Vendas do varejo encolhem 6,2% em 2016, queda recorde
Após crescer em novembro 1% sobre outubro, o varejo fechou o ano em queda, um recuo de 2,1% no segmento restrito, que exclui as vendas em volume de veículos e material de construção, conforme a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC). No ano, a redução foi de 6,2%, o pior resultado da série histórica divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que começa em 2003.
O dado bastante negativo de dezembro reitera o diagnóstico de que a atividade encerrou o último trimestre de 2016 em contração. Economistas avaliam, contudo, que a desaceleração no ritmo de queda do setor verificada entre outubro e dezembro sinaliza que o pior momento para o consumo durante esta recessão ficou para trás.
Nos últimos três meses do ano passado, o varejo ampliado recuou 0,9%, depois de encolher 2,6% no período julho-setembro, sempre na comparação com o trimestre anterior, feito o ajuste sazonal. No varejo restrito, as vendas diminuíram 1,2%, após uma redução de 1,6% no terceiro trimestre.
Dentro do varejo restrito,, apenas uma das oito atividades acompanhadas teve desempenho pior no último trimestre do ano passado, no mesmo confronto. As vendas no segmento de hipermercados e supermercados, alimentos e bebidas caíram 1,8% em relação ao terceiro trimestre, quando haviam diminuído 0,8%. No de tecidos, vestuário e calçados, considerado por especialistas um termômetro do ciclo econômico, a retração desacelerou de 5,4% para 1,2% entre os dois períodos.
Diante do desemprego crescente, do elevado nível de endividamento das famílias e do crédito ainda restrito, entretanto, o consumo continuará patinando neste primeiro semestre, avalia o economista da LCA Consultores Paulo Robilotti, e iniciará uma tímida recuperação na segunda metade do ano. Após o dado da PMC de dezembro, ele revisou sua estimativa para o indicador em 2017 de 1% para 0,5%.
Os números do varejo devem melhorar de forma mais consistente quando a taxa de desemprego finalmente estabilizar, afirma o estrategista-chefe para a América Latina do banco Mizuho, Luciano Rostagno, no segundo semestre. “Quando se consolidar a percepção de que o mercado de trabalho parou de piorar é natural que haja um estímulo à demanda, uma normalização do consumo”, pondera o economista, que projeta alta bem próxima de zero para a PMC neste ano.
Para o Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre de 2016, Rostagno espera queda de 0,4% sobre julho-setembro, quando a atividade recuou 0,8%, na série com ajuste das Contas Nacionais. O Bradesco e a corretora Icap estimam redução de 0,6% para o indicador, que será divulgado no próximo dia 7 de março.
A equipe da Tendências Consultoria projeta variação nula tanto para o varejo restrito quanto para o ampliado em 2017, também com uma trajetória gradativa de melhora, diante dos efeitos da desaceleração da inflação – que favorece não apenas o ganho real dos salários, como também a rentabilidade dos varejistas – e do impacto positivo do ciclo de corte de juros iniciado pelo Banco Central do fim do ano passado. Ajudado pela “reativação do mercado de crédito” e pela melhora na confiança dos consumidores, o segmento de veículos e peças elevaria as vendas em volume em 1%, afirma a consultoria em relatório, após recuar 14% em 2016.
O caminho para recuperação, porém, é longo. Com o tombo de 4,3% em 2015, o varejo restrito acumula queda de 10,3% nos últimos dois anos – o volume de vendas está 14% abaixo do pico, alcançado em novembro de 2014. No ampliado, o recuo é ainda maior, de 16,6%, com retrações de 8,6% e 8,7% em 2015 e 2016. “O dado de dezembro reforça que a demanda doméstica continua muito fraca”, afirma Rostagno, do Mizuho, ressaltando a forte revisão para baixo do crescimento de novembro, de 2% para 1%.
A queda verificada em dezembro, acrescenta Robilotti, da LCA, vai além da “devolução” da alta da Black Friday – evento que a dessazonalização do IBGE ainda não conseguiu expurgar completamente da série com ajuste. A retração nas vendas verificada em dois dos três segmentos tradicionalmente beneficiados pelas promoções, ele diz, mais do que compensaram o avanço do mês anterior.
Depois de crescer 2% em novembro, na comparação com outubro e feito o ajuste sazonal, as vendas em volume do ramo de móveis e eletrodomésticos encolheram 2,5%. As de hipermercados e supermercados despencaram 3,3%, na mesma comparação, ante alta de 0,8% em novembro. No segmento de outros artigos de uso pessoal e doméstico, a retração foi de 3,9% no último mês do ano passado, após alta de 4,3% em novembro.
O desempenho negativo dos supermercados no fim do ano passado, para a gerente da coordenação de serviços e comércio do IBGE, Isabella Nunes, é explicado em parte pelo comportamento da inflação dos alimentos para consumo em casa. Apesar da desaceleração expressiva, eles fecharam o ano em 9,4%, acima do índice cheio do IPCA, 6,3%.
Fonte: Valor