Seguro rural cobre apenas 2% da produção agrícola do Brasil
Somente 2% de toda a produção agrícola no Brasil possui atualmente seguro contra problemas relacionados à natureza. Um mercado ainda incipiente, mas que começa a ganhar fôlego por conta do próprio aumento nos negócios e da importância que o segmento ganhou no mundo. Ao falarmos de seguro rural, pensamos basicamente em clima e mercado, mas, é importante fazer uma reflexão de um outro ponto de vista, definiu o reitor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), José Tadeu Jorge, na abertura do seminário Riscos e Gestão do Seguro Rural no Brasio. Para ele, as seguradoras devem olhar para a cadeia produtiva e identificar riscos também no pós-colheita, estendendo o seguro rural a todas as etapas do agronegócio, para evitar perdas e desperdícios da safra.
Estas discussões foram concentradas no evento promovido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que reuniu empresas seguradoras, instituições públicas, produtores e agentes do agronegócio, para apontar como a pesquisa pode colaborar nas definições de métodos quantitativos confiáveis para as avaliações do seguro rural. A Embrapa tem o maior interesse no assunto. O agronegócio gera 37% dos empregos brasileiros. No ano passado, obteve R$ 59 bilhões com a exportação. No panorama mundial, o Brasil responde por 86% das exportações de laranja, 39% do etanol, 40% na avicultura e 33% da carne.
Porém, é na agricultura que estão os maiores riscos. Pelo fato de ser um produto biológico, a produção está sujeita aos riscos da natureza. Por isso, a popularização do seguro se torna mais importante, já que de todos estes números que impressionam estão praticamente sujeitos à sorte em relação ao clima.
O negócio agrícola é composto de vários setores como a indústria de defensivos e máquinas agrícolas, que, cada vez mais, dependem do sucesso do empreendedor rural. Se o produtor não tiver suporte necessário para sua sobrevivência, todo o sistema entra em colapso e as renegociações da dívida rural afetam todos os setores e a todas as pessoas, porque atingem o Tesouro Nacional. A última negociação custou R$ 7 bilhões aos cofres públicos.
O presidente da Allianz Seguros, antiga AGF, Max Thiermann, afirma que já foram feitas tentativas de firmar o seguro rural no Brasil sem grande sucesso. Porém, há uma nova fase em função do crescimento do negócio agrícola no País que amplia os horizontes das operadoras. Além disso, novas áreas geográficas estão se incorporando à agricultura e se aproximando do seguro, que cobre catástrofes relacionadas à seca, chuva e praga, explica.
Thiermann afirma que ações governamentais são importante para dar impulso para o mercado de seguros no Brasil, como a criação de um mecanismo para a chegada de novas operadoras concorrentes no País, já que o Instituto de Resseguros do Brasil, criado há 69 anos, não tem capacidade para reter esse seguro no País. Apesar de esta medida começar a funcionar em abril, o processo demora de quatro a cinco meses para entrar definitivamente em operação. Depois tem outro indicador fundamental para o desenvolvimento que é a lei para ativar o fundo de estabilização do seguro rural, que é um fundo para as operadoras e o governo contribuírem para sinistros extremamente catrastróficos, mais ou menos igual ao que está acontecendo em outros países, como na China, que ficou alagada, lembra. O terceiro fator importante, segundo ele, é que o mercado de seguro rural no Brasil começou a ser conhecido há dois anos, e que isso vem impulsionando também o mercado.
Hoje, o seguro rural é destinado especialmente às culturas de soja, milho, algodão, cana-de-açúcar, florestas de eucalipto, pinus e outras espécies florestais. Além disso, há serviços para equipamentos agrícolas, pecuários e florestais adquiridos por meio de financiamento bancário. Do ponto de vista de receita, atualmente o seguro de carro é a principal fonte na Allianz, com 30% do total. A expectativa é de que o seguro rural apresente um crescimento rápido, pois tem um potencial muito grande. E hoje somente seis operadoras de seguro estão nesse mercado no Brasil, diz Thiermann.
Pesquisador nega existência de protecionismos no setor
De acordo com o pesquisador da Embrapa Pedro Abel Vieira, o mercado de seguros rurais começou a ser ampliado em 2005, quando o programa de subvenção do Ministério da Agricultura foi fundamental para o crescimento. O grande desafio atual é inserir definitivamente o produtor na atual economia financeirizada, fala. A participação do produtor rural no mercado de capitais ainda é tímida e, nesse caso, o seguro rural é um instrumento relevante. O pesquisador nega que o entrave para o crescimento do mercado de seguros no Brasil esteja relacionado ao protecionismo rural ou à falta de informação do produtor rural. Nossos subsídios são da ordem de 10 vezes menores que os subsídios norte-americanos, afirma. A questão central é que o seguro oferecido ainda não é atrativo aos produtores rurais e a compulsoriedade da contratação do seguro por ocasião do financiamento é mais um custo aos agricultores. Vieira garante que esse impasse passa inicialmente pela definição no modelo de seguro mais adequado, o seguro de produção ou o seguro de renda, questão que ainda carece de reflexão. Uma vez definido o modelo, há que se desenvolverem e implementarem ferramentas para gestão de risco na produção rural. Ele lembra ainda que muitas dessas ferramentas já estão disponíveis, porém, devido à falta de coordenação atual da cadeia do seguro rural, não estão sendo utilizadas. Assim, a questão central para o desenvolvimento do mercado de seguro rural é a falta de coordenação, declara. Cabe ao Estado, ao Ministério da Agricultura, liderar e coordenar o desenvolvimento. Conforme o pesquisador, mais importante que a mitigação do risco para o produtor rural, é o dinamismo que o seguro rural pode gerar para o agronegócio. É reconhecido que o crédito é a dínamo do capitalismo e que o crédito no setor agrícola é limitado por várias razões, pois, diferentemente da indústria, a agricultura é uma fábrica a céu aberto, afirma Vieira. O seguro agrícola pode contribuir significativamente para a ampliação também do crédito no setor.
Fonte: Correio Popular | SP