Tesouro tem colchão de liquidez para mais de 6 meses
O Tesouro Nacional dispõe de um colchão de liquidez para ficar mais de seis meses fora do mercado de dívida. Trata-se de um conforto além do definido como necessário, que é entre três e seis meses. A conta única do Tesouro no Banco Central é de R$ 1,016 trilhão, sendo que a reserva de liquidez é uma parte desse total. Já os vencimentos de títulos nos próximos seis meses, até outubro, é de R$ 276 bilhões.
O subsecretário da Dívida Pública, José Franco Medeiros de Morais, considera que hoje o mercado está funcional e prevê que em algum momento voltará ao calendário de leilões de venda de títulos públicos. O retorno, porém, será gradual e a oferta de papéis deverá ser menor do que o que foi definido originalmente.
Franco explicou ao Valor que de janeiro até os dias que antecederam a crise – decorrente da divulgação da delação dos irmãos Batista, da J&F, envolvendo o presidente Michel Temer – o Tesouro Nacional fez rolagem de 120%, acima, portanto, dos vencimentos e que isso lhe dá uma folga para reduzir a oferta a partir da reprecificação dos ativos que ocorreu nos últimos dias.
O Tesouro Nacional está “atento” e pode atuar em três vertentes: na compra, na venda e na compra e venda de papéis da dívida pública. Franco afirma que o objetivo é entregar a dívida nos limites do programado no Plano Anual de Financiamento (PAF) ao fim deste exercício.
Na semana passada, sobretudo na quinta feira, dia seguinte ao da divulgação da delação, o mercado “perdeu a referência” de preços. A estratégia de atuação do Tesouro foi entrar nas duas pontas, a de compra e a de venda, para reestabelecer essa referência na medida em que havia demanda tanto de investidores que queriam comprar quanto vender. Desde então, houve uma “saudável reprecificação” dos títulos – principalmente os indexados ao IPCA e os prefixados (as NTN-F e NTN-B).
Em um único dia, naquela quinta feira, o preço chegou a ter variação de 160 pontos básicos, abrindo um spread grande. Já na quarta feira, mesmo com todo tumulto dos protestos realizados em Brasília pelas centrais sindicais, os juros caíram 30 pontos básicos.
Os objetivos na gestão da dívida são basicamente dois, segundo Franco: prover referência de preços ao mercado e aliviar a pressão sobre a curva dos juros.
O saldo final da atuação extraordinária do Tesouro nos três dias que se seguiram às delações de Joesley e Wesley Batista, da J&F (dias 19, 22 e 23), foi de R$ 2,11 bilhões em compras líquidas.
O Banco Central também ofertou US$ 10 bilhões em swaps cambiais nesses três dias.
A crise política, ao retardar a votação da reforma da Previdência, deverá alterar também a política monetária concebida antes da semana passada. Nos próximos dias 30 e 31, o Copom reúne-se para definir os rumos da Selic. Não consta mais do radar do mercado a previsão de intensificar o corte dos juros para além de 1 ponto percentual. Mantendo a projeção de corte de 1 ponto percentual, a taxa de juros cairia para 10,25% ao ano.
Do dia 16 para cá, o dólar teve alta de 6,6%. Uma valorização que não teria força para comprometer a inflação em um patamar superior à meta.
Fonte: Valor