Sistema bancário paralelo atinge US$ 517,7 bi no Brasil, diz FSB
O sistema bancário paralelo (“shadow banking”) no Brasil alcançou US$ 517,7 bilhões em 2015 e é um dos maiores entre os emergentes, por uma estimativa estrita, mostra o Conselho de Estabilidade Financeira (FSB, na sigla em inglês), em relatório publicado ontem na Basileia, Suíça.
Por esse conceito estrito, os ativos dos intermediários de crédito fora do sistema bancário tradicional no Brasil sofreram queda de 26,5% em relação a 2014, quando alcançaram US$ 704,9 bilhões. Mas essa redução ocorreu por causa da forte desvalorização do real em relação ao dólar (a moeda americana passou de R$ 2,65 na média, em 2014, para R$ 3,96 no fim de 2015). Em termos reais (descontado câmbio e inflação), o setor manteve atividade estável no país.
O FSB chega a sua medida estrita de “shadow banking” classificando os intermediários fora do sistema bancário em cinco funções econômicas, cada uma envolvendo riscos tipicamente bancários, como alavancagem, liquidez, rolagem de vencimentos e transferência de risco de crédito. Existe preocupação também com suas conexões com os bancos, por implicar eventual transferência de riscos desse segmento para o sistema bancário tradicional.
Os tipos de entidades classificadas nas funções econômicas incluem certas entidades envolvidas na gestão de esquemas de investimento coletivo (fundos money market, de renda fixa, hedge funds, fundos imobiliários); empréstimos dependentes de financiamento de curto prazo (companhias financeiras, de leasing, de factoring, de crédito ao consumo); intermediação de mercado dependente de financiamento de curto prazo ou de financiamento garantido de ativos de clientes (broker e dealers, companhias de securitização); facilitação da criação de crédito (empresas de seguros de crédito, garantidores financeiros, e seguradoras “monolines” que garantem títulos); e intermediação de crédito baseada em securitização (veículos de securitização, veículos estruturados e títulos mobiliários lastreados em ativos).
O FSB dá ênfase ao conceito estrito, pelo qual globalmente a atividade de “shadow banking” foi de US$ 34 trilhões em dezembro de 2015, uma alta de 3,2% comparado ao ano anterior e equivalente a 13% dos ativos totais do sistema financeiro e a 70% do PIB das 28 jurisdições examinadas.
Pelo conceito amplo, incluindo “outros intermediários financeiros” (OFIs, na sigla em inglês), o “shadow banking” alcançou US$ 92 trilhões, ante US$ 89 trilhões em 2014. As OFIs cresceram mais rapidamente que o PIB na maioria dos países, particularmente nas economias emergentes.
O FSB não informa qual o tamanho do “shadow banking” na China pela medida estrita, mas deve ser bem maior que no Brasil. Na Coreia do Sul, foi de US$ 707,9 bilhões. Já em outros emergentes é menor que no Brasil: na Índia foi de US$ 435,8 bilhões, na Rússia chegou a US$ 62,2 bilhões, no México foram US$ 70 bilhões e na Argentina, de US$ 30,1 bilhões.
Pelo conceito amplo, o sistema bancário paralelo no Brasil alcançou US$ 910 bilhões, também em queda em relação aos US$ 1,240 trilhão de 2014. Na China, passou de US$ 5,8 trilhões, em 2014, para US$ 7,6 trilhões em 2015.
Mark Carney, presidente do FSB, diz em comunicado que o sistema paralelo fornece diversificação importante de fundos para a economia real, e que é importante seu monitoramento contínuo para evitar riscos no sistema financeiro.
Klaas Knot, presidente do comitê de avaliação de vulnerabilidades no FSB e também presidente do Banco Central da Holanda, acrescenta que o “shadow banking”, por sua natureza, sempre se adapta a novos ambientes. E é importante identificar novas fontes de vulnerabilidade sistêmica.
O FSB diz não ter identificado novos riscos no “shadow banking” que exigiriam regulação adicional, globalmente. Mas, diante das novas formas que essa atividade deve se desenvolver no futuro, o FSB manterá forte vigilância nesse segmento.
Fonte: Valor