Sinistro dispara no comércio exterior
A onda de calotes no comércio exterior por causa do enxugamento do crédito na economia global está forçando as empresas que operam com seguro de crédito à exportação no País a rever estratégias. Diante da disparada de quase 100% dos sinistros no acumulado do ano passado, as principais seguradoras do segmento decidiram aumentar em até 30% o valor das apólices e reduzir drasticamente a capacidade de cobertura, obrigando principalmente os novos clientes exportadores a contratar um seguro parcial e assumir fatia maior do risco em caso de inadimplência por parte do importador.
O índice de sinistros saltou de 66% de janeiro a novembro de 2007 para 96% no mesmo período do ano passado, de acordo com os dados mais recentes da Superintendência de Seguros Privados (Susep). Enquanto o mercado movimentou R$ 30,603 milhões em comercialização de apólices em 2008, a ocorrência de sinistros chegou a R$ 29,441 milhões. Somente de outubro para novembro, com o agravamento da crise financeira internacional, os sinistros subiram de R$ 1,366 milhão para R$ 4,693 milhões – variação superior a 240%. O cenário sombrio motivou a maior seguradora do ramo no País a endurecer sua política de classificação de risco no mundo inteiro. A francesa Coface, controladora da Seguradora Brasileira de Crédito à Exportação (SBCE), cancelou a emissão de novas apólices para cobrir transações com a Argentina e vendas na área da construção civil com destino aos Estados Unidos. Os dois países são os principais parceiros comerciais do Brasil, com peso de mais de 20% no volume de exportações, que somou R$ 45 bilhões em 2008. “Não queremos mais elevar nossa exposição na Argentina. No caso dos Estados Unidos, tivemos muitos defaults e estamos restringindo operações na área de construção. De uma forma geral, todo o setor que é dependente de crédito e liquidez, como varejo, é diretamente afetado. Não estamos completamente fechados para os EUA, mas a probabilidade para aceitar um risco é mais baixa”, revela Daniel Nobre, diretor comercial da Coface, destacando que a seguradora conta com boa agilidade para detectar as condições financeiras dos importadores por manter ampla estrutura de análise e cobrança em 93 países. Compartilhar é preciso Segundo Nobre, o contexto de calote no comércio exterior aumentou em 25% a frequência de sinistros da Coface e também incrementou a severidade das indenizações, que ficaram mais custosas para a seguradora. Por isso, a companhia adotou a prática de compartilhamento do risco com o segurado. Uma apólice regular de seguro de crédito à exportação prevê cobertura de até 90% dos riscos comerciais com prazo de faturamento de até 180 dias, com os 10% restantes a cargo do exportador. O procedimento passou por revisão a partir setembro do ano passado. “Pelas boas condições do mercado tínhamos visão do seguro como instrumento de transferência do risco para vender mais apólices. Agora estamos tentando disseminar um novo produto: assumo parte do risco desde que haja monitoramento constante em troca de uma proteção parcial em caso de sinistro.” Por contar com 200 apólices pulverizadas por vários setores, o executivo explica que as carteiras herdadas da conjuntura favorável não terão redução dramática. “Não é uma decisão punitiva. A situação nos força a compartilhar. Para os novos clientes, com carteiras e histórico que não conhecemos, a média de aceitação do risco fica em torno de 50%. Já a margem para os segurados da casa é bem maior”, conta Nobre. Executivos da Mapfre Seguradora de Crédito à Exportação e da Crédito y Caución, outros players importantes do setor, informam que não modificaram a capacidade de cobertura dos riscos, mas são obrigados a aumentar os preços do seguro por conta do cenário atual e incrementar restrições de transações envolvendo os setores mais atingidos pela escassez de crédito. “Estamos incrementando a taxa média do seguro entre 20% e 30%, mas avaliamos o risco de cada caso, cada setor ou país. Para apólices da construção civil nos EUA, o aumento pode ficar acima de 30%. Apesar disso, o seguro se torna cada vez mais imprescindível e acreditamos que o setor vai crescer”, afirma Jesús Angel Victorio Cano, da Crédito y Caución, que iniciou suas operações no Brasil em junho do ano passado. Rogério Vergara, da Mapfre, vê espaço para os prêmios do seguro de crédito à exportação triplicarem em 2009. Para suplantar os riscos atuais, a seguradora espanhola determina o pagamento de uma franquia pelo segurado nos sinistros iniciais. Para o economista Lauro Faria, consultor da Escola Nacional de Seguros (Funenseg), o governo deveria conceder incentivos ao segmento, assim como no seguro rural
Fonte: CQCS