Selic pode ameaçar ganhos de fundos DI
Os fundos DI estão entre as alternativas mais populares de investimento oferecidas por bancos e corretoras no país – representam 40% dos recursos aplicados em fundos por esse público. Seu rendimento tem forte aderência à taxa de retorno dos depósitos interbancários, os CDI que, por sua vez, estão atrelados à Selic. Além do perfil conservador do investidor, as incertezas do ambiente macroeconômico ajudam a alavancar esse tipo de investimento. Entretanto, diante da provável queda da taxa de juros, a dúvida é se essa continua a ser boa opção, já que a taxa de administração passa a representar parcela maior dos ganhos.
Na última reunião do ano, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, reduziu a meta da taxa Selic em 25 pontos base. O indicador passou de 14% para 13,75%. A partir de janeiro de 2017, a expectativa da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) é que o ritmo de queda dos juros se acelere, alcançando 10,50% no fim de 2017.
Na opinião de especialistas, os fundos DI ainda são opção interessante de investimento mesmo com queda na taxa de juros, desde que a taxa de administração seja razoável, ou seja, gire em torno de 0,5%.
“Esses fundos são considerados muito seguros, pois compram títulos públicos, alguns privados, indexados ao CDI ou à Selic de curto prazo. Analisando a poupança, que hoje rende a taxa nominal anual média de 8,30%, livre de imposto de renda, em comparação com a rentabilidade de um fundo DI de 10,85% ao ano, depois de pagar imposto e uma taxa de administração de 1% ao ano, ainda é interessante aplicar em fundos DI”, analisa Fernando Pavani, CEO e co-fundador da BeeCambio.
Segundo ele, com a nova regra da poupança, que reduz a rentabilidade para o investidor quando os juros Selic caírem abaixo de 8,5%, os fundos DI começam a perder competitividade, pois as rentabilidades da poupança e do fundo começam a ficar muito próximas, além do que é muito mais fácil aplicar na poupança do que escolher em qual fundo investir.
Ainda de acordo com dados da Anbima, a captação líquida da indústria de fundos de investimento atingiu R$ 89,7 bilhões até novembro de 2016, contra R$ 7 bilhões no mesmo período de 2015, com recuperação em relação aos últimos três anos. A categoria de renda fixa liderou as captações no período – o patrimônio líquido destes fundos cresceu e alcançou R$ 39,2 bilhões entre janeiro e novembro.
“O ganho real nesse ano foi menor do que no ano passado, que terminou com uma taxa de juros de 14,25% e uma inflação de 10,7%. Esse ano deve fechar com inflação de 7% e a taxa de juros está em 13,75%. Mesmo com a expectativa de queda na taxa de juros no ano que vem, o investidor que aplica em fundos de renda fixa não deve mudar seu comportamento”, avalia Roberto Indech, analista da corretora Rico, que prevê um ganho real maior se a inflação e a taxa de juros caírem em 2017 e ficarem, respectivamente, em 5,5% e 10,5%.
Na opinião de Telêmaco Genovesi, presidente da GGR Investimentos, a expectativa é que a taxa de juros chegue a 8,5% no final de 2018. “Ainda está longe e, talvez, seja uma perspectiva até utópica considerando o cenário político e econômico atual”, afirma.
Fausto Filho, gestor de renda fixa da XP Gestão, acredita que os fundos ainda vão manter a atratividade, mas os investidores têm de estar atentos e buscar fundos cujas taxas de administração sejam menores que 1%. “Quando a taxa de juros atingir um dígito, deve acender uma luz amarela para que o investidor comece a migrar seus ativos para fundos com taxas cada vez menores”, recomenda Filho.
Ernesto Leme, diretor comercial da Claritas Investimentos, faz a seguinte conta para mostrar as vantagens do fundo DI em relação à poupança: existem cerca de 400 fundos DI disponíveis no mercado que têm sob sua gestão por volta de R$ 906 bilhões. Somente 6% dos ativos não chegam a bater a poupança. “O investidor tem que buscar uma taxa de administração baixa, ou seja, inferior a 0,5%”, diz ele.
Fonte: Valor