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Uma nova ordem no mercado bancário brasileiro

Um banco múltiplo possui três fontes de receitas: intermediação financeira, prestação de serviços e operações de tesouraria. Possui também três principais riscos: riscos de mercado, riscos de crédito e riscos operacionais.
A história recente dos bancos no Brasil apresenta claramente cinco ciclos de desenvolvimento, sendo que o último deles acaba de começar.
1) A partir dos anos 50 e 60, a consolidação dos grandes bancos de varejo nacionais surge a partir do desenvolvimento econômico dos grandes centros metropolitanos em detrimento do poder das oligarquias rurais, com o surgimento de uma massa operária e de uma classe média demandando ampliação da rede de agências e eficiência operacional no controle das transações. Inicia-se o processo irreversível de investimentos em automação, padronização de processos e massificação da distribuição e comunicação. Pequenas casas bancárias são absorvidas por bancos de varejo mais eficientes. Foi também uma época áurea dos grandes bancos internacionais em busca de oportunidades de negócios relacionadas aos vultuosos investimentos em infraestrutura.
2) A partir dos anos 80 e 90, com a aceleração do processo hiperinflacionário, as operações de tesouraria assumem um papel destacado na geração de resultado dos bancos, sobrepujando eventuais ineficiências operacionais. O centro de poder nas instituições financeiras foi nitidamente concentrado nas mãos dos gestores do caixa do banco, em detrimento das operações de crédito e de mercado de capitais junto a empresas e pessoas físicas. Bancos internacionais concentraram-se nas operações de refinanciamento da dívida externa brasileira.
3) Com o Plano Real em 1994, depois de sucessivos planos econômicos fracassados, e o consequente desaparecimento do processo inflacionário, inúmeras instituições financeiras sucumbiram ao perderem as exorbitantes receitas com operações de tesouraria que camuflavam uma brutal ineficiência operacional nas atividades de intermediação financeira e de prestação de serviços. O processo de consolidação ganha novo impulso: grandes fusões e aquisições, privatização de bancos estatais, falência de conhecidas casas bancárias, e fortalecimento das vantagens competitivas voltadas para liderança em custos de grandes bancos privados nacionais. Inúmeros bancos estrangeiros vendem suas operações no país.
4) A partir de 2004, a estabilização monetária foi reforçada pelo boom no preço internacional de commodities e no maior acesso a crédito a famílias de baixa renda no Brasil. Nesse cenário econômico favorável, os grandes bancos de varejo nacionais concentraram esforços no aumento da intermediação financeira e da prestação de serviços, complementando seu crescimento orgânico com um apetite voraz por fusões e aquisições de outras casas bancárias de porte médio. O Banco Santander foi uma exceção ao comportamento mais conservador adotado pelos bancos estrangeiros nesse período.
5) 2009 marca uma nova etapa na dinâmica competitica do mercado bancário nacional. Pela primeira vez, quatro grandes bancos (Itaú-Unibanco, Banco do Brasil, Bradesco e Santander) predominam nos diferentes mercados e produtos financeiros. HSBC e Citibank ainda mantêm um posicionamento mais especializado em alguns nichos de mercado. No cenário macroeconômico, a taxa básica de juros real de apenas um dígito modificará sobremaneira a lógica estratégica-operacional da gestão bancária. As vultuosas aplicações em títulos públicos federais sofrerão significativa queda de rentabilidade, ao mesmo tempo em que as operações de intermediação financeira terão uma forte queda nos spreads.
Também os fundos de investimentos e as previdências privadas terão quedas nas taxas de administração. Esse movimento resultará num novo ciclo de reduções de custos via automação e fomento de canais alternativos de atendimento, bem como numa maior pressão para maior receita na prestação de serviços. Finalmente, tão logo a ressaca dessa atual crise financeira internacional termine, os grandes bancos de varejo terão a oportunidade concreta de ampliar suas operações no mercado internacional, provavelmente comprando bancos latino-americanos e, quiçá, bancos americanos e europeus.
Esse será o tema de minha palestra no 4th IDC Brazil Financial Insights Conference a se realizar em 18 de agosto em São Paulo. Mais informações: blog batuta&biruta.

Fonte: Valor

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