Tecnologia amplia risco nas profundezas do mar
O Brasil hoje está posicionado entre os 15 maiores produtores de petróleo do mundo. De acordo com a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), em 2011 a produção de petróleo foi a maior já registrada na história do País, ao atingir aproximadamente 768 milhões de barris de petróleo e 24 bilhões de metros cúbicos de gás natural.
No ano passado, somente a Petrobras foi responsável pela produção de mais de 2 milhões de barris de petróleo por dia.
Segundo dados da empresa, de 2005 a 2010 51% dos 34 bilhões de barris de petróleo descobertos no Brasil foram oriundos da exploração em águas profundas. Descoberto em 2006, o pré-sal já produz comercialmente 200 mil barris por dia. A grande oportunidade, que será sustentada durante décadas, é o investimento na exploração e produção de petróleo. Isso baseado no que já temos descoberto, além das novas fronteiras, que cada vez mais se deslocam para o mar, destaca o diretor financeiro de Relações com Investidores da Petrobras, Almir Barbassa.
Riscos de Petróleo é um dos ramos que contém coberturas mais diversas, já que é dividido em duas partes – onshore (em terra) e offshore (no mar). É neste ponto que estão os desafios e as oportunidades para a indústria de seguros.
O risco é maior. Se todo o petróleo tivesse em terra, como na Arábia Saudita, em que se tem petróleo a 20 metros abaixo da terra, não precisaríamos de tecnologias mirabolantes para procurar no mar, diz Ângelo Colombo, diretor de Grandes Riscos da Allianz Seguros.
De acordo com ele, o pré-sal é o maior desafio, pois se fala em 7 mil metros de profundidade, sendo 2 mil de água e 5 mil de rocha e sal, os quais não se tem conhecimento. Por isso, a indústria de seguro terá que se preparar para ofertar estas coberturas porque sem seguro ninguém vai perfurar poços desta magnitude.As seguradoras acompanham o trabalho dos clientes em águas profundas, em um esforço conjunto para conhecimento este novo mundo, pois, na medida em que o mercado brasileiro avança na exploração e produção de petróleo, o campo para proteções securitárias é ampliado.
Na medida em que se caminha para prospecção e exploração de petróleo, maior é a aplicação de tecnologia. Por conta do ambiente em que as operações são desenvolvidas, conforme o advogado Luis Felipe Pellon, titular do escritório Pellon & Associados, os riscos tornaram-se enormes e gravosos, pois nos últimos anos o mercado se desenvolveu técnica e logisticamente, com equipamentos de alto valor e complexidade.
O emprego de nova tecnologia é um dos pontos citados por Carlos Vinicius Simonini, coordenador de Riscos de Petróleo do IRB-Brasil Re, além do rápido crescimento do setor e o surgimento de novas empresas, a perpetuação das boas práticas, a falta de profissionais experientes e as amarrações contratuais. Ele também inclui as operações em águas ultraprofundas em operações crescentes e complexas, os estaleiros disponíveis aptos a suprir novas demandas, os custos e os valores envolvidos crescentes e a distância da costa, especialmente na bacia de Santos como desafios para as seguradoras. Inclusive, em 31 de janeiro deste ano, a Petrobras detectou o primeiro vazamento expressivo de óleo na camada do pré-sal da bacia de Santos a cerca de 250 km de Ilha Bela, no litoral de São Paulo.
Para Simonini, as grandes campanhas exploratórias em águas profundas representam oportunidades, por aumentar a demanda por cobertura de Despesas Extras do Operador, a qual cobre despesas advindas de descontroles de fluxos de óleo, gás ou fluído nas operações de poços. Além de, menciona, aumentar a demanda por cobertura de engenharia offshore, especialmente de unidades para explorar e produzir em blocos marítimos que possuem reservas na camada pré-sal.
Ele ainda assinala a complexidade dos contratos neste segmento, em virtude de as empresas de petróleo operarem na produção e comercialização do álcool, que é obtido através de técnicas e métodos diferentes, e extração, refino e distribuição de petróleo (diesel e gasolina). Toda esta diversidade é oferecida ao mercado segurador, às vezes pela mesma empresa, trazendo grandes dificuldades para as seguradoras avaliarem riscos e calcularem prêmios adequados.
Profundidade do seguro
Segundo Almir Barbassa, a Petrobras tem como objetivo chegar em 2015 sendo responsável por 4 milhões de barris. Para 2020, a meta é atingir a produção de 6,4 milhões de barris. Para isso, somente na área de offshore vamos precisar instalar 19 novas unidades de produção e cada uma custa cerca de US$ 1,5 bilhão.
Ele destaca a importância da indústria seguradora nesta área, pois cada nova unidade que é construída demanda apólices de Risco de Engenharia, Construção e Operacional, além de Riscos de Petróleo. A Petrobras é uma grande pagadora de prêmios. Temos um crescimento e o valor segurado também. São US$ 100 bilhões de valores segurados, somente nas apólices de Risco Operacional e Petróleo no Brasil. Se incluirmos Riscos de Engenharia, chegamos a US$ 160 milhões em prêmios ao ano. Inclusive, a vasta oportunidade existente no País foi relatada por Almir Barbassa durante o 1º Encontro de Resseguro do Rio de Janeiro realizado pela CNseg, Aber, Abercor-Re e Escola Nacional de Seguros realizado no ano final de 2011.
Com uma área específica para atender petróleo iniciada em 2002, a Itaú Seguros aposta no segmento, em que, segundo o superintendente, acompanha os passos dos clientes nestas descobertas. Todos aprendemos juntos, diz.
Ravazzi ainda destaca que a apólice de petróleo é taylor made, sendo danos à propriedade e responsabilidade civil as coberturas mais demandadas. No entanto, os seguros de construção e equipamentos vêm sendo alavancados, devido ao fato de as empresas construírem plataformas e estaleiros.
Para o coordenador do IRB, uma tendência entre os resseguradores é a revisão de alguns métodos de taxação. A maioria dos resseguradores tem uma subscrição cada vez mais intensiva em informações e de aceitação mais restrita, principalmente no que tange a riscos de responsabilidade civil contra terceiros offshore e despesas extras do operador.
Nesse sentido, ele também observa um approach cada vez mais intenso de engenharia de risco. Um cálculo mais apurado do acúmulo de exposições presentes em diferentes apólices subscritas é outro ponto importante na agenda de todos os principais resseguradores.
Já em relação ao nível de capacidade, segundo estimativas de Simonini, para riscos operacionais o mercado apresenta cerca de US$ 4 bilhões e para riscos de construção US$ 3 bilhões. O IRB hoje é o ressegurador que possui o maior arranjo de resseguro no mundo para o segmento, estendendo nossa capacidade para cerca US$ 1,3 bilhão por risco. Embora a maioria dos resseguradores no mundo tenha apresentado resultados ruins no segmento nos últimos anos, a capacidade disponível se mostrou estável com viés de alta, em função da crescente demanda por limites maiores e do aumento do valor dos projetos.
Carlos Vinicius Simonini ainda acrescenta a expansão do segmento em 2011. O ramo de riscos de petróleo cresceu mais de 100% de 2010 para 2011, produzindo cerca de R$ 350 milhões em prêmio emitido. Cerca de 85% é cedido facultativamente para o mercado de resseguro e, hoje, o IRB detém cerca de 50% de market share no segmento, diz o especialista, para quem os holofotes do mercado de Oil & Gas internacional estão hoje sobre o Brasil.
Na área de Riscos de Petróleo, o mercado também se vangloria de o Brasil estar localizado em uma região em que não há condições climáticas severas. Como o Golfo do México e uma área da Noruega, que é extremamente complicada do ponto de vista de rigor climático, com ondas do próprio tamanho da plataforma, comenta o superintendente de Riscos de Petróleo da Itaú Seguros, Vanderlei Ravazzi.
Entretanto, esse nicho de negócio sente os reflexos dos problemas globais. Em se tratando da divisão de offshore, como o mercado de seguros é bastante restrito, pois não se tem muitas seguradoras com apetite para este risco, qualquer acidente no mundo gera uma perturbação nas condições de preço, explica Ângelo Colombo.
Foi o caso do acidente no Golfo do México, em 2010, em que uma plataforma da BP explodiu e ocasionou o vazamento do óleo e afetou o preço do seguro para plataformas em nível global, inclusive, no Brasil. Com isso, o País fica dependente do que está acontecendo no mercado internacional, pois não temos uma massa de negócios suficiente para ter um preço desvinculado da realidade internacional, justifica o diretor da Allianz.
Segundo o coordenador do IRB-Brasil Re, nos últimos três anos o mercado internacional de energy sofreu algumas perdas significativas. Especialmente com o blowout do poço Macondo no Golfo do México, e um dano a uma FPSO da Maersk e seus equipamentos subsea no mar do Norte, após uma pesada tempestade. Perdas operacionais aliadas a pobres retornos financeiros fizeram com que o mercado entrasse em uma tendência geral de hardening – aumento de preços e endurecimento de condições.
Entretanto, em função do apetite dos principais players por riscos brasileiros, a maioria dos seguradores aceita participar de riscos no Brasil sob condições mais competitivas. Por diversos fatores, como perspectivas de crescimento de longo prazo, ausência de oportunidades de investimento alternativas e baixa exposição a riscos catastróficos, resume Simonini.
Já os navios plataformas, segundo o diretor da Allianz, são inspecionados com periodicidade, pois caso haja alguma trinca no casco, pode gerar vazamento de óleo. Analisamos os relatórios de trincas dos mergulhadores, sem isso não se faz o seguro, diz o executivo que ressalta a necessidade de especialização para atuar no segmento e para quem também é emergencial a mão de obra especializada, ou seja, engenheiros de petróleo. Esse é um novo risco, pois temos pessoas com pouca experiência trabalhando com riscos de grande magnitude.
Luiz Felipe Pellon ressalta que o mercado de petróleo, que engloba a cadeia de extração, refino e distribuição, é um mundo novo. Altamente tecnológico, com riscos e consequências ainda não perfeitamente intuídos. Há que se ter enorme cuidado em sua análise, assim como na modelação das cláusulas contratuais, de forma a limitar e particularizar os riscos que o segurador deseja assumir, evitando assim surpresas indesejáveis no futuro, recomenda o advogado. (Edição 123)
Fonte: Valor