Setor de seguros avança com personalização, confiança e concorrência maior
O Valor trouxe, nesta segunda-feira (30), a tradicional revista de seguros com 28 matérias sobre os diversos temas do setor. O mercado de seguros está entre os que exibem crescimento constante e expressivo nos últimos anos.
Em 2024, a expansão nominal de 12,2% na arrecadação, de R$ 751,3 bilhões, superou a de sinistros, com alta de 7,8%, e veio diversificada pelos vários ramos dessa indústria que promete, para 2025, desempenho semelhante, com alta de dois dígitos. “O ano foi muito positivo para a indústria. A sociedade aumentou a percepção da necessidade do seguro, tanto pelos efeitos da pandemia quanto pelos eventos climáticos e pela conjuntura econômica favorável, somada às ações das seguradoras de diversificação de produtos, de linhas de atuação e de canais, além da entrada de empresas no mercado e do aumento da digitalização”, diz Dyogo de Oliveira, presidente da CNseg.
UM SETOR EM EBULIÇÃO
Por ser um setor extremamente pulverizado, não há um ranking das maiores corretoras de seguro no Brasil, a exemplo do que existe entre as seguradoras, embora as estatísticas extraoficiais apontem que as primeiras posições estejam com aquelas diretamente ligadas a instituições financeiras. Mas as corretoras independentes mostram que têm apetite para disputar o mercado e alterar esse cenário nos próximos anos.
MARCO LEGAL DE SEGUROS
Um dos principais desafios do setor de seguros em 2025 é, sem sombra de dúvidas, a adaptação à nova Lei nº 15.040/2024, conhecida como Marco Legal dos Seguros, que representa a maior reforma do setor segurador nas últimas seis décadas. “A nova lei revoga os dispositivos do Código Civil que tratavam do contrato de seguro, foi discutida com todos os os atores do setor e tem o objetivo de modernizar e aprimorar as regras dos contratos de seguros, conferindo mais segurança jurídica às transações e aproximando o Brasil de países com regulação moderna, como Alemanha, Japão e Reino Unido”, afirma Alessandro Octaviani, titular da Susep.
MARCO LEGAL RESSEGUROS
O novo Marco Legal dos Seguros (Lei nº 15.040/2024), que entra em vigor em dezembro, e a alta na taxa de juros do Brasil têm potencial de mexer no atual equilíbrio de forças entre as empresas locais e as internacionais no mercado de resseguros, avaliam executivos do setor. Em 2024, o mercado brasileiro de resseguros somou R$ 26,05 bilhões, com um crescimento de 4% em relação ao ano anterior. Desse total, as empresas locais – nacionais e multinacionais constituídas no Brasil – ficaram com a maior fatia: 54,5% .
COOPERATIVAS
O setor de seguros se prepara para uma mudança estrutural com a entrada em vigor da Lei Complementar nº 213/2025, que regula a atuação de cooperativas e associações de proteção patrimonial como operadoras de seguros. A legislação, sancionada em março e atualmente em processo de regulamentação pela Susep, abre espaço para novos modelos de negócio em um mercado historicamente concentrado.
CRÉDITO DE CARBONO
Os cálculos feitos pelo setor de seguros estimam que tal obrigação legal pode movimentar algo ao redor dos R$ 9 bilhões. “Essa obrigação coloca em risco a solvência das empresas e é, na prática, inexequível”, afirma Alexandre Leal, diretor técnico de estudos e relações regulatórias da CNseg.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
A conta das mudanças climáticas chegou. Enchentes, secas e vendavais vêm elevando a sinistralidade e forçando o setor de seguros a rever estratégias e preços. No Brasil, o desafio é maior: com baixa penetração e poucos dados históricos confiáveis, as seguradoras enfrentam dificuldade para mensurar riscos, fazer a precificação e oferecer proteção efetiva à população. “Sem ampla base de segurados, há mais seleção adversa e prêmios altos. A falta de dados dificulta o aprimoramento dos modelos atuariais”, explica Cláudia Prates, diretora de sustentabilidade da CNseg.
INCÊNDIOS
Responsáveis por intensos prejuízos causados ao meio ambiente, à sociedade e à produção agrícola brasileira, os incêndios mobilizam atenções do mercado segurador e do poder público, diante das previsões de temperaturas acima da média em várias regiões, especialmente na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal. Espera-se, ainda, menos chuva nessas regiões, dada a menor intensidade prevista para o fenômeno La Niña.
FUNDO EMERGENCIAL
a devastadora enchente no Rio Grande do Sul no fim de abril de 2024 estabeleceu um novo patamar de riscos, tornando evidente que as mudanças climáticas estão intensificando eventos extremos e aumentando prejuízos decorrentes de alagamentos, deslizamentos, secas e queimadas. A CNseg, entidade que representa as seguradoras, vem trabalhando para criar um seguro social contra catástrofes.
LETRAS DE SEGUROS
É comum no cotidiano de grandes empresas que elas sejam alvo de processos dos mais variados tipos: trabalhistas, fiscais e administrativos. Ao começar o julgamento da causa, o juiz pede um valor como garantia. Mas esse valor pode ser substituído por apólices de seguradoras, cujo sinistro ocorre se a empresa não cumprir as obrigações previstas.
RIO GRANDE DO SUL
Já faz mais de um ano que o Rio Grande do Sul enfrentou uma das piores enchentes de sua história, em abril e maio de 2024. Ao longo daquelas semanas, chuvas e inundações afetaram mais de dois milhões de pessoas – foram 183 mortes, 478 municípios impactados e estimativas de prejuízos que vão de R$ 89 bilhões a R$ 100 bilhões.
DIGITALIZAÇÃO
O uso intensivo de dados e a digitalização da jornada do cliente – da contratação e atendimento à gestão de riscos – vem transformando o setor de seguros, mas inovar em um mercado altamente regulado não é fácil. Para abrir espaço aos novos entrantes, a Susep criou o Ambiente Regulatório Experimental, ou Sandbox Regulatório, que está em sua terceira edição, no qual empresas selecionadas podem testar produtos e modelos de negócio.
OPEN INSURANCE
O sistema digital para a conexão de consumidores a instituições dos mercados de seguros, previdência privada e títulos de capitalização deve chegar em 30 de junho a um ponto nevrálgico. Nesse dia, o sistema de seguros aberto, ou open insurance (Opin), conclui sua terceira fase sem que as primeiras transações entre clientes e seguradoras possam ser efetivadas.
CONCORRÊNCIA E TECNOLOGIA
A movimentação no mercado de seguros para automóveis promete manter a competição em alta em meio à necessidade de novos modelos de negócios e de entendimento do atual perfil do consumidor. Para ter sucesso, as seguradoras vêm aumentando os investimentos em tecnologia digital, inteligência artificial (IA) e outras ferramentas que proporcionem apólices bem mais customizadas. O otimismo, por sua vez, permanece, com previsões de expansão de 4,3%, nos cálculos da CNseg.
INSURTECH
Segundo o estudo Latam Insurtech Journey, apoiado pela Mapfre, a América Latina tem 502 insurtechs, 206 delas no Brasil, onde o índice de mortalidade do segmento despencou de 12% para 7%. Esse desempenho foi apoiado por iniciativas regulatórias, como o funcionamento de intermediárias para oferecer e distribuir produtos em nome de seguradoras (MGAs) e a criação do sandbox para novatas testarem produtos.
CUSTOMIZAÇÃO DOS PRODUTOS
A movimentação no mercado de seguros para automóveis promete manter a competição em alta em meio à necessidade de novos modelos de negócios e de entendimento do atual perfil do consumidor. Para ter sucesso, as seguradoras vêm aumentando os investimentos em tecnologia digital, inteligência artificial (IA) e outras ferramentas que proporcionem apólices bem mais customizadas.
PREVIDÊNCIA PRIVADA
A previdência privada aberta vivenciou, durante 2024, um dos melhores anos em termos de captação líquida, com crescimento de 41,2%. No ano, os novos aportes em planos do tipo superaram os resgates em R$ 60,8 bilhões. A tendência de alta se manteve até janeiro deste ano, porém os ventos mudaram ainda no primeiro quadrimestre de 2025.
POPULAÇÃO MAIS CONSCIENTE
Marco Yamada, advogado no escritório Mandaliti, enxerga a população mais conscientizada sobre a importância da poupança previdenciária. “A incorporação de tecnologia no relacionamento com o cliente tem sido elemento-chave nessa trajetória. Outro avanço é o papel da previdência como vetor da educação financeira, com a contratação crescente de planos voltados à formação educacional de crianças e jovens”, diz.
SAÚDE
O setor de saúde suplementar no Brasil vem apresentando recuperação financeira significativa desde meados de 2024. Dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), divulgados em 3 de junho, mostram um lucro líquido expressivo das operadoras de planos de saúde. Nos primeiros três meses de 2025, foram R$ 7,1 bilhões, um salto de 114% em comparação com o mesmo período do ano anterior. Esse valor corresponde a 7,7% da receita total de R$ 92,9 bilhões. É o maior resultado líquido da série histórica desde 2018.
CAPITALIZAÇÃO
Durante muito tempo, os títulos de capitalização foram vistos apenas como produtos de sorteio. Isso mudou. Impulsionados por mudanças regulatórias recentes, esses títulos passaram a cumprir função estratégica no mercado: servir como garantia em contratos públicos, financiamentos e operações de crédito, seja para pessoas físicas ou jurídicas.
MICROSSEGUROS
Um profissional autônomo sofre um acidente de trânsito, fratura a perna e precisa passar por cirurgia. Durante a recuperação, fica impossibilitado de trabalhar e enfrenta dificuldades financeiras. Por sua vez, o falecimento de uma pessoa idosa costuma ser um momento difícil para a família, que, além da dor da perda, tem que lidar com os custos do funeral.
PODER FEMININO
A participação da mulher na contratação de seguros deu um salto nos últimos dez anos em quase todos os ramos individuais, mostrando uma tendência que chama a atenção das seguradoras. Em alguns segmentos, como vida, previdência e residencial (de propriedade), os avanços são acima de dez pontos percentuais e ultrapassam a representatividade dos homens no bolo total, o que é atribuído ao maior protagonismo feminino como chefes de família, em posições de liderança no trabalho e no empreendedorismo.
SEGURO RURAL
A área coberta pelo Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) havia quase triplicado entre 2018 e 2021, elevando-se de 4,625 milhões para 13,676 milhões de hectares. Mas recuou vigorosamente no ano passado, para 7,168 milhões de hectares, passando a representar 7,6% da área plantada em todo o país, ante a 16,3% em 2021.
SEGURO CELULAR
Os celulares se tornaram peça-chave no dia a dia das pessoas, mas a contratação de seguro que protege os aparelhos ainda é baixa. Hoje, cerca de dez milhões de aparelhos estão segurados, segundo a FenSeg. Mas a estimativa é que existam 265 milhões de celulares no Brasil, segundo dados da Anatel.
SEGURO GARANTIA
O seguro garantia para obras com cláusula de retomada vem ganhando espaço no mercado, especialmente em Estados como Mato Grosso, Goiás, Paraná e Pernambuco, além do Distrito Federal, que já incluem a modalidade em suas licitações. Alguns, como Mato Grosso e Goiás, reduziram o valor mínimo da empreitada – originalmente estipulado na nova Lei de Licitações.
SEGURO DE VIDA
Após crescer 16,2% no ano passado, totalizando R$ 72,69 bilhões em prêmios recebidos pelas seguradoras, as vendas de seguro de pessoas mantiveram o ritmo no primeiro trimestre deste ano, ao expandir outros 8% sobre janeiro a março de 2024, com um faturamento de R$ 18,5 bilhões, segundo dados da Susep, tabulados pela Fenaprevi.
EMBEDDED INSURANCE
“Essa tendência está relacionada a uma mudança no comportamento dos consumidores, que passaram a valorizar mais a durabilidade e proteção dos bens adquiridos, principalmente eletrodomésticos, eletroportáteis e móveis”, diz Sidemar Spricigo, presidente da comissão de seguros gerais afinidades da FenSeg e e diretor de parcerias da Zurich.
SEGURO TRANSPORTE
Mais investimentos em tecnologia e planos de gerenciamento de risco alinhados ao tipo de carga movimentada são as principais ações estratégicas de seguradoras e empresas transportadoras para conter os avanços da criminalidade e dos acidentes nas rodovias brasileiras, que têm impacto direto nos programas de seguros de transporte no país.
SEGURO CIBERNÉTICO
Depois de executar uma decolagem de urgência, pressionado pela explosão dos ransomware (programas maliciosos), em 2017 e 2018, e pela pandemia de covid-19, de 2020 a 2022, o mercado de seguros cibernéticos entrou em um período de amadurecimento na conscientização dos riscos e na contratação do serviço. As empresas, no entanto, precisam acelerar a velocidade de maturidade em cibersegurança para enfrentar a forte turbulência que se avista no horizonte com a chegada da inteligência artificial (IA).
Fonte: Sonho Seguro, com informações do Valor