Setor se frustra com a saída de Marcos Lisboa do IRB
A principal preocupação do mercado de seguros e de resseguro com a demissão
ontem de Marcos Lisboa, presidente do IRB Brasil Re, era o temor da volta do
órgão à esfera dos escândalos de manobras políticas, na qual esteve
envolvido desde abril de 2005, com a divulgação do esquema mensalão. “Ano
eleitoral e o IRB sem presidente. Isso pode ser ruim para o setor, que há
pouco tempo esteve envolvido em pagamento de comissões a partidos políticos
e também de indenizações que estão sendo investigadas”, disseram executivos
do setor ouvidos por este jornal, que preferiram não ser identificados.
Além do risco de desgaste de imagem do IRB, o setor se ressente de não ter
conseguido implementar a abertura do setor de resseguro, em pauta desde
1996. Lisboa, ex-secretário de Política Econômica, comandou no Ministério da
Fazenda os termos finais do projeto de abertura, que se encontra hoje para
votação no Congresso. “Neste ano sabemos que não sairá nada, principalmente
porque foi retirado o caráter de urgência do projeto”, disseram.
Os mais otimistas argumentam que não é um projeto de Palocci ou de Lisboa.
“A abertura é um projeto do governo e por isso deve continuar caminhando”,
defendem. Outros, mais pessimistas, informam aos acionistas estrangeiros,
para os quais o governo vinha prometendo a abertura, de que o assunto deverá
voltar a ser discutido em de 2007.
Lisboa foi convidado pelo ex-ministro Antonio Palocci para fazer uma reforma
no IRB e resgatar a credibilidade do único ressegurador autorizado a operar
no Brasil. O desafio foi aceito e Lisboa assumiu o comando do IRB em junho
de 2005. Depois de várias medidas que trouxeram transparência, governança e
flexibilização da contratação de resseguro no exterior, era certa a intenção
de Lisboa de deixar o comando. Em rodas de amigos ele dizia que a sua missão
estava cumprida. Permaneceu no cargo até a saída de Palocci, ficando livre
agora para fazer carreira na iniciativa privada.
Há dois meses, segundo executivos do setor, o presidente da Porto Seguro,
Jayme Garfinkel, foi ao Rio para convidar Lisboa para presidir a financeira
da Porto, que em breve deverá se transformar em banco. A Porto informou que
a informação não procede.
Há um certo pessimismo, baseado na história. Na troca do governo Collor, em
1992, o IRB ficou mais de nove meses sem presidente, pois o novo governo
tinha outras prioridades. O mesmo aconteceu quando saiu Fernando Henrique
Cardoso e entrou Lula. Seis meses para o ministério de Fazenda nomear Lídio
Duarte, funcionário de carreira do IRB, indicado pelas seguradoras, cujo
Bradesco é o maior acionista privado com participação das ações
preferenciais, sem direito a voto. As ações ordinárias pertencem ao Tesouro.
“Não sabemos quem está na mesma linha do Guido Mantega, novo ministro da
Fazenda. Mas acreditamos que o atual vice-presidente, que já era cotado para
assumir o cargo com o desejo de Lisboa de deixar o IRB desde dezembro, seja
nomeado”, informaram os executivo.
A diretoria colocou o cargo a disposição. O único nome certo de deixar o
cargo era do diretor técnico, Cézar Saad, que há meses ensaiava a sua saída.
O vice-presidente do IRB é Alberto Pais, ex-Banco Central.
Fonte: Gazeta Mercantil