Só quadro externo pode afetar trajetória de forte recuperação do PIB brasileiro
Salvo uma possível intensificação da crise europeia, talvez, passando por alguns processos de calote de dívida soberana em alguns países e consequente recrudescimento da crise global, o Brasil terá este ano o maior crescimento econômico em mais de 20 anos, superando 6% do PIB. A avaliação é do economista Ricardo Amorim, presidente da Ricam Consultoria.
Justamente pelas indicações de aquecimento da economia, o especialista está convencido de que o “Banco Central deve iniciar um processo de elevação da taxa básica de juros já na próxima reunião de abril.”A única possibilidade de o governo adiar o ciclo de alta dos juros seria um eventual calote na Europa antes deste encontro do Copom”. No caso do dólar, a tendência do câmbio nos próximos anos é de queda (e queda forte), caindo abaixo das mínimas anteriores à crise (R$ 1,55). Entretanto, havendo um recrudescimento da crise soberana dos países ricos, o dólar pode, a princípio, subir muito, passando de R$ 2,00, um nível que não se sustentará, repetindo o movimento ocorrido no final de 2008.”Em resumo, o cenário interno é muito tranquilo e favorável, apesar das eleições. Mas o cenáio externo ainda é bastante incerto, havendo riscos grandes advindos da condição muito frágil dos países ricos (demanda em queda, crédito em contração, desemprego em elevação, déficits fiscais enormes, política monetária ultraexpansionista, etc…). O que, confirmando-se, deve levar alguns anos para ser solucionado, na melhor das hipóteses, e que pode levar o mundo a passar por uma crise ainda mais grave que a do final de 2.008 e início de 2.009″, concluiu.
Professor da UFRJ e economista-chefe da Aster Asset Management, Ubiratan Iorio trabalha com uma taxa de crescimento da economia um pouco menor este ano, algo entre 4,5% e 5,5% do PIB. A recuperação deve ser puxada, sobretudo, pelos gastos do governo, mais frouxos em ano eleitoral. Em razão deste quadro, ele concorda que o BC deverá apertar a política monetária, retomando o ciclo de alta da taxa Selic (possivelmente em abril, segundo a última pesquisa Focus), para manter a inflação sob controle.
Este movimento, na sua avaliação, deve elevar a Selic, cuja taxa alcançará 11,5% ao ano em dezembro. O dólar, por sua vez, continuará dando sua contribuição para puxar a inflação para o centro da meta, tendo em vista que deve permanecer comportado. Para o economista, o dólar comercial deve situar-se na casa de R$ 1,80.
Como Ricardo Amorim, Ubiratan Iorio acredita que o ano de 2010 vai ser mais positivo para todos os setores econômicos, tendo em vista o cenário de recuperação e as bases comprimidas de 2009, ainda sob os impactos da crise financeira mundial. “O plano externo ainda é confuso. Nos EUA, a perspectiva é de alguma recuperação da economia, mas com uma taxa pífia, em torno de meio ponto. Na UE, o quadro é mais complicado, tendo em vista o forte endividamento de alguns de seus signatários, como, por exemplo, Portugal, Espanha, Grécia. Por causa disso, é mais provável que a região da UE continue em recessão também em 2010. Para o economista, a recuperação mundial se dará em W(altos e baixos) e 2011 deve ser um ano crítico para o mundo. Existe o risco de uma forte retomada da inflação, uma consequência direta dos juros básicos muito reduzidos em vários países.
Fonte: Viver Seguro