas também se constrói um ambiente mais seguro e acolhedor para todas as pessoas. Essa prática reverbera na cultura organizacional e na percepção externa da marca, criando vínculos mais sólidos com a sociedade.

Além disso, a diversidade nos conselhos e comitês decisórios amplia o olhar sobre os temas sensíveis que impactam a governança. A pluralidade de perspectivas contribui para decisões mais éticas, equilibradas e transparentes, fortalecendo a estrutura de gestão e promovendo um ambiente colaborativo, onde o mérito e o comprometimento são os verdadeiros critérios de ascensão profissional. A equidade de gênero, portanto, não é apenas uma questão social, mas um pilar estratégico da governança moderna.

Na Sompo, essa visão é aplicada de forma concreta. A integração das áreas de Recursos Humanos e Sustentabilidade sob uma mesma diretoria permite uma abordagem mais sistêmica e eficaz. Com 22% das cadeiras do Comitê Executivo ocupadas por mulheres e um Subcomitê ESG dedicado à promoção da sustentabilidade com foco em pessoas, diversidade e boas práticas de governança, a empresa demonstra que a diversidade é parte essencial da sua estratégia. Iniciativas como os programas “Eles com Elas” (2023) e “Vozes que Lideram” (2025), que preparam mulheres para cargos de liderança por meio de mentoria, são exemplos práticos desse compromisso.

Os resultados são expressivos: em 2024, 62% das movimentações internas foram destinadas às mulheres. A cultura da Sompo valoriza a equidade de forma tão profunda que a empresa participa ativamente do evento anual do mercado segurador global, Dive In Festival, e implementa políticas como a licença-parental estendida, modelo de trabalho 100% remoto até os filhos recém-nascidos completarem 1 ano de vida e o programa “Você em sua melhor versão”, voltado à saúde integral dos colaboradores.

A equidade, portanto, não é apenas uma pauta ética, mas uma alavanca de inovação, resiliência e crescimento sustentável. Ela tem potencial para equipar as empresas para fazer frente aos desafios e permite que as companhias se fortaleçam a partir da diversidade de seus talentos, promovendo ambientes mais justos e produtivos. Volto a recorrer à analogia do quebra-cabeças para lembrar que cada profissional representa uma peça única e essencial. Somente quando todas essas peças são reconhecidas, valorizadas e encaixadas em seus devidos lugares é que se revela a imagem completa — uma organização coerente, inclusiva e verdadeiramente sustentável.

Roberta Caravieri
Diretora de RH e Sustentabilidade na SOMPO

É Diretora de Recursos Humanos e Sustentabilidade na Sompo, onde atua desde 2007 e é responsável por estratégias de gestão de pessoas, qualidade de vida, comunicação interna, DE&I e sustentabilidade. É formada em Administração de Empresas, com especialização em Modelagem Estrutural pela FIA e pós-graduação em Gestão de Negócios Internacionais pela FAAP. Conta com mais de 30 anos de experiência em RH, com atuação em revisão de estruturas e gestão de pessoas em processos de mudanças organizacionais.

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