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Swiss Re paga agora pela ousadia que lhe deu vida nova nos últimos anos

Jacques Aigrain, diretor-presidente da Swiss Reinsurance Co., ajudou a transformar esta sonolenta seguradora em uma máquina de gerar lucros, fazendo-a funcionar mais como um banco de investimentos. Agora, alguns investidores temem que a estratégia de Aigrain tornará a empresa especialmente vulnerável a uma onda de problemas que atinge o setor na Europa.
Nos últimos 12 meses, a Swiss Re amargou prejuízo de cerca de três bilhões de francos suíços (US$ 2,5 bilhões) com a desvalorização de investimentos em derivativos de crédito, instrumentos arriscados que poucas outras seguradoras se dispuseram a assumir, ficando assim entre as seguradoras européias mais atingidas pela crise. Investidores e analistas temem que haja mais prejuízos agora que a acentuada queda dos mercados tem reduzido o valor do grande volume de papéis que a empresa possui, como títulos corporativos e complexos instrumentos de investimento.
“É difícil saber o quanto eles terão que dar baixa contábil”, disse John Raymond, analista da pesquisadora CreditSights. “Existe a chance de que surjam (…) coisas que de repente venham a surpreendê-los – e a nós também.” A exposição da Swiss Re aos derivativos só veio à luz quando a empresa teve que reconhecer seus prejuízos.
Aigrain tem demonstrado coragem, dizendo que a firma, com sede em Zurique, está procurando aproveitar a crise para ganhar mercado. Recentemente a Swiss Re adquiriu uma divisão de seguros do banco britânico Barclays PLC por cerca de 750 milhões de libras esterlinas (US$ 1,16 bilhões).
Mesmo assim, a Swiss Re já advertiu que novas baixas contábeis podem forçá-la a emitir ações para reforçar sua liquidez – medida que iria diluir o patrimônio dos acionistas já existentes. No mês passado a Swiss Re divulgou perdas de 304 milhões de francos no terceiro trimestre, seu primeiro prejuízo em quase seis anos.
Desde o início do ano, as ações da Swiss Re caíram quase 40%. Até novembro, o patrimônio da seguradora em instrumentos complexos, como títulos hipotecários, representava cerca de 250% de seu valor de mercado – comparado com cerca de 30% e 130% para suas concorrentes alemãs Munich Re AG e Hannover Re AG, respectivamente, segundo analistas da Dresdner Kleinwort.
Como reflexo da preocupação dos investidores, o custo do seguro contra a inadimplência da Swiss Re subiu para mais que o dobro de algumas outras resseguradoras.
As dificuldades da Swiss Re refletem uma situação problemática mais ampla que afeta a indústria de seguros européia, agora que a turbulência dos mercados desvaloriza as ações e títulos em que essas firmas investem os prêmios de seguro dos clientes. Com a baixa contábil desses investimentos, é preciso lançar mão das reservas de capital que as seguradoras têm que manter como proteção contra prejuízos inesperados, o que pode obrigá-las a levantar capital, como já fizeram vários bancos nos últimos meses.
A Swiss Re é especializada em resseguros, ou seja, assume os riscos de outras seguradoras, e não vende apólices diretamente aos clientes. Aigrain, ex-diretor de investimentos da J.P. Morgan Chase & Co., entrou na Swiss Re em 2001 como parte de um programa para dar nova vida à firma. A Swiss Re, com 145 anos de idade, foi muito atingida pela queda das bolsas e pelo pagamento de indenizações a vítimas de exposição ao amianto e aos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001.
No início de seu mandato de diretor-presidente, em janeiro de 2006, Aigrain procurou assumir mais riscos e buscar mais os mercados de capital, usando estratégias inovadoras para aumentar os lucros – em essência, fazendo a Swiss Re atuar mais como um banco de investimentos. Naquele ano, o retorno da empresa sobre o capital mais do que dobrou, chegando a 8,7%, segundo a Capital IQ, firma de informações financeiras.
Mas enquanto muitas concorrentes evitavam recorrer demais aos derivativos complexos, a Swiss Re entrou firme nesse mercado. Em 2006 e 2007 ela vendeu proteção para cerca de US$ 4 bilhões em papéis arriscados, vinculados a hipotecas, incluindo títulos de hipotecas comerciais e conjuntos de dívidas conhecidos como CDOs. Essas transações, que a empresa só revelou em novembro passado, consistiam de dois swaps de crédito, que são uma forma de seguros contra a inadimplência de dívidas de todo tipo. Os mesmos instrumentos financeiros que derrubaram a American International Group Inc.
“Em retrospecto, teria sido melhor não nos envolvermos nesses contratos”, diz George Quinn, diretor financeiro da Swiss Re.

Fonte: Valor

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