Lava-Jato espanta candidatos para vagas em conselhos
Na esteira de denúncias da operação Lava-Jato, crise na Petrobras e outros casos recentes de irregularidades em empresas como a derrocada do grupo X, há um clima de desconfiança no mercado brasileiro. Para empresas com negócios que apresentam mais risco em especial, as que possuem relação próxima com o governo isso já reflete na dificuldade de encontrar profissionais dispostos a assumir cargos nos conselhos de administração, dizem headhunters.
Segundo especialistas, quem já faz parte de um conselho, ou considera fazer, está mais cuidadoso ao considerar propostas que incluem uma responsabilidade fiduciária que pode causar o bloqueio dos bens pessoais caso a empresa seja processada.
Para o presidente da consultoria especializada em conselhos de administração Mesa Corporate Governance, Herbert Steinberg, está mais difícil fechar propostas de vagas em conselhos de empresas que fazem parte da cadeia das envolvidas na operação Lava-Jato, bem como fornecedores da Petrobras e do governo. Existem pessoas no banco de dados com perfil para assumir a cadeira, mas que aceitam apenas ser conselheiro consultivo, diz.
Na percepção do country manager da empresa de recrutamento de altos executivos Russell Reynolds, Jacques Sarfatti, o setor de óleo e gás e toda sua cadeia de serviços e equipamentos, bem como o setor petroquímico e o de construção e engenharia, já sofrem com esse cuidado redobrado dos executivos. Muitos não querem nem conversar, diz.
O conselheiro de administração do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), Luiz Carlos Cabrera, também acha provável que empresas prestadoras de serviço para o governo tenham mais dificuldade para encontrar candidatos assim como já acontece com bancos, considerados um risco maior do que outros tipos de empresa.
No mercado como um todo, embora o atual contexto não chegue a afastar executivos de propostas para conselhos, Cabrera acha que os profissionais estão mais cautelosos. Isso significa exigir mais informações sobre o passado, o presente e o futuro da companhia, além de analisar as práticas e a cultura de compliance da organização. Antes, o simples convite deixava a pessoa tão encantada que ela não perguntava. Hoje existe essa conversa.
O medo de colocar o próprio patrimônio em risco é a segunda razão que mais aparece quando profissionais recusam um convite para assumir um cargo dessa natureza, diz Cabrera. A primeira ainda é a sobrecarga, no caso de executivos que participam de vários conselhos ao mesmo tempo. O mercado ainda trabalha muito com o reconhecimento popular, o que torna algumas pessoas muito demandadas.
Um elemento de proteção que vem ganhando espaço no Brasil é o seguro D&O (directors and officers, em inglês), de responsabilidade civil de diretores e administradores. Ele cobre custos de defesa em caso de processos e garante o patrimônio do conselheiro ou executivo se este for bloqueado. Ele não é válido, contudo, em caso de fraudes ou comprovação de irregularidades. De acordo com o relatório do mercado segurador produzido anualmente pela Marsh, a tendência é a demanda aumentar em 2015.
O D&O já é parte da maioria dos processos de contratação de conselheiros. Ao mesmo tempo, por conta da instabilidade de certos mercados, algumas seguradoras estão deixando de atuar nessa área e outras aumentaram as restrições e os valores dos prêmios. Segundo Thomas Andersson, líder da área de multilatinas da Marsh Brasil, neste ano foi incluída uma cláusula referente à Lava-Jato Carwash, nas seguradoras multinacionais que especifica que o seguro não cobre pagamento de comissão.
Fonte: CQCS