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Trabalhadores sem carteira e autônomos puxam recuperação do emprego

A recuperação do mercado de trabalho brasileiro em 2017 é puxada pela expansão de vagas que tradicionalmente pagam menos e estão ligadas à economia informal: os empregos sem carteira assinada e os profissionais autônomos, os chamados trabalhadores por conta própria. E, neste ano, seus rendimentos médios estão ainda menores do que em 2016. No mercado formal, a situação é a oposta – há menos gente trabalhando com carteira assinada, mas o salário médio aumentou.

É o que apontam dados da última Pesquisa Nacional de Domicílios (Pnad) Contínua, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE). O desemprego vem caindo mês a mês desde fevereiro.

Em agosto, último dado divulgado, o número de desempregados no Brasil caiu 4,8%. Em relação ao mesmo período de 2016, no entanto, o número de pessoas sem trabalho aumentou 9,1%.

A realidade do mercado de trabalho brasileira é bastante desigual. Enquanto a quantidade de empregados com carteira assinada caiu 2,2% no trimestre encerrado em agosto, na comparação anual, a de trabalhadores sem carteira subiu 5,4%.

Aumentou também o número de pessoas trabalhando por conta própria, com alta de 2,8%. O IBGE classifica o trabalhador por conta própria como aquele que desenvolve a própria atividade econômica e não possui empregado. A categoria abrange de camelôs a advogados.

Um dos que deixou o emprego formal na crise e voltou ao mercado de trabalho como autônomo foi Carlos Junho, de 45 anos. Depois de 8 anos trabalhando com carteira assinada na área de administração, ele ficou desempregado em 2014. Sem conseguir emprego, apelou para a informalidade. Há um ano, ele trabalha como motorista na Uber.

“A decisão foi tomada no desespero mesmo. Tendo que pagar pensão [alimentícia], eu não tinha outra fonte de renda”, conta ele.
O trabalho de motorista de Uber paga as contas, mas Carlos Junho não está confortável com a condição informal do trabalho. “O problema é você não ter garantia nenhuma. Hoje você tem, amanhã, quem sabe?”, destacou.

Renda menor

Os dados também mostram que os trabalhadores por conta própria e sem carteira assinada estão ganhando menos. Enquanto os trabalhadores com carteira tiveram aumento médio de 3% em seus rendimentos, os que não possuem carteira tiveram queda de 2,2% e os que trabalham por conta própria, de 2,4%, já considerando os efeitos da inflação. Ao mesmo tempo, o rendimento dos empregadores subiu 8%.

“Essas pessoas estão ficando para trás na recuperação da economia”, comenta o economista Everton Carneiro, analista da RC Consultores, sobre o rendimento dos trabalhadores sem carteira e por conta própria.

Ele destaca ainda que, entre os profissionais autônomos, os mais prejudicados são os informais. “A vasta maioria dessas pessoas está em situação mais difícil. A gente tem muito mais camelôs do que advogados e contadores”, ilustra Carneiro.

Segundo o IBGE, 81,6% dos trabalhadores por conta própria são informais – não tem Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ) – e 70% não contribuem com a Previdência Social. Dentre os quase 13 milhões de trabalhadores sem carteira assinada, 80,6% também não contribuem com a Previdência.

Do emprego formal ao bico

Francisco Cleiton, de 38 anos, trabalhou por mais de 15 anos no ramo de construção civil. Perdeu o emprego com carteira assinada na crise em 2015, junto com outros familiares. Hoje, a família faz comida em casa e vende marmitas na rua.

Cleiton conta que a quantidade de horas trabalhadas caiu – assim como a renda familiar. “O lado positivo de trabalhar informal é que a gente chega aqui, vende e quando acaba vai embora. Não tem que cumprir horário”. O lado negativo, enfatiza ele, é a incerteza quanto ao futuro do negócio e o fato de estar desprovido de garantias trabalhistas, como férias, 13º salário e Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).
“Sou mais feliz seguro. A informalidade não me dá essa segurança”, lamenta Cleiton.

Situação de emergência

O crescimento do trabalho sem carteira e por conta própria, mesmo com menos garantias e rendimento menor, “é reflexo da crise acentuada que tivemos”, como explica o economista Sergio Firpo, professor do Insper. “Isso faz com que o novo trabalhador acabe, nessa situação emergencial, aceitando salários menores do que o de costume, e possivelmente no mercado informal.”

Fonte: O Globo

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