Usiminas terá novo desenho societário
RIO – A entrada da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) no bloco de controle da Usiminas pode ser definida nesta quarta-feira, quando acontecerá reunião do conselho de administração de acionistas da siderúrgica mineira. O assunto está na pauta do encontro, do qual participarão representantes da Nippon Usiminas vindos do Japão. A Nippon Usiminas, consórcio de empresas japonesas e maior acionista isolada da siderúrgica, tem sido a principal interlocutora da Vale no processo de reestruturação societária.
As negociações avançaram. Na semana passada, segundo fontes que têm acesso a acionistas da Vale, a empresa definiu que terá 10% do bloco de controle da Usiminas. A direção da Vale, procurada, não confirmou que a decisão tenha sido tomada pelo conselho da companhia, recusando-se a fazer qualquer comentário sobre o assunto.
A Vale é dona de 23% das ações ordinárias da Usiminas, mas todas fora do bloco de controle. A idéia é que, nesse jogo de xadrez, os 13% de ordinárias que não migrarem para o bloco de controle da usina mineira, localizada em Ipatinga, sejam oferecidos aos sócios ou vendidos em um pacote no mercado local ou na bolsa de Nova York. A segunda opção permitiria que a Usiminas passasse a ter ADR nível 2 naquele mercado. Hoje, a siderúrgica só tem títulos no mercado de balcão (ADR nível 1).
Esta oferta poderia render à Vale no mínimo R$ 1,1 bilhão (a ação ON da Usiminas fechou na sexta-feira a R$ 77,50 na Bovespa), permitindo que a mineradora dê uma demonstração às agências de risco de que não está disposta a aumentar sua alavancagem. As agências colocaram a classificação da Vale em observação depois que a empresa anunciou a oferta de compra da canadense Inco. Os US$ 18 bilhões que a companhia emprestará para pagar a aquisição elevarão sua dívida líquida a duas vezes sua geração de caixa.
Até o momento, não há informações concretas de que a Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil, que possui 14,9% de ações ordinárias da Usiminas, vai migrar para o bloco de controle da empresa. Para os analistas, isso só faria sentido se Vale e Previ entrassem cada uma com 5% no grupo dos controladores. No entanto, há rumores de que a Previ poderia participar com 10% no bloco. A informação não foi confirmada pelo fundo de pensão.
Tal hipótese é vista como ” impensável ” por analistas do setor de siderurgia. Eles argumentam que faz todo sentido a Vale ter sozinha 10% no bloco de controle da Usiminas ou Vale e Previ deterem juntas 10%. Este percentual não cria desequilíbrio no eixo de poder dos controladores, dominado pelo grupo da Nippon e tendo como principais acionistas os grupos Votorantim, Camargo Corrêa e Bradesco.
O grupo da Nippon, formado pela Caixa dos Empregados, Mitsubishi, MetalOne e a família Loureiro, da Rio Negro, possuem 33,7% do capital de controle da empresa. A Votorantim, Camargo e Bradesco, somam quase 20%. Se a Vale entrar com 10%, esse grupo avança para 30%, com mais 10% da Previ, chegaria a 40%. Isto só seria factível se a Nippon viesse a ampliar sua fatia nesse bolo e outros sócios encolhessem a sua ou mesmo se retirassem do negócio.
No desenho da reestruturação da Usiminas levantado pelo Valor com interlocutores próximos da operação, a expectativa é de que a Nippon amplie sua participação de 19,4%. Outra mudança se daria em relação às ações em poder da Caixa dos Empregados, hoje dona de 13,2%, reduzindo a participação para algo entre 8% a 10%. É dado também como certa a saída do Bradesco do capital da companhia, vendendo seus 2,6% para os sócios. A Votorantim seria uma das candidatas a adquirir um pedaço dos papéis do banco, dividindo este naco com a Camargo Corrêa, ambas integrantes da VBC, holding criada para controlar a CPFL energia.
A reestruturação da Usiminas, que vem sendo negociada há mais de um ano, faz parte de um programa que visa a expansão e internacionalização da siderúrgica, para torná-la mais competitiva em um momento de consolidação do setor no mundo. Uma das propostas da Vale é que a Usiminas defina até o começo do próximo ano a construção de uma usina de placas para exportação, na qual a mineradora se compromete a ser acionista minoritária. Fontes do setor apontam que o terceiro sócio poderia ser a própria Nippon Steel.
(Vera Saavedra Durão e Ivo Ribeiro | Valor Econômico)
Fonte: Valor