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Ypióca, da cachaça, investe em água e medicamentos

Quando o português Dario Telles de Menezes começou a produzir cachaça no interior do Ceará, em Maranguape, na metade do século 19, armazenava a bebida em pequenos barris, ancorados no lombo de jumentos. A vizinhança do sítio Ypióca (terra-roxa, em tupi-guarani) comprava a aguardente a granel, usando um recipiente de cinco litros, a “canada”, como medida. Quase dois séculos depois, o bisneto Everardo Telles, presidente da Ypióca – uma das maiores fabricantes de cachaça do mundo, que em agosto inaugura a sua sexta fábrica, fruto de um investimento de R$ 120 milhões – voltou a distribuir bebida a granel. Mas dessa vez o produto atende pela singela fórmula de “H2O”. Um caminhão tanque de inox leva a água diretamente da fonte mineral até um reservatório, também de inox, instalado em prédios de médio e alto padrão de Fortaleza. O consumidor degusta a bebida em três temperaturas diferentes: quente, ambiente e gelada.
Diversificar a produção e investir em ideias inovadoras é a proposta do “doutor Everardo” – como é conhecido o engenheiro agrônomo que há quase 40 anos preside o Grupo Ypióca. O empresário de 66 anos, três mulheres, seis filhos (o caçula com um ano e meio) e quatro netos avança em novas frentes. “Qualquer dependência é um risco e quanto menos nossa receita estiver concentrada na venda de cachaça, melhor”, diz o cearense de fala mansa, que adora pilotar helicópteros. “Não existe melhor instrumento de trabalho para um empresário acompanhar seus negócios”. E são muitos: o grupo, que faturou R$ 300 milhões no ano passado, explora atividades em setores que vão de embalagens plásticas à criação de peixes, passando pelo etanol e papelão. Esses outros negócios, fora do produto principal, já representam um quarto da receita do grupo.
Embora ocupe o segundo lugar no ranking de vendas do segmento em valor segundo a Nielsen (só perde para a 51, da Companhia Müller de Bebidas), a Ypióca atua em um mercado delicado. “As restrições ao consumo vêm crescendo”, diz Telles. Daí a investida em novas ideias. O empresário já aplicou R$ 20 milhões nos últimos oito anos na pesquisa de um medicamento contra o câncer, por meio da Amazônia Fitoterápicos, da qual detém 55% de participação, em sociedade com cientistas brasileiros. A droga, à base da planta avelós, está sendo testada desde o ano passado em pacientes do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, e aguarda aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para ir ao mercado.
Outro desafio a que se dedica no momento é a distribuição de água mineral a granel em condomínios residenciais, por meio da empresa Central Naturágua, criada a partir da sua fabricante de água mineral Naturágua. O serviço estreou há dois anos na capital cearense, com investimentos relativamente modestos, de cerca de R$ 2 milhões. Em parceria com construtoras locais, a Central Naturágua oferece aos condôminos água mineral na torneira de casa. O serviço foi idealizado por Henrique Hissa, um ex-dono de lava-rápido. “Ficava incomodado quando minha mulher me mandava buscar água, tinha que pegar aqueles galões pesados de 20 litros e ficava imaginando que deveria haver um jeito mais fácil de consumir água”, afirma Hissa, de 37 anos, que hoje ocupa a diretoria da Central Naturágua.
O serviço abastece 20 condomínios em Fortaleza e tem contratos com outros 80 prédios, ainda em construção. Pelo sistema, o prédio é erguido com uma tubulação à parte do sistema de água da rua. O caminhão tanque abastece um reservatório no alto do prédio, que distribui a água aos apartamentos. O condômino compra (por R$ 740) ou aluga (por R$ 39 ao mês) um equipamento instalado no apartamento, que oferece água mineral em temperaturas ambiente, gelada ou quente. Por mês, o custo para o cliente sai em torno de R$ 40. “O cliente gosta por conta da comodidade do serviço e, para o condomínio, é interessante porque aumenta a segurança, evitando o trânsito de pessoas estranhas dentro do prédio”, diz.

Fonte: Valor

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