Violência urbana faz valor de apólice subir
A escalada da violência nos últimos meses nas grandes cidades já afeta o mercado de seguros. Com o aumento dos roubos de carros, residências e agências bancárias, o volume de sinistros diretos deu um salto em janeiro, mostram números da Superintendência de Seguros Privados (Susep).
O caso mais marcante é o do Rio de Janeiro. O total de sinistros no Estado, considerando todos os ramos de seguros, subiu nada menos que 80% em janeiro deste ano quando comparado ao mesmo mês de 2006. Em relação ao mês de dezembro, a alta foi de 50%. Considerando apenas o mercado de autos, o crescimento dos sinistros diretos em 12 meses também foi acentuado, de 43% para R$ 76,5 milhões.
Já os prêmios diretos cresceram bem menos. No mercado total no Estado do Rio, a expansão foi de 16%, para R$ 539,7 milhões. Nos automóveis, a expansão ficou em 3,5% com prêmios de R$ 105,3 milhões.
Um relatório da Correcta Seguros, do início do ano, já alertava que a estratégia do governo para combater a criminalidade no Rio iria leva ao aumento do roubo de residências e carros. Com o cerco aos morros pela polícia e pela tropa nacional de segurança, o tráfico de drogas se reduziu. Para “sobreviver”, a solução dos bandidos foi descer o morro e roubar carros e apartamentos. “Já vimos esta mesma história acontecer em outros momentos, como no período da Eco 92, quando os morros foram cercados pelo exército”, avalia Gustavo Mello, sócio da Correcta.
Os especialistas ouvidos pelo Valor destacam que nem todo o aumento dos sinistros pode ser atribuído à violência. Há outros fatores, como os acidentes de trânsitos, incêndios de casa (no caso das residências) e até as fraudes. Mas todos concordam que, no caso do Rio, o aumento da criminalidade é o principal responsável pela expansão dos números.
Em São Paulo, os números da Susep mostram o oposto das estatísticas cariocas. Os sinistros diretos das seguradoras se reduziu tanto no mercado total quanto no mercado de autos. Nos carros, a queda em janeiro foi de 14,6%.
Na maior cidade do país, assim como no Rio, houve uma “migração” dos crimes, avaliam os analistas. Se no Rio, o tráfico de drogas deu lugar ao roubo de carros e apartamentos, em São Paulo, o roubo de veículos e residências deu lugar ao roubo de agências bancárias. No dia 20 de março, por exemplo, em um intervalo de apenas sete horas, quatro agências foram assaltadas.
Os seguros para agências de bancos, porém, não são um segmento que muitas seguradoras atuam. Normalmente, os próprios bancos fazem os seguros das agências por meio de suas seguradoras. Em alguns casos, são apólices com coberturas mínimas. Em outros casos, os bancos chegam a bancar o risco.
O que os especialistas dizem é que os bancos estão fazendo de tudo para limitar o volume de dinheiro que fica nas agências e evitar perdas maiores com os roubos. Além de estimular os clientes a usarem a internet ou os caixas eletrônicos, saques em dinheiro nas agências de valores elevados são tarefa difícil.
Os números da Susep para o seguro de agências de bancos (classificado como “global de bancos”) mostram que no Estado de São Palo, em janeiro, os sinistros diretos ficaram em R$ 100 mil, bem acima dos R$ 7 mil do mesmo mês de 2006. Os prêmios em janeiro somaram apenas R$ 9 mil, abaixo dos R$ 11,5 mil de janeiro do ano passado.
Com o aumento dos roubos, os preços para o seguro de carros têm subido no Rio, segundo corretores ouvidos pelo Valor. Em São Paulo, dependendo do bairro, os preços caíram este ano. Para reduzir a sinistralidade, as seguradoras vêm aperfeiçoando a forma de definir preços, apertando as vistorias e as regulações de sinistros e vêm tentando reduzir as fraudes. Com os roubos, porém, pouco podem fazer, lembra um corretor.
A sinistralidade no setor vem caindo no país. Era de 68% em janeiro e está em 65% este ano. Como lembrou o diretor de uma seguradora, São Paulo e Rio ainda têm números muito acima do resto do país.
Fonte: Valor