Toda empresa tem seu preço, mas momento não é de venda
Após ajustes, Golden Cross prevê faturar 7% mais neste ano e chegar a R$ 1,6 bilhão
A insistente fumaça de negociação de controle que o mercado vê sair há meses da sede da Golden Cross, no bairro da Tijuca, zona norte do Rio, é falsa, gelo seco. É o que afirma seu presidente, José Carlos Regado. Segundo ele, a Golden Cross, uma das seis maiores do mercado nacional de planos de saúde, com cerca de 900 mil vidas, é compradora. Mas ressalva que ninguém está imune a uma oferta de valor realmente irrecusável: Toda empresa tem seu preço, disse Regado.
Mas o momento não é de venda. Não há valor, pondera o empresário. A tendência do setor é de concentração, mas ele considera que, no momento, as grandes operadoras que fizeram aquisições precisam digerir suas compras e redesenhar a estratégia. Ele lembra que a crise de 2008/2009 derrubou os resultados das seguradoras. Houve aumento da sinistralidade – maior uso dos serviços pelos clientes, causado principalmente pelo medo de perda do emprego e, como consequência, ficar sem plano de saúde. A gripe suína ampliou a demanda e apertou mais o caixa das operadoras.
Na Golden Cross, segundo o executivo, o saldo foi um lucrinho insignificante de R$ 7,34 milhões, em 2009, proporcionado, em parte, pelos ajustes feitos na companhia. No campo operacional, as principais mudanças foram incrementar fortemente a gestão do doente crônico e atuar fortemente no fornecimento de próteses e órteses. No primeiro caso, a estratégia foi montar um produto voltado para os doentes crônicos que, entre outros pontos, estimula o paciente a cumprir todas as etapas do tratamento, de modo a evitar atendimentos de emergências que encarecem o plano de saúde. Iniciado há três anos, o plano tem hoje cerca de 10 mil segurados.
No caso das próteses (substitui um órgão ou função) e órteses (dispositivos para correção, como joelheira, aparelho ortodentário e outros), o objetivo, explicou Regado, foi evitar distorções entre o preço e a qualidade do produto fornecido ao paciente.
Houve também corte de 10% a 12% nas despesas administrativas. Segundo Regado, a parcela de redução de pessoal foi pequena. A Golden Cross tem cerca de 1.250 empregados, 25% mais do que em 2007. A empresa faturou, em 2009, R$ 1,5 bilhão. Projeta para este ano crescimento próximo a 7%, chegando a R$ 1,6 bilhão de venda.
Apesar da crise, o faturamento da empresa cresceu cerca de 50% nos últimos três anos (foi de R$ 1,012 bilhão em 2006), quando investiu fortemente para aumentar sua fatia no mercado paulista, correspondente a cerca de 30% do nacional. A meta era elevar a receita paulista de 35% para 50% das vendas totais.
O crescimento da Golden Cross em São Paulo , segundo o presidente, foi forte, mas a participação relativa do Estado no total da receita segue próximo aos 35%, enquanto a do Rio de Janeiro é de 40%. A operadora tem filiais também em Belo Horizonte, Brasília, Salvador, Porto Alegre, Belém, Recife e Vitória.
Regado aposta no desenvolvimento de planos para microempresas, substituindo os individuais que hoje representam apenas 20% da carteira da Golden Cross (eram 35% em 2007). Explica que o plano para microempresas é mais barato do que o individual, mais flexível em relação à regulamentação do setor e oferece os mesmos benefícios. A Golden Cross praticamente triplicou o total de segurados, passando de 376 mil em 2000 para 900 mil este ano.
Fundada em 1971 pelo advogado, e até hoje controlador, Milton Soldani Afonso, a Golden Cross chegou a ser sinônimo de plano de saúde, especialmente no Rio de Janeiro. Passou por uma forte crise na década de 1990, quase chegando a fechar, e agora, o presidente afirma que pretende estar entre as empresas que vão às compras e não entre as compradas.
Como a tendência do mercado é de concentração, o executivo avalia que não haverá espaço, exceto em nichos especializados, para empresas com carteira de 50 mil a 100 mil vidas seguradas.
Fonte: Valor