Trabuco segue cotado para liderar Fazenda –
A presidente Dilma Rousseff ainda pode convidar o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, a comandar o Ministério da Fazenda, em substituição a Guido Mantega. Na longa conversa que teve com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, há duas semanas, ela indicou que faria o convite ao executivo durante ou depois da reunião do G-20?.
Trabuco, portanto, ainda não foi convidado, como chegou a ser noticiado. Quem deu a notícia não errou nem mentiu: aos interlocutores mais próximos, o presidente do Bradesco disse, por elegância, que não quer nem pretende assumir a Fazenda.
Na verdade, ele não foi convidado. E se for, como espera Lula, aceitará a oferta.No encontro da Granja do Torto, o ex-presidente da República não levou uma lista de nomes. Esses apareceram naturalmente durante o colóquio com Dilma. São eles: Trabuco, o ex-presidente do Banco Central (BC) Henrique Meirelles e o ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda Nelson Barbosa.
Presidente do Bradesco ainda pode ser convidadoNão é do feitio de Lula, nem caberia, impor nomes à presidente. O que ele fez e faz nas reuniões com sua sucessora é dar opinião.
Quando falaram de Barbosa, por exemplo, o ex-presidente fez questão de dizer que gosta dele, mas que seu nome é insuficiente para este momento. Voltará à carga com opinião contrária se a presidente insistir, mas não há o que fazer: a decisão, soberana, é dela.
O momento, acredita Lula, exige um nome que acalme o mercado de imediato. Para o ex-presidente, Trabuco e Meirelles possuem esse perfil. Já Barbosa terá que provar todo o tempo que tem apoio da presidente para agir. Ademais, ele foi um dos artífices da nova matriz econômica, aquela que produziu baixo crescimento, inflação alta, vulnerabilidade externa e deterioração fiscal.
Lula saiu da conversa de duas semanas atrás com Dilma com a impressão de que ela gostaria de nomear Barbosa para a Fazenda. De qualquer maneira, ela deu a entender que, primeiro, chamaria Trabuco. Não foi uma promessa, mas uma sinalização e, no entender de Lula, não para atender a uma exigência sua, mas por julgar necessário.
Presidente e ex-presidente ficaram de conversar no retorno da viagem a Brisbane, Austrália, onde Dilma participou do encontro do G-20. Uma novo contato entre os dois poderia ocorrer, portanto, ontem, hoje ou na sexta-feira amanhã, Lula tem agenda em Foz do Iguaçu (PR) e em Montevidéu.
Preocupado com a crise econômica que se avizinha, o ex-presidente acha que Dilma tem dois grandes problemas para enfrentar antes de iniciar o novo mandato a economia e o escândalo da Petrobras -, mas só possui condições de resolver um deles: o primeiro. Ela não pode errar agora por causa da crise da Petrobras, comentou um interlocutor comum aos dois. Lula acha que o governo pode se salvar via economia.
O temor é que a turbulência provocada pela nova fase da operação Lava-Jato produza uma crise sem precedentes. O governo só terá condições de enfrentá-la se encaminhar a economia, ou melhor, se reverter uma crise que se aproxima rapidamente. Lula viveu algo parecido em 2005, quando estourou o escândalo do mensalão: num dado momento, ele tinha apenas os bons resultados na economia inflação cadente e PIB em aceleração para se contrapor às denúncias de corrupção. Tanto que, em 2006, apesar do escândalo, foi reeleito.
A crise da Petrobras está fora do controle do governo. É um assunto para a Polícia Federal, o Ministério Público e a Justiça. Já a deterioração econômica está na sua alçada. Depende (ainda, enquanto é tempo) apenas das decisões de Brasília. Ninguém cobra que ela resolva o que não pode, mas ninguém aceita que não resolva o que pode. O benefício de resolver o que pode é que, assim, pode resolver o que não pode, brinca um aliado de Dilma e Lula.
Em favor de Nelson Barbosa há o fato de que, desde que deixou o cargo de secretário-executivo do Ministério da Fazenda, em meados de 2013, mudou algumas de suas opiniões. Filiou-se ao prestigioso Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas (FGV), talvez, o mais antigo think-tank do país, de perfil liberal; fez críticas veladas e abertas à política e à equipe econômicas lideradas por Guido Mantega; e, principalmente, reconheceu que é preciso fazer um ajuste fiscal razoável cujas medidas resumiu, em apresentação recente, num título curioso (Doze Trabalhos Fiscais, uma referência óbvia aos 12 Trabalhos de Hércules).
Não passou despercebido, há alguns meses, durante reunião na Anbima (entidade que reúne bancos e gestoras de investimento), comentário de Barbosa sobre a surpreendente decisão do Banco Central de reduzir os juros no fim de agosto de 2011. O movimento, batizado depois pelo mercado de cavalo de pau e que deu início ao processo que levou a taxa Selic real ao menor patamar da história, foi considerado desastroso por Barbosa. Feita a posteriori, a crítica foi acertada, afinal, o movimento do BC resultou de fato num fracasso retumbante.
Lula gostaria também de ver Meirelles no governo. Mas pesam contra o convite ao ex-presidente do BC dois fatos: Dilma possui diferenças com ele e sua nomeação faria o mercado entender que quem manda no governo é Lula e essa imagem é rejeitada pela presidente com todas as forças. É por isso que Lula quer desfazer a ideia de sua influência. Para ele, mais importante é que Dilma consiga governar, do contrário, ninguém salvará o projeto de poder do PT. A probabilidade de Meirelles vir a assumir depende do cenário de crise quanto maior for a confusão, mais chances ele terá de voltar a Brasília.A quem lhe pergunta o que fará se Dilma não ouvir seus conselhos desta vez, como, aliás, fez nos últimos três anos, o ex-presidente diz: Não vou brigar. Vou me afastar.Lula esperou desistência de Dilma
Em maio, quando tudo indicava que a presidente Dilma caminhava para ser derrotada na eleição de outubro, o ex-presidente Lula decidiu tratar da possibilidade de fracasso em vários encontros com a candidata. Lula achava que, de tanto discutir o assunto com ela, Dilma desistiria de concorrer. O ex-presidente estava prontíssimo para assumir a candidatura, mas decidira antes, para desgosto de muitos petistas, que não forçaria a presidente a renunciar. O direito é dela, justificou.
Fonte: Valor