Telecom Italia admite venda da TIM
O controlador e presidente do conselho de administração da Telecom Italia, Marco Tronchetti Provera, admitiu ontem a possibilidade de vender a TIM, operadora de telefonia móvel com forte presença no Brasil – o que sinaliza uma drástica mudança na estratégia abraçada pelo grupo até recentemente.
A afirmação foi feita durante teleconferência com analistas (da qual jornalistas puderam participar como ouvintes) na qual o empresário deu alguns poucos detalhes sobre o processo de reestruturação da Telecom Italia. Nele, as áreas de celular e acesso telefônico fixo local serão desmembradas em duas empresas que serão criadas especialmente para essa finalidade, numa medida aprovada ontem pelo conselho de administração.
Sem dar muitos detalhes, Provera disse que até agora não recebeu propostas por esses ativos, mas acrescentou que irá analisar as que eventualmente forem apresentadas. Ele disse que ficou sabendo “pelos jornais” do suposto interesse da espanhola Telefónica na TIM.
Se concretizada, a venda da unidade de celular poderá detonar uma onda de consolidação no mercado brasileiro. Analistas apontam a Telefónica e a mexicana América Móvil como as maiores interessadas nos ativos da TIM. Entretanto, elas já estão presentes no país. A primeira divide o controle da Vivo com a Portugal Telecom, enquanto a segunda controla a Claro.
A TIM é a segunda maior operadora de telefonia móvel do Brasil, com 24,6% do total de usuários, segundo dados referentes a julho divulgados pelo site especializado Teleco.
Segundo Provera, nada se falou sobre os ativos que a Telecom Italia tem no Brasil durante a reunião do conselho. Porém, ele reiterou que a participação do grupo na Brasil Telecom (BrT) está à venda. “Nós já demos um mandato para isso”, destacou.
O grupo italiano tem até outubro para equacionar a sobreposição de licenças de telefonia móvel e longa distância que tem com a BrT. A Anatel já disse que esse prazo não será estendido.
Fonte próxima aos fundos de pensão controladores da BrT disse que as conversas vêm acontecendo nos últimos quatro meses, mas nunca foi consistente porque os italianos estariam pedindo um preço alto demais.
Esse interlocutor acrescentou que, após o anúncio da reestruturação, ficou claro por que as conversas não avançavam. “Eles estavam às voltas com problemas muito mais complexos”, disse, referindo-se à divida do grupo, superior a 40 bilhões de euros. “A participação na Brasil Telecom é pequena, 5% do capital, a venda não resolve o problema.”
De acordo com essa fonte, a venda do controle da TIM nunca foi mencionada nas negociações.
Porém, na interpretação de analistas, o interesse dos italianos em vender a unidade de telefonia móvel ficou evidente ontem e revelou uma medida drástica para tentar melhorar as finanças do grupo. Há apenas dois anos, a Telecom Italia desembolsou bilhões de euros para adquirir em bolsa a participação na TIM que ainda não possuía, apostando todas as suas fichas na convergência de serviços fixos e móveis.
As ações da TIM dispararam ontem na Bovespa, bem como as da Vivo, que poderá se beneficiar da redução do número de concorrentes – caso a venda da rival seja confirmada – ou da solução do conflito entre seus controladores portugueses e espanhóis.
“A grande mensagem disso tudo é que, antigamente, a Telecom Italia não falava na possibilidade de vender a TIM e agora fala”, destacou o analista Valder Nogueira, do Santander Banespa. Stephen Graham, do UBS, fez a mesma avaliação. Para o diretor-geral da consultoria Yankee Group no Brasil, Luís Minoru, não está claro se a TIM seria alvo de uma oferta local ou teria de ser vendida numa pacote com as operações globais.
Mas, qualquer que seja o cenário, a possível venda da TIM muda as perspectivas do quadro competitivo do país.
“Trocar de mãos para um concorrente que já está no país mudaria muito a paisagem, pois a TIM é hoje o competidor mais forte. Vive o melhor momento, tem a maior receita por assinante e sua participação de mercado está subindo”, observou Graham.
O presidente mundial da Telefónica, Cesar Alierta, declarou recentemente a analistas que não faria aquisições na Europa até 2007 e que suas prioridades seriam ativos na China e a Vivo – o que pode dar margem à interpretação de que adquirir a TIM seria uma oportunidade de fortalecer as operações no Brasil. O interesse esbarraria em questões regulatórias, pois haveria uma sobreposição de licenças e uma forte concentração de mercado.
Para Nogueira, o maior candidato é a América Móvil, uma vez que o grupo mexicano tem muito fôlego para investir e que Claro e TIM já adotam a mesma tecnologia – o GSM.
Não por acaso, a disputa pela liderança no mercado latino-americano tem sido polarizada justamente por esses competidores: o grupo mexicano e o espanhol.
Segundo fonte ligada a uma operadora, os ativos da Telecom Italia deverão atrair também fundos de “private equity”, que estão com bastante dinheiro em caixa para investir.
Segundo Graham, do UBS, até mesmo Brasil Telecom e Telemar podem se interessar pela TIM Brasil. Embora sejam vistas pelo mercado como operadoras à venda, ambas têm procurado crescer, apoiadas na convergência entre telefonia fixa e móvel.
Fonte: Valor