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Um pouco sobre seguro agrícola

Até recentemente o Brasil não havia se apercebido da importância do seguro como fomentador do agronegócio. Tanto isso é verdade que há poucos anos praticamente só São Paulo tinha uma política clara de proteção para o agricultor.
Esta ação começou a ser implantada ainda nos anos 1960, no governo Roberto Sodré, com a especialização da Cosep (Companhia de Seguros do Estado de São Paulo) neste tipo de risco. Daí para frente o Estado ofereceu de forma cada vez mais abrangente, em termos de culturas protegidas, cobertura para alguns tipos de riscos que ameaçam seus agricultores.
A sofisticação paulista culminou com a assunção de parte do custo do seguro agrícola pelo Estado, facilitando a contratação de apólices para a proteção principalmente do pequeno produtor rural.
O modelo paulista foi bem sucedido e o Governo Federal, percebendo o que acontecia e sua importância para a economia brasileira como um todo, decidiu copiá-lo, estendendo os benefícios recebidos pela agricultura bandeirante para todo o território nacional.
Começando de forma tímida, ano a ano as verbas para custear parte do preço do seguro agrícola do pequeno produtor têm evoluído de forma consistente, ampliando o universo coberto e melhorando as chances do homem do campo frente às agruras do seu tipo de negócio.
O maior problema para a evolução do seguro agrícola brasileiro é que ele ainda não é visto levando em conta a totalidade da cadeia do agronegócio. É assim que a imensa maioria das apólices destinadas à atividade cobre danos de origem climática.
Comparando nossas garantias com o que é praticado faz muitos anos nos Estados Unidos, veremos que estamos quase que na estaca zero. Lá os seguros para o agronegócio são encarados de forma abrangente, permitindo que uma grande parte dos benefícios oficiais destinados ao setor seja repassada através de apólices, descaracterizando a figura do subsídio.
Apenas a título de exemplo, o agricultor americano pode ser indenizado para não plantar. Vale dizer, o Governo conclui que determinada cultura numa safra não será interessante, então ele desestimula seu plantio garantindo, através da indenização paga por um contrato de seguro, o resultado líquido que o agricultor teria se plantasse, levando em conta um determinado preço mínimo.
Não devemos imaginar algo semelhante, pelo menos a curto prazo, mas a abertura do resseguro deve acelerar o desenvolvimento de produtos mais modernos do que os colocados à disposição da cadeia de produção agrícola brasileira.
É evidente que o agricultor é a base de todo o sistema e que, portanto, a proteção deve começar por ele e pela sua produção. Apólices modernas, cuja adaptação à nossa realidade não é tão complexa, podem suprir rapidamente as lacunas atuais, dando ao produtor rural a certeza da recuperação das perdas, frente a determinados eventos que o ameaçam e que hoje o impedem de investir mais, brecado pela ameaça de perder todo seu patrimônio.
Mas a abrangência deste tipo de proteção deve ir muito além para atender toda a cadeia produtiva. Da fazenda ao embarque para a exportação, há todo um universo de riscos ainda não corretamente protegido e que engloba mais seguros do que os destinados simplesmente a fazer frente às perdas de safra ou produção.
Transporte, armazenagem, instalações, equipamentos, créditos, garantias, etc., o rol de coberturas é muito grande e precisa ser visto como um único bloco. A hora que isto acontecer o Brasil dará mais um salto importante no rumo de se transformar no principal produtor de alimentos do mundo. Até lá, temos que diariamente fazer a lição de casa. Estudar o que os outros fazem e quais seus resultados. Trazer tecnologia e capital para adequar nossos produtos e capacidades de retenção de riscos. Investir no segmento e aprofundar a parceria entre o governo e a iniciativa privada. O agronegócio pode ficar melhor ainda se a cadeia de produção souber que está protegida.

Fonte: O Estado de São Paulo

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