Socorro a seguradoras ajuda na virada
As bolsas americanas conseguiram uma forte recuperação ontem, com a Média Industrial Dow Jones subindo quase 600 pontos em relação ao ponto mais baixo do dia para fechar no azul. Investidores deixaram de lado seus receios quanto à saúde do setor bancário e à queda dos lucros das empresas e despejaram dinheiro em ações.
A corrida, depois de dois dias de queda em bolsas ao redor do mundo, culminou num frenesi de compra de ações à tarde que durou 30 minutos e fez a Média Dow Jones fechar em alta de 2,5%, ou 298,88 pontos, a 12.270,17 pontos. O índice continua em queda de 7,5% no ano.
A virada da Dow, de 631,86 pontos entre a cotação mais baixa e a mais alta do dia, foi a maior desde julho de 2002, um dos pontos mais baixos da última fase de vacas magras da bolsa. Recuperações de mais de 500 pontos em um só dia só aconteceram cinco vezes desde 1995, a maioria em momentos de grande mudança no mercado.
“Foi uma alta de torcer o pescoço”, disse Steven Grasso, gerente de operações no pregão da Bolsa de Nova York da corretora Stuart Frankel. “A gente estava comentando como tudo aconteceu tão rápido.”
A virada ganhou velocidade à tarde com notícias de que autoridades do mercado segurador haviam se reunido com firmas de Wall Street para discutir maneiras de estabilizar e talvez socorrer grandes seguradoras de renda fixa, que haviam ameaçado paralisar partes do sistema financeiro muito expostas a investimentos ligados a hipotecas de alto risco, ou “subprime”. Como essas seguradoras cobrem bilhões de dólares em títulos de renda fixa em poder de grandes firmas financeiras, suas dificuldades teriam amplas implicações. Pessoas familiarizadas com as negociações disseram que os participantes da reunião discutiram levantar até US$ 15 bilhões em dinheiro novo para as seguradoras.
As ações de grandes seguradoras de títulos dispararam com a notícia. A da MBIA Inc. subiu 30%, e a da Ambac Financial Group Inc., 70%, enquanto ações financeiras valorizaram mais de 8%. Ações de grandes bancos e corretores têm ido bem desde que o Federal Reserve, o banco central americano, anunciou um corte de juros surpresa terça-feira, de 0,75 ponto porcentual. É um sinal de que investidores acreditam que o pior pode já ter passado para o setor, que foi quem levou o mercado a começar a cair em meados do ano passado. Esse foi praticamente o único setor a subir na maior parte do dia, mesmo quando a Dow chegava ao ponto mais baixo desde setembro de 2006 e 18% abaixo do recorde.
As preocupações dos investidores parecem ter mudado do setor financeiro para temores mais gerais a respeito da perspectiva para os lucros das empresas no caso de uma recessão. Os lucros aumentaram bastante no último período de avanço prolongado das bolsas e foram o principal motor do mercado até começarem a engasgar nos últimos dois trimestres.
Essas preocupações ficaram evidentes nas ações de tecnologia ontem. Apple e Google, duas referências do setor, tiveram forte queda, de respectivamente 10,7% e 6,1%. Os investidores desovaram ações da Apple depois que a empresa divulgou sólidos resultados, mas previsões mais modestas, enquanto as do Google caíram por causa de temores relacionados a seu investimento em bandas de celular e ao panorama para a publicidade. Em seu nível mais baixo, as ações do Google chegaram a cair 11,1%.
Outras ações com fortes perdas, como as de petrolíferas, são de empresas cujos resultados apresentam declínio ou menor crescimento. “Está só começando a entrar na cabeça das pessoas que podemos ter um declínio dos lucros este ano”, diz David Kostin, estrategista de ações da Goldman Sachs Group Inc.
Mas quando o mercado reverteu a tendência, durante a tarde, quase todos os setores subiram e a Nasdaq saiu do território conhecido como “mercado urso”, que é caracterizado por uma queda de mais de 20% em relação ao ápice mais recente. A Nasdaq teve alta de 1%, encerrando uma seqüência de seis dias consecutivos de queda.
A alta das ações financeiras e de outros setores que são movidos por taxas de juros decorreu em parte da crença de que o Fed cortaria os juros novamente quando se reunir semana que vem. As ações das maiores incorporadoras imobiliárias, por exemplo, subiram 13% ontem. Normalmente as construtoras de imóveis residenciais são as primeiras a subir na bolsa quando o Fed começa a cortar or juros, porque as taxas das hipotecas também caem. Desta vez, com o mercado imobiliário numa depressão profunda, as ações das incorporadoras não haviam respondido aos cortes nos juros até ontem
Fonte: Valor