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Setor de autopeças trava acordo automotivo

O estímulo à entrada de autopeças importadas é o principal impasse dentro da indústria nas discussões do acordo automotivo do Mercosul, que terá mais uma rodada de negociações hoje no Rio de Janeiro. O governo brasileiro mostra-se mais voltado à idéia dos fabricantes de componentes locais, que querem a listagem de produtos a serem beneficiados, em contraponto à posição das montadoras, defensoras de um redutor na alíquota do Imposto de Importação para todas as peças fabricadas fora do Mercosul.
Elizabeth Carvalhaes, uma das principais negociadoras das montadoras, explica que a idéia de fazer uma lista não é prática. Nossa indústria é muito dinâmica e as peças mudam a cada novo projeto`, explica a executiva.
Ainda ontem, representantes do setor de autopeças se mobilizavam na proposta que pretende fixar uma relação de componentes que não têm similar na indústria nacional. Essa lista serviria, segundo essa idéia, para indicar quais produtos podem entrar no Mercosul com redução tributária. O prazo para que Brasil e Argentina cheguem a um acordo sobre o novo regime automotivo expira em 30 de junho.
Ao contrário do que pedem as montadoras, o governo brasileiro não vê muitas possibilidades de que o país continuar a aplicar o redutor de 40% para o Imposto de Importação de autopeças no novo acordo automotivo em negociação com a Argentina. Esse redutor já provocou polêmica no setor no início do ano.
Acho difícil manter o redutor`, avalia o secretário do Desenvolvimento Indústria do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Antônio Sérgio Mello. Coordenador das negociações com a Argentina, ele explica que é preciso manter a simetria com o país vizinho, que deixou de utilizar o redutor.
O governo defende a proposta de reduzir as tarifas de importação para os produtos que não possuem similar dentro do bloco. `É preciso baixar as tarifas para trazer competitividade e desonerar o investimento, mas sem prejudicar a indústria de autopeças`, diz. Ele reconhece que é complicado delimitar a lista de produtos, mas diz que montadoras e autopeças estão trabalhando no assunto.
De acordo com Mello, o governo brasileiro vai insistir na reunião de amanhã com os argentinos na fixação de um prazo para o livre comércio entre os dois países no setor automotivo. Na última reunião com os argentinos, o Brasil sugeriu o ano de 2010. `Se você esperar as condições ideais para o livre comércio, elas não virão`, diz. A indústria de veículos e de autopeças instalada no Brasil também concorda com a necessidade de fixar uma data para a abertura das fronteiras.
Mello frisa que o acordo automotivo tem que buscar uma `lógica de longo prazo, que deixe o caminho desobstruído para o investimento`. Ele ressalta que é necessário criar as condições para acordos de livre comércio com outras regiões como União Européia, África do Sul.
Elizabeth Carvalhaes explica, ainda, que a região precisa trabalhar como um bloco para enfrentar as negociações com outras regiões, como a União Européia, que promete trazer uma das discussões mais difíceis para futuros tratados de intercâmbio comercial.
Mello destaca que as condições conjunturais entre Brasil e Argentina mudaram. Ele explica que a economia argentina está crescendo mais rapidamente que a brasileira. O câmbio também é favorável na Argentina para os exportadores com o peso desvalorizado em relação ao real. Essa conjuntura ajuda o país vizinho a atrair investimentos. `Esses fatores têm que ser levados em conta no novo acordo`, diz.
O negociador brasileiro reconhece, porém, que existem assimetrias entre os dois países, por conta da escala de produção e da estratégia adotada pelas montadoras. Enquanto o Brasil produz 2,4 milhões de veículos, a Argentina fabrica apenas 300 mil. O Brasil se especializou em produtos populares, que ganharam a preferência do mercado. Já a Argentina produz carros médios.
Os representantes da indústria no Brasil também trabalham para que o coeficiente que limita a proporção que a Argentina pode vender ao Brasil e vice-versa sem imposto de importação seja por setor. Hoje, o Brasil pode exportar com isenção até US$ 2,6 para cada US$ 1 que compra em automóveis e autopeças argentinas. A relação do que a indústria chama de `flex` vale para todo o setor.
Os argentinos tinham a intenção de fixar uma nova regra, por meio da qual o `flex` seria aplicado por empresa. A idéia é forçar as montadoras que deixaram de produzir veículos na Argentina, como a Fiat, a voltar a investir em linhas de montagem no país vizinho.

Fonte: Valor

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