Viver mais tornou-se risco para o bolso do investidor
As pessoas estão vivendo mais, e isso significa que elas terão de se preparar melhor, sobretudo financeiramente, para esse bônus obtido na sua linha do tempo. Para isso, elas terão não só de adotar uma rotina mais saudável para garantir sua qualidade de vida na terceira idade, como abrir mão do consumo hoje para poupar mais. “A longevidade virou um grande risco social”, disse o presidente da Bradesco Seguros, Luiz Carlos Trabuco Cappi, na abertura do III Fórum de Longevidade, promovido ontem pela Bradesco Vida e Previdência, em São Paulo.
Os riscos do ganho de expectativa de vida, no entanto, podem ser mitigados com a previdência privada, avalia Cappi. “O Estado, por mais forte que seja, não tem capacidade para arcar com esses custos”, acrescentou. Os sistemas públicos de previdência no mundo todo já começam a dar sinais de exaustão, inclusive em países desenvolvidos, como é o caso da França.
No Brasil, a expectativa de vida é de 68 anos para homens e de 76 para mulheres. Para os que chegam aos 60 anos, a esperança de vida é ainda maior: as mulheres ganharam mais 23 anos e os homens, 19. Dados apresentados pelo cientista social e ex-coordenador de Desenvolvimento Humano da Organização das Nações Unidos (ONU), o professor José Carlos Libânio, revelam que, entre 1940 e 2006, o número de idosos no país aumentou 11 vezes, passando de 1,7 milhão (cerca de 4% da população total) para 18,5 milhões, o equivalente a 10,1% do total. O dado mais curioso, segundo Libânio, é que a população com mais de 80 anos é a que mais cresce.
E se esse aumento na expectativa de vida já se mostra um desafio para a previdência pública, o que dirá daqui a dez anos. Para 2020, por exemplo, estima-se que o Brasil terá 30 milhões de pessoas com mais de 60 anos, número que deverá chegar a 64 milhões em 2050, ou 24% da população total. Isso significa que as necessidades de se formar um colchão de recursos com a previdência privada tornou-se ainda maior.
“Nunca houve no mundo tantos idosos”, disse Libânio. E esse fenômeno vem acompanhado de um envelhecimento da população, não só pela queda na taxa de mortalidade dos idosos, mas pela redução da fecundidade. “Nos países industrializados, já nascem menos gente do que o suficiente para manter a população atual”, afirmou Libânio. No Brasil, segundo o professor, a taxa de fecundidade caiu neste ano para 1,8, ficando, pela primeira vez, abaixo do nível de reposição.
O Brasil, segundo o professor, caminha para o aumento do número de pessoas em idade de acumular riquezas para garantir o bem-estar e a qualidade de vida na velhice. Mas haverá um momento em que a população economicamente ativa será maior que a não-ativa. “Os idosos de amanhã já nasceram e eles precisam se preparar financeiramente.” Ainda segundo o professor, a a previdência pública no Brasil continua o carro-chefe da aposentadoria, com 20% das contribuições, ou 10 vezes mais do que os recursos que vão para a previdência privada (2%).
Os números mostram que a sociedade, as empresas e o Estado têm grandes desafios pela frente, na opinião do diretor-presidente da Bradesco Vida e Previdência, Marco Antonio Rossi. Um deles é como dizer para uma criança de 10, 12, 14 anos que ela poderá chegar aos 100 anos e que, por isso, ela precisa construir uma reserva financeira que garanta essa longevidade. E mais: como se comunicar com esse jovem.
O professor de economia da Universidade do Estado do Novo México, Lowell Catlett, tem sua fórmula. Para ele, na sociedade atual, em que o consumidor é quem dá as cartas e tem dinheiro para arcar com seus desejos, o planejamento financeiro é ainda mais relevante. Mas, na sua opinião, não se trata de vender produtos. “Diga que ele precisará se preparar para viver seus sonhos que aí sim ele terá um incentivo para poupar mais, para investir, para fazer uma previdência.”
Nesse sentido, há muito o que se fazer aqui e no mundo. “O papel das empresas é ajudar seus funcionários a entender a aposentadoria, e nada tem a ver com dinheiro, mas com o que querem fazer”, disse. No Brasil, segundo o professor Libânio, apenas 3% das empresas públicos preparam seus funcionários para a aposentadoria. Na iniciativa privada, o percentual cai para 2%.
Fonte: Valor