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Unicamp nota alta em estupros seguidos por ‘apagão’ de memória

Aumentou, nos últimos anos, o número de atendimentos a mulheres vítimas de estupro que relatam, após a violência, terem sofrido apagão de memória durante o crime.

A realidade é registrada no Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism), o Hospital da Mulher da Unicamp, em Campinas (SP), e deu origem a uma parceria com o Centro de Informação e Assistência Toxicológica (Ciatox) para que os casos sejam investigados e um mapeamento inédito de dados seja feito no Brasil.

O debate sobre os casos de mulheres que são dopadas e estupradas voltou à discussão após a influencer Franciane Andrade, de 23 anos, relatar ter sido sexualmente violentada a partir desta dinâmica no Rodeio de Jaguariúna.

Um exame feito por ela constatou, segundo a defesa, a substância usada no golpe “boa noite, Cinderela”.

O Caism avalia que é precoce a divulgação dos números da iniciativa até o momento, já que o levantamento ainda está em andamento.

No entanto, a médica da área de atendimento especial do hospital, Arlete Fernandes, adiantou ao g1 uma característica das vítimas. “A população de mulheres atendida pelo Caism tem a característica de baixo consumo de álcool e outras drogas durante a situação de violência quando comparamos com o descrito em estudos internacionais, mesmo em adolescentes”, explica a médica.

As vítimas de violência sexual chegam para atendimento na emergência do Caism, que é referência nos cuidados em saúde da mulher no país.

A partir desta semana, o hospital vai passar a receber as mulheres via sistema de regulação de vagas. Aquelas que recebem o diagnóstico do estupro, mas relatam não ter lembranças do ocorrido, são questionadas se desejam fazer a coleta de toxicológicos para avaliação.

A realização do exame depende do consentimento delas. “Temos feito isso [sugestão de exame toxicológico] para termos dados fidedignos a respeito [de casos de mulheres que são dopadas para estupro]”, explica Arlete. Se a vítima aceita fazer o exame e é encaminhada ao Ciatox, a coleta pode ser realizada por meio da urina ou sangue.

O toxicologista Rafael Lanaro, que participa da iniciativa no laboratório, alerta que a testagem deve ser feita o mais rápido possível. “Algumas [substâncias] somem em 24h. O tempo ideal para coleta é 12h após a droga entrar no corpo, isso para todos os tipos usados. Um dia depois, as chances de detecção já caem para 90%; 48h depois, fica entre 70% e 60%. Uma semana depois, essa porcentagem já fica muito sutil, em torno de 30% para menos”, explica.

E depois do exame toxicológico? Arlete ressalta que, além do atendimento dispensado às mulheres na emergência e a coleta de exames toxicológicos, os cuidados das profilaxias devem ser feitos nas primeiras 72 horas após o crime. “Neste período, fazemos a anticoncepção de emergência e as medicações para prevenir o HIV, hepatite B e as infecções por clamídia e gonococo”, explica a médica.

A partir do atendimento inicial, as mulheres são acompanhadas por seis meses com equipe multidisciplinar, incluindo psicólogos e psiquiatras, para diminuir os agravos para a saúde mental. “É importante a seguinte mensagem: toda mulher que sofrer violência sexual deve procurar o serviço de saúde o quanto antes, antes de completar as 72h. A efetividade da profilaxia será maior”, alerta.

“O Brasil é pouco engajado na causa de mulheres que são dopadas e estupradas”, diz Lanaro.

A realidade, segundo ele, fica demonstrada através da inexistência de dados sobre as vítimas. Dessa forma, traçar ações de combate fica mais difícil.

A parceria com o Caism busca sanar este gargalo. “Se você procurar a estatística epidemiológica disso [casos de mulheres dopadas e estupradas] hoje, não tem. Essa é uma falha. Quais são as substâncias usadas? Que perfil as vítimas têm? Nunca antes procuramos essas respostas”, finaliza.  

Fonte: NULL

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