Sobram vagas em resseguros
A quebra do monopólio do Instituto Brasileiro de Resseguros (IRB-Brasil Re) no segmento de resseguros, e a conseqüente entrada de novas empresas, brasileiras e estrangeiras, no mercado, deixou à mostra a carência de mão-de-obra no setor. Com isso, as companhias de resseguros recém-instaladas no País foram buscar contratações em seus próprios clientes: as seguradoras. As empresas buscam executivos para todos os níveis hierárquicos, com salários variando de R$ 8 mil a R$ 25 mil. Segundo especialistas, a demanda seguirá aquecida até que o mercado se estabeleça.
Segundo Walter Polido, diretor técnico e jurídico da Munich Re, o panorama é fruto de uma relação de causa e efeito. A carência de profissionais no segmento de resseguros está diretamente relacionada ao monopólio que perdurou por 69 anos no Brasil, afirma. Ricardo Barcelos, gerente da divisão de seguros da Michael Page Brasil, concorda com Polido e acredita que o problema vinha se anunciando há tempos. Antes mesmo da abertura já havia essa preocupação, pois, historicamente, pouco se investiu na formação de novos profissionais, afirma.
A falta de mão-de-obra fica ainda mais evidente quando se descobre que apenas 16 instituições de ensino em todo o País oferecem o curso de ciências atuariais, formação exigida os profissionais que atuam diretamente na atividade fim de resseguros, embora executivos em cargos de direção ou atividades correlatas também tenham, em geral, formação em economia e engenharia. Para Barcelos, a evasão também é uma realidade. O mercado de resseguros é uma espécie de primo pobre do sistema financeiro. Muitos recém-formados optam por bancos, que oferecem salários mais altos.
Para atender a grande demanda por mão-de-obra, as resseguradoras instaladas no País encontram em seus próprios clientes a melhor fonte de bons profissionais. Com a carência do setor, a única alternativa foi buscar mão-de-obra em seus próprios clientes. A idéia é pegar um colaborador com perfil e formação semelhantes ao exigido pelo mercado de resseguros e investir forte em sua capacitação, afirma Beatriz Henning, diretora da Fesa, empresa especializada em recrutamento de altos executivos.
Segundo Beatriz, o momento atual se assemelha ao processo vivido pelo mercado de ações na década passada. Na ocasião, muitos bancos não possuíam profissionais voltados para as áreas de relacionamento com o investidor (RI) e abertura de capital das empresas, indo buscá-los em outros bancos. A seguir, os submetiam a treinamentos intensivos, às vezes até no exterior, num movimento similar ao que está sendo observado no segmento de resseguros atualmente, acredita.
Para Ricardo Barcelos, da Michael Page, trata-se de uma situação delicada. É complicado tirar um bom profissional de seu próprio cliente. Pode afetar os negócios. Outra alternativa é a repatriação de executivos brasileiros no exterior. Muitos clientes nos pediram para buscar profissionais em resseguradoras no exterior. Também houve uma caça por executivos latino-americanos, especialmente mexicanos, chilenos e argentinos, revela Barcelos
Por deter durante muitos anos o monopólio de operações de risco de crédito no País, o IRB-Brasil Re tem sofrido bastante com o assédio por seus colaboradores. Apesar das repetidas investidas e da eventual perda de talentos, o presidente do instituto, Eduardo Nakao, acredita que a empresa manterá seu lugar de destaque no mercado.
Tanto os resseguradores cadastrados quanto as corretoras de resseguro estão demandando o know-how dos funcionários do IRB-Brasil Re. Parte de nossos colaboradores pode até aceitar o convite, mas acredito que continuaremos como principal parceiro das seguradoras. Minha crença baseia-se na expertise adquirida ao longo dos anos, no contexto internacional atual, bem como na dedicação que vejo em quem trabalha aqui, afirma.
Fonte: Jornal do Commercio